sexta-feira, 21 de novembro de 2014

paradoxo


a vida traga tempo
e o tempo engole vida
como a fera come fera
na biológica corrida.

buraco negro sugando
a matéria, e na saída
do outro lado do escuro,
há o tempo a parir a vida.

o que soa como morte
corte na carne do mundo
é parto, broto do novo,
Nau chegando a seu porto.

se partes, partes em parte
e em parte ficas, pois chegas.

partir não é apenas findar-se.
partir é encontrar saída.





sábado, 8 de novembro de 2014

poesia clara


A mente clara também é poética,
mas sem drama, fina mistura de
ética e estética, poema que alia
os sagrados óleos com a voz da rua.
Não choraminga dós românticos
nem entoa ladainhas,  os cânticos
dos poetas, per saecula saeculorum:
aimeudeuzinho, pobredemimnada.

Desde lá dentro, aflora pelos poros
suor sonoro do além soando, aquém
do ideal que é irreal, vingando afora
na verdadeira via onde a vida vaga.
A mente clara sonda o mistério, mas
sonda-o no solo, com olho no sorriso
conivente da vizinha do lado, na paz
de um homem pobre que é alma bela,


No mistério com que o imenso se revela:
uma ninhada a ser nutrida por uma cadela.




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

comunismo, bolivarianismo e outros sismos


Se permites, serás gado,
Teus caminhos serão filas,
Terás número marcado
Na pele por um gorila

Que te dirá o que deves
Comprar, ou ser, nessa vida.
E, ai de ti, se te atreves
A reclamar da comida!

Deves sempre agradecer
Ao Líder que te oferece
Aguardente, ração e um prazer
Se Ele achar que mereces.

A Pátria não é mais tua
Nem tua casa, ou tua ideia,
Aceitas qualquer falcatrua,
Deserdado herói de odisseia.

À noite, na prece ao Partido
Pedes bônus, benefícios, conforto
E não mais te sentes ferido

Pois, na verdade, estás morto.





Marcação para "conseguir" comida - Venezuela Bolivariana

sábado, 1 de novembro de 2014

a suave chama


Só o Bem permanece.

O mal, que fragmenta,
Fragmenta-se indefinidamente.
Aquele que atormenta,
Demente, se atormenta.

O Bem, tranquilo, vai brilhando
A semear futuros e alegrias.

O corrupto corrompe-se:
Dejeto que se consome.

O Bem é o fogo da alma,
Eterno menino,
Recriando sempre
A vida e o destino
Dentro do Homem.