quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um dia qualquer



Sim, o Natal é um dia qualquer

E como em qualquer dia,
O sol cruzará o horizonte
Reinaugurando a vida, e das fontes
Brotarão água e poesia.

Pelas ruas do Bom Fim,
Mil vezes respirarás
Sem dar-te conta
E, sem dar-te conta
Serás mais sábio
E mais profundo.

Na Bela Vista verás
A Terra transformar-se
A cada giro
Que ela gira desde que
O mundo é mundo.

Sem dar-se conta,
No Parcão,
Surgirão mais flores
E, em silêncio,
Vingarão em frutos .

Crianças chegarão
Aos seus primeiros passos
Nas casas do Moinhos
E amores produzirão
Beijos, abraços,
E, (por que não?), alguns espinhos.

Sem que nos demos conta
Triunfará a vida,
A silenciosa,
E desapercebida,
Gerando mais vida em mutação,
Com átomos que não vemos
E cordas e dimensões
Que nós desconhecemos,
Em plena Redenção.

E aí repousa o Mistério
Deste Natal, como de qualquer um:
Os mais preciosos bens
Que em ti vivem, vivem por ti
Sem que nem te dês conta
De tão perenes, humildes e comuns.



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A verdade

A verdade:
Por ela já morreu um hebreu,
Um ateu, já se prendeu
Alguém como eu.

Por ela já se deu
Revolução, ou se desfez
O que esta fez,
Quebrando um muro
Aos murros.

Todo discurso burro
Pensa dizê-la,
(Ela, sobre a qual
O sábio cala).

E qualquer idiota
Quer ensiná-la
Com a força de um decreto
Ou de uma bala.

A verdade
Tão diversa,
E complexa,
E incompleta.
Tão pessoal
Como um impulso
Ou uma idéia.

A verdade é um ideal.

Se te impõem
Uma verdade,
Destroem-te
Algo de valor igual,
A liberdade.
(E é nisto que consiste
O Mal.)








sábado, 20 de novembro de 2010

À busca de Marcel

Sinto a luz coada pelo vidro baço
Tocar-me a alma mais que o braço,
E as cores, os perfumes, tomar um sentido
Que é como uma memória de já os ter vivido.
Onde já percebi este aroma suave
Que vem bater à porta da memória?
E aquela cor alaranjada
Que deixa de ser quase nada
E torna-se crucial evento de minha história?
E são os tons, toques de cor numa retina,
Ou, então, os sons: ventos e passarinhos,
As marcas de tantos anos e caminhos
A se mesclarem em uma poção divina.




Realidade

Os meus olhos perderam-se de ir
Seguindo a terra até onde ela termina:
Ali, o horizonte é a última esquina
E restam o abismo e o negror com estrelas.

Além, tudo se passa sem que a gente saiba
E somos observadores do que não sabemos.
Não cabemos no espaço onde o Todo caiba,
E é neste ínfimo intervalo que então vivemos.

É preciso olhar de novo para minha terra,
Nela reconhecendo o que sonha e erra,
Mas que, por ser meu igual, eu compreendo

Em toda dor e júbilo, prazer ou desgraça.
Somos plantas com raízes no que vem e passa,
Neste pequeno mundo, a seguir crescendo...







sábado, 30 de outubro de 2010

Para não dizer que não falei...versão 2010


Como dizia o velho Carlos,
A História só se repete como farsa.
Os companheiros tornaram-se comparsas,
Mudou a professora da USP: foi-se a economista
Que chorava, veio a filósofa irada.
Uns raros poetas ficaram, e alguns outros globais.

Mudaram os inimigos: a boa imprensa
Agora é fascista, e calunia.
Após longos oito anos de dirceus, genoínos,
Erenices, e toda a rede conhecida,
E a, talvez para sempre, desconhecida,
Entre cenas hilárias como o dinheiro
Nas cuecas, voltam sorrindo
Feito virgens vestais
Defensoras da democracia
Sem as quais, como disse o Rei-Sol,
O dilúvio, não Delúbio, adviria...

Oito anos de discursos idiotas,
Metáforas “que nem” má filosofia,
A história se repete, e o país,
Como de costume, dá de graça.

Crêem que cremos em tal farsa
(E impressiona, pois ainda há quem creia):
Pelas ruas de miséria sempre cheias,
Perambulam as crianças exploradas
Apesar de um estatuto que as protegeria.

Favelas em cósmica expansão,
Escolas da pior categoria.
Esmolas brasilienses não serão
Para o Brasil a terapia.

E o Rei a marginais se (nos) associa:
Um que planeja usinas nucleares,
Após amordaçar Venezuela;
Outro que mantém prisões políticas
Naquela ilha sempre mais raquítica
Por ideológica anemia;
Outro além, que à "adúltera" sacrificaria
E planeja varrer deste planeta
O antigo povo de Israel.

Se crêem, que seu voto deles seja,
Porém, atentos como o insone!
Se houver, da parte desta corte,
A idéia de nos calar a voz,
A História desta terra pede a nós
Que em algum momento do futuro
Desfaçamos, por favor, a espúria farsa.



sábado, 9 de outubro de 2010

Momento simples


Onde o ar expande-se mais amplo
Em brisa aberta sobre o campo,
Levando o fruto das lavandas,
Adiante, mais adiante,
O teu sorriso esboça-se: diamante,
Por que há a paz de andar e a de ser,
Eu sou feliz aí e neste instante.
Arándanos colorem a paisagem,
As vacas pastam em qualquer paragem,
Cavalos correm livres no horizonte,
A água brota de uma humilde fonte
E tu sorris num pôr-de-sol rubi:
Neste instante, eu sou feliz aí.

Ah! coisas simples, sumo desta vida,
Eu vos percebo quando sou feliz.







segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Akousate (Ancient Greek Music)




Ecôa em ti: escutas?
O som primal que vem no vento,
Na concha, na folha em movimento,
Na estrela e na galáxia
Na tua alma pelo sonho e pelo anseio,
No ritmo do mar?
O que te diz (diz a poesia):
-Ecoo em ti: me escutas?


sábado, 18 de setembro de 2010

Tempos 1

Houve um tempo em que a vida
Vinha como punhalada,
E o rosto do tempo era duro,
Uma escura veladura
De um quadro de Caravaggio.
Eu tinha, aqui, neste peito
Uma chaga dolorida
E havia uma doida varrida
Zanzando nas minhas ruas.
Eu lia então Pasolini,
Genet e o bom André Gide.

Depois me veio outro tempo
Em que do fundo do peito
Fluíram deuses e sonhos
Frutificando o meu cio,
Trazendo um rumo ao meu rio,
E dentro de mim revivi

Terras e tempos diversos.

Também fora eu os conheci
E estiveste comigo, amante,
Ao carvão tornar-se diamante,
(Estava também Marcel Proust).

Tu ainda segues comigo,
Namorando em Barcelona,
Embasbacando-se em Naxos,
E no grande frio, bem ao Sul.
Hoje me encantam o Espaço,
Os amplos campos e o dia,
Sigo lendo Thomas Mann,
Ciência e filosofias,
E vou ainda te amando,
E esboço vida e poesias.



Tempos

No tempo em que havia a Poesia
O dia era mais do que um dia:
Era algo inexplicável.
E teu corpo tocando o meu
Era a vida tornada imóvel.
Imóvel, imutável, indefinível, inalcançável:
Havia tantas palavras
Que sentimentos diziam
Quando havia a Poesia.

E agora, quando não há a Poesia
Como fala o sentimento?

sábado, 11 de setembro de 2010

Poesia fractal

Tamborilam gotas no telhado:
A chuva marca o ritmo do dia.
Na mente também ressoa um ritmo
Que vai dançando poesia,
Que vai lançando cantoria,
Que vai somando tons e dia,
Num som-de-fundo que se amplia.
Basta atentar-se ao silêncio
Para o som da alma vir a ser:
Gera-se o ritmo feito de palavras
E o que não havia vem nascer.
Nasce de uma estranha matemática
Em que o caos revela-se em fractais:
O que nós somos impregna-se nos versos
Mesmo que não saibamos o que ser jamais.





sábado, 4 de setembro de 2010

Metafísica

(Não há um caminho,
Há caminhos).

Viste passar por aqui
Aquela menina Vida?
Ela buscava por ti
Nas suas idas e vindas...

Ela passou por aqui
E ninguem lhe deu boas-vindas.

Mas não há uma vida,
Há vidas.

sábado, 21 de agosto de 2010

Como se fosse uma oração

Deus,
Ópio natural que me permite
Não depender de exógenas morfinas,
Venerável Desconhecido: meu anti-sentido,
Liberta-me da religião, a tua sombra.
Afasta-me dos idealistas
Que queiram moldar-me
Ao que eles crêem.
E dos que seguem um Livro Sagrado.
Liberta-me, Senhor,
Do líder, do guru e do pastor.

Ilumina minha crítica
E que, ao crer na Aparência
- A face de um fato -,
Eu saiba transcendê-la
E aprofundar-me no Real.

Tu, que dás vida a anjos e a vermes,
Liberta-me dos puristas e fiéis aos Partidos,
Crentes de que a Teoria é a Verdade.
E também dos bonzinhos revolucionários
Que, recorrentemente,
Dedicam-se a inventar a roda,
Acabando por amordaçar as liberdades.
São fantoches de fantoches de fantoches
De sei lá mais quem,
Que, ao fim, deve ser fantoche também.

(Mas, não sendo mais fantoche,
Que Eu não desmonte ao me livrar dos fios...)

Tu, senhor dos agnósticos,
Que, ao criar infinitos caminhos
Produziste as esquinas e,
Portanto, as incontáveis dúvidas,
Liberta-me do tormento
Das certezas absolutas.




domingo, 8 de agosto de 2010

O eterno exíguo (ou a memória)

Lenta, a memória acerca-se na mente,
É cheiro reconhecido, antiga voz a vibrar no ouvido e:
Visão!
Lá está o que era e ainda é
Pedaço do Universo onde eu fiquei
E a tua voz de então...
No peito entorna-se
Um calor de brasas:
Tu ainda aqueces minha casa,
Paixão.
Somos para sempre dois meninos,
Olhares dados e corpos atados
Mas mais que dois corpos,
Dois irmãos.
Será esta memória estar vivo
Num outro tempo que, embora exíguo,
É eternidade numa aparição?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um poeta

Disse-me o poeta:
Não esperes que eu seja raro,
Ou que diga palavras belas.
Sou uma coisa comum
Como um céu cheio de estrelas.
Passo em silêncio no mundo
Mesmo ao viver em palavras.
Sou como um brilho que cega,
E o barro que cobre a lava.
Sou e serei para sempre
Um distante e desconhecido:
Metade e o dobro do Homem,
O Completo e o Dividido.
Não me peças sabedorias
Pois o que eu tenho são versos:
Eu nada sei deste mundo,
Sou eu o meu Universo.

domingo, 18 de julho de 2010

Facetas do real

Silenciosa caverna, cova,
Paraíso onde enfurnar-se
No qual arqueia-se um teto:
O ancestral útero em disfarce.

Lá fora é frio e há neblinas,
Crianças esmolam nas esquinas,
Ainda, como aqui nos é fadado.
O povaréu desvaira em orgias
De coca, ruído, fumo e álcool,
E há o pivete que nos sequestraria.

Mas cá, aromas de café e pão na mesa,
Um coro entoa Bach para eu ouvir
Falo com Borges, Goethe e Pessoa,
Ou, se quiser, eu sonho Debussy.

Aqui, tomo o Caminho dos Guermantes,
Vou com Marcel redescobrir o Tempo,
Ou eu me lanço em precipício simbolista,
A decifrar, extasiado, a Mallarmé.

Aqui, ouso correr o risco imenso
De amar a vida assim como eu a queria
Posso dizer que te amo, ou o que penso:
Que o Homem é bom, que em tudo há Poesia.









sábado, 17 de julho de 2010

Um sonho

Do tempo, que nasce por que o espaço respira,
Vieste dizer-me que há mais do que eu via.

Estrela vestida de manto açafrão,
Voamos na noite da urbe dormente.

