terça-feira, 21 de abril de 2015

elegia

Elege o bom
Do som ou sonho,
Ou cor, ou vida,
Ou forma, ou essência.

Sê rico e amplo,
Lúcido e elegante,
Leve e sem a pompa
Da falsa ciência.

O sol ilumina
Choça e palácio
Ao ser o que é:
Fogo amarelo.

Sabor delícia
Boca de rei
E de mendigo
Sabem sabê-lo.

Mas, ouve, amigo
Com o amor
É diferente:

Se em alma livre
O Amor puseste
A liberdade
Emana aroma à
Flor no agreste,

Mas se o Amor
Acaso aquece
Quem não se ama,
Ou não merece,
Não há o que o ciúme
Não emperre
Ou empeste.







sábado, 11 de abril de 2015

crente do contemporâneo

Habituara-se 
Aos haréns baratos dos bordéis,
Aos freudianos rotineiros abismos

Para ser o que se diz que deve ser

Contemporâneo.

Temia as alturas
De ser claro, 
Íntegro,
Esmerado em traço e cor,
Suave de coração.

Temia
Perder chão
Ao desvestir-se do escuro,
Revivia Rimbaud
Artaud e cia.
À exaustão...

Temia
Luzir como podia:

Pecava às avessas,
Traía-se. 

E fez-se comum entre os chulos,
Assumindo a náusea alheia,
Infiel crente dos ismos.

Apagou-se chama
Por crer deselegante
A transcendência humana

E morreu desconhecida luz

Num mundo que,
Desesperado,
A pedia.


versinho sobre o fluir da vida

Onde está você
Onde você está:
Neste instante vivo
Ou num distante lá?

O que é você
No que você é:
Sonho concretizado,
Ou devaneio da fé?

Aonde você vai
Aonde vai você:
Adiante, porta-bandeira,
Ou, trambolho, a reboque?

O que faz você
No que você faz:
Mestre criando a Obra,
Ou apenas capataz?

O tempo toