terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Karen




O tempo nos prepara e nos revela
Fazendo do que temos o que somos:
Tudo o que há no fundo vem à tona,
Todo mistério que há deixa de sê-lo.

O tempo nos separa e nos revela
A forma de estar juntos na distância,
De modo a perceber som e presença
No silencioso espaço das lembranças:

Permanecemos nas longínquas tardes
Trocando idéia, a decifrar sonho e poema
No tempo-espaço nosso: os nossos temas.

Burlamos estes limites quando somos
O Único que só aparenta estar cindido
Mas que, ao lembrar, desperta renascido.



sábado, 1 de dezembro de 2012

minha palavra


Busco a palavra que diz a aparência desvelada:
A face do mundo sem véu, vida de cara lavada.
E, sem buscá-la, eu encontro a minha calada essência
Que se escondia no fundo, da aparência brotada.

Não há perfeita palavra  que eu escreva e não seja
Uma face da realidade à qual minha boca beija
Que não cante um sol renascido, ou dor, gozo ou tristeza,
O meu amor que se entrega, ou o que o desejo deseja.

Não há palavra perfeita que não seja uma mensagem
De um pedaço da minha alma que comigo vem amar
Quando eu percebo o mundo a revelar-se na imagem:

Minha palavra é um registro do meu diário de viagem... 








sexta-feira, 26 de outubro de 2012

a passagem do tempo


Sinto a passagem do tempo: uma brisa nas cortinas,
Um movimento de águas serpenteando para o mar,
Ondas marcando ritmo com a precisão de um relógio
E o coração a bater, mantendo-me vivo a lembrar.

Amo a passagem do tempo, este fio ligando-me partes,
Laço que trama o que sou com instantes impermanentes,
Fonte das minhas lembranças, as musas de qualquer arte.
Amo o tempo a passar que, ao me levar, dá-me a vida.

Mas sei que além deste tempo aflora-se em outro tempo:
Fluxo do Cosmo a mover-se, compassos de escala imensa,
Onde o passado e o futuro desaguam num amplo Hoje...

Nesse tempo, além do tempo das chegadas e partidas,
Nossa mente é a do animal que tudo sabe e não pensa
E a nossa alma é um baú onde o Tempo inteiro cabe.




sábado, 6 de outubro de 2012

Ouvindo Freire


A alma se expande e aprofunda-se
Na música: Nelson Freire se apresenta e
A rudeza mais rude acalenta,
A emoção mais seca dessedenta.

Há música e o olhar vê sem ter mira
Vê o som mover-se
E a noite escura também ver-se
A surgir no poema como em surto,
Em susto, em ritmo e rima.

Surge a poesia porque há música
E, por Freire, Shubert reinventa-se...


sábado, 29 de setembro de 2012

um dia...



Sem mim, como sempre a vida segue
E com todas as alegrias que eu tive,
Com todas as experiências que vivi
A vida seguirá sem mim, embora.

A vida me dirá: adeus, já é hora,
E sorrirá, olhando-me de esgueira
Como já me sorriu na vez primeira
Em que nossos passos se cruzaram.

E eu te confesso que irei sem mágoas
Pois há alegria em beber desta água
A qual me mata (a sede) a cada instante.

Olharei para trás como quem deixa a casa
E eu saudarei ao anjo a me agitar as asas,
Levando a velha mala, eu, garoto de novo.



sábado, 22 de setembro de 2012

manhã


Há dança e há brisa,
Há um sol sem camisa:
Manhã de primavera.

Há as manhas do gato
Brincando no pátio:
Manhã de primavera.

Há livro e canção
Café com leite e pão:
Manhã de primavera.

E há teu rosto ao acordar
Como um  raio solar
Desenhando-se no ar,

Manhã de primavera
Como se fosse a primeira.