Cruzamos paredes de aço e cimento,
E entramos no Templo da Iniciação.

Falavas no cerne da minha caixa craniana
E era sem palavras que tu me dizias:

"Há um tempo sem tempo além deste tempo
E a vida é mais ampla se a alma se amplia".

Queria voltar contigo no tempo,
Queria manter-me para sempre no Templo,

Mas já era hora de arar, e o sol
Dourava teu manto, e tinhas de ir-te.

E assim tu partiste, e eu só e eu triste,
E eu a buscar te rever toda a vida.

Mas a tua imagem ainda ressoa:
De manto açafrão,
Grande alma, alma boa.


sábado, 3 de julho de 2010

antigo segredo

A vida que flui é a mesma que fica:
A flor que tu vês é uma flor e a Flor.

Os passos que dás são o Rumo e os teus passos
E os teus abraços são uns braços e o Amor.

Há mais que o que vês no que vês ou que és,
Há um fundo sem fundo que é como uma Fé,
Em qualquer momento fluente a passar.
Há todo o mistério do mundo no olhar.

Se olhas o breu que nos encima o céu
Com os olhos de ver já não verás o breu
Mas ninhos de estrelas em púrpura seda
E palcos de vida, e mais seda e mais céus.

E como nos céus, o infinito se esconde
Num grão de poeira, que é imenso qual um céu.

E este é um segredo que emana de tudo:
Se tu queres ver, há que retirar véus.

a gitana

Deixo o olhar preso numa roda de dança
Onde a gitana se enfurna em fundas cavernas
E o fogo crepita no meio de tudo.
Girando e girando, cantando e cantando.
Em torno há a secura de terra crestada
E mil oliveiras, e o breu entre estrelas,
Em torno há a vida e a morte, e em torno
Há todo o silêncio que escuta o cantar.
Perfumes de noite e de terra orvalhada
E o sabor do vinho e o vinho na mente
Ali estou eu num viver diferente,
Mirando a gitana em sua dança fremente.

Eterna memória para sempre vivida.

domingo, 6 de junho de 2010

!Ojo!

Nem tudo se relativize:
Entronar ao criminoso
É também crime.
Ser amigo do tirano
Também o é.
Eu te vi de mãos dadas
Com quem desfez Venezuela,
Dividindo um país,
A semear medo e silêncios.
Eu te ouvi cooptar
Com quem mantém Cuba
Atrás das grades...
Relativizaste
A verdade por ideologia,
A mesma que matou milhões de russos,
chineses,cambodjanos,
Atormentando homens
Ao limitar a liberdade.
-Delírio idealista que
espalha crueldades_.
Não nos é dado a tudo relativizar:
Conivente com o crime
És criminoso.
Que meu povo não o seja.

domingo, 2 de maio de 2010

Aos iniciados (pintores, porto-alegrenses e agregados)

Pensaram que a Redenção de Iberê
Fosse metáfora:seria, Iberê?
Mas,
Por ali ainda passeiam os ciclistas
E, nas alamedas, infiltra-se um sol
Com poesia e pinta no chão terroso
Deliciosas manchas como as de Monet
-tons amarelos em violáceo pano-
As quais Baril viu ser geniais.
As copas das árvores tecem filigranas
Em colunas de azul cerúleo.
Cães passeiam exibindo os donos e
Os garotos buscam mistérios onde já
Não os há, ou talvez, ei-los por lá,
Pois tudo, ou quase, depende do olhar.

Seria a Redenção uma metáfora?

Vida

Que a vida flua: lânguida luz lunar 
Ou raio suave de um sol de dentro, 
Que flua a vida botando broto em crescimento, 
Mente e corpo em movimento, 
Sentido em sentimento, ou, sem sentido, 
Que flua como som no meu ouvido: 
Declarações de amor em espanhol. 

 Que venha a vida como queira, a conhecida, 
A misteriosa, pedra mais preciosa. 
Que venha a que medra, a que espreita no vazio 
Até que surja a hora, feito um cio, 
E a tudo desabroche. 

 Que venha, apolínea e dionisíaca, 
A regrada e a sem regras, 
A lúcida e a doida, 
A que eu entendo, e a que eu nem sei sequer. 

Que fluas, vida, sempre nova 
E inesperada, fazendo um fogo 
No meu peito, deixando sêmen 
No meu leito, trazendo sonho 
Às noites e visões aos dias. 

 E sobretudo, vida, 
Quando já não houver mais jeito 
 Que me mates 

De poesia.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Igrejinha em Vivlos


Templo antiquíssimo,
Onde as almas dos avós
Proclamam ainda o amor do Cristo morto.
Igreja, porto
Aos que, barcos atingidos
Pelos ventos dos tempos modernos,
Buscam mirra, incenso, salmodias.

Vozes entrecruzam-se
Em colunas manuelinas
Recitando em grego antigo
As palavras divinas.

Igreja antiquíssima,
No alto do monte,
Diante dos tres moinhos
Que sustentaram a Vivlos pequenina.

Portal ao mundo arcaico,
Onde o Ícone vivo
Semeia e colhe
Em um homem
O Logos do Homem.





As cíclades


Cíclades
O barco vaga
Sobre ondas azuis,
Mar azul verdadeiro.
De Thira a Ios,
Até Siknos,
Folegandros, Milos,
Sifnos, palavras de poesia,
Lugares de beleza.
E o mar:
Esmeralda líquida
A mover-se
Com delicadeza.





sábado, 10 de abril de 2010

O talento de falar com talento


Só dirá que tudo vale quem desconhece valores...

Sempre haverá alguma alma de poeta,
À gauche, idealista, libertária
Que romantize a realidade
Levando-te a comprar gato por lebre.

Exaltará a favela (longe dela),
E a cultura nacional (lendo europeus),
Conclamará à luta (de um escritório),
E pregará um novo Sentido (sendo incréu).

Fará de um marginal o teu herói,
Confundindo os teus valores por não tê-los,
E pregará mudanças radicais.
Se não cuidas, ainda será o teu modelo

Até que a chuvarada desmantele
A beleza da miséria maquilada,
E o lixão que está sob o Carnaval,

Com uma torrente de jovens drogaditos,
E adolescentes grávidas, dopadas,
Frutos do amor do Talento com o Mal.



sexta-feira, 2 de abril de 2010

existência ou ideal

O melhor de nós talvez esteja
Nas coisas banais do dia-a-dia:
Na mão que toca, na boca que beija,
Nos restando entender sua poesia.

Ou, além do que existe aqui e agora
Algo de mais antigo e mais profundo
É o melhor de nós e a vida implora
Que o tornemos real: obra no mundo.

E a resposta é opção ou é destino?

sábado, 20 de março de 2010

O fluxo das palavras

Palavras formam corrente,
Rio de palavras, fluente.

Mas de onde me vêm as palavras?

De alguma alta montanha
Coberta de neve e silêncio,
De um cimo dentro de mim.
E estas palavras que descem
Buscando entregar-se ao mar
Matam as sedes que tenho
No esforço de me encontrar.

Poesias são sentimentos
Vestidos de som e ritmo,
E o dom do poeta é ser leito
Da própria alma a escoar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Bérgamo


Tênue memória de algo não vivido:
Debruçando-se, Bergamo, desde os Alpes,
Espalha-se ao longo da colina.
Lá está a praça onde o Leão nos mostra a Lei
E, atrás, a catedral em pedra rosa.
Logo adiante, de novo, a neve alpina.

Vielas medievais, frio que me falta.

Com és minha, Bergamo antiga,
Cidade Alta.

domingo, 3 de janeiro de 2010

O vazio



Silêncio, idéias, sussurrem apenas,
Balbuciem o novo.

Silêncio, memórias, venham suaves,
Usando pantufas.

Que eu quero calma a mente,
Viva feito gato ao sol, cão dormindo, bebê olhando
A luz da casa pela vez primeira.

Quero este nirvana aquém (além) do pensamento
E da luta,
E sem pílula, fumaça ou poção
Posso abordá-lo,
Sem qualquer esforço posso
Penetrá-lo pois ainda sou
Animal.