domingo, 27 de julho de 2014

Brick on the wall




Eles se dizem amigos da liberdade
Mas te farão ser tijolo, prego, andaime,
Massa, ovelha de rebanho.
Ordenarão o que farás, serás, terás,
A quem poderás amar,
Onde passarás as férias, onde viverás,
Que casa terás,
Que terra poderás possuir ou plantar,

Quais serão os teus limites territoriais
E de alma.

Terás sempre um Grande Líder
Para que sigas modelo.
Dormirás com sua foto
Sob o travesseiro,
E seu benévolo sorriso
Estará nos quadros da sala,
Do escritório e do banheiro.
Rezarás a Ele e ao Partido
Contra algum Império do Mal
E contra a recorrente e estúpida dúvida 
De que o líder é farsante.
Ouvirás seus quilométricos discursos
Com o coração em chamas
E a lucidez aos pedaços.

Aplaudirás sorrindo,

Sempre, sempre, aplaudirás!

Eles determinarão teu pensamento.
Serás para sempre o filho.

Eles te dirão até onde poderás ir nesta vida.
Qual fé poderás ter, que livros ler,
Quais as permitidas filosofias,

Eles destruirão o ímpeto humano,
A cor, o desejo de arriscar, o risco.

A rebeldia que apregoam
Será apagada pelos vizinhos que controlam
Vizinhos,
Pelos filhos que denunciam pais,
Pelos burocratas que determinam 
O rumo da vida,
Pelos conselhos populares
Que são eles mesmos
Disfarçados.

Eles embotarão as energias do indivíduo
E a Economia dos países 
Sem poder reconstruí-la
Pois além de tiranos, 
Eles serão, como têm sido,
Visceralmente incompetentes.

terça-feira, 15 de julho de 2014

complementares


Abarca o mundo todo o teu olhar profundo
Como se conhecer o abismo iluminasse o mundo,
Como se a lava predissesse o que será a superfície
E a palavra futuro coubesse no que o passado disse.

Abarca o tempo todo o quê o instante revela
Como se a tempestade já fosse esta brisa nas velas.
O coração que sonha, na verdade já realiza.
O amor que espera, por esperar, se eterniza.

Assim somos, meu menino, cheios destes mistérios:
O dia a dia nos diz de um tempo além do tempo
E é pisando o chão que se desbrava o etéreo.




domingo, 13 de julho de 2014

o aventureiro


Embriagava-me de música e cor, embriagava-me
Com a lava que jorrava do meu corpo e alma,
Amava o fluxo das coisas e a lonjura das trilhas,

Mas desejava viver para sempre o prazer
Do apartamento imerso em música, poesia
E cores de tintas e imagens,

Náufrago perdido
Na minha própria ilha.



quinta-feira, 3 de julho de 2014

estranhos dias


Há dias de alma plena,
Velas infladas de vento,
Tecendo sonhos, movendo águas,
Redemoinhos 
                   Em mim, seu leito.

Há dias em que há esperas,
Expectativas, 
Mais que esperança são coisas vivas
Frutificando 
                   Em mim, seu solo.

Fico inquieto sem ver o mundo
Como eu o via,
Ele é distâncias
                   E eu, ventania.

Há tempos em que a semente
Brota o futuro que era latente
E do obscuro nasço de novo.

Às vezes 
                Sou ave 
                Rompendo
                Ovo.