sábado, 16 de março de 2013

poeminha outonal


A chuva fina é tule branco,
Móvel cortina de vapores
E cada olhar é uma janela.

No chão beijado pela chuva
Vem espelhar-se o mundo
Ao inverso:

É o Outono a apresentar
Os seus mistérios à cidade
Tornando instante em eternidade
Ao soprar brisa nos versos.


Outono em Porto Alegre, Alexandre Martins

domingo, 3 de março de 2013

ver espanha


Sevilha espelha-se no rio Guadalquivir
Que já banhou vinte séculos em Córboba.
Tudo está vivo ali, a (im)própria história,
Movendo as mãos como asas de uma ave.

Largo é o olhar que abrange esta imagem
De azul ubíquo e laranja e verdes vivos:
Milênios a externar-se e, em tudo, sendo
Um fragmento do que há, ou pouco mais.

Se amplo é o olhar, maior é a interna idéia
Que, para sempre, vem reter esta paisagem
E transmutá-la no que imagino haver visto,
Em meio às ilusões das minhas miragens:

A alma de alfanjes, alcáceres, alamedas,
De abissais profundidades, cios e sonhos,
De ideais e enganos, arquétipos e medo 

De espectros que eram deuses que já foram demônios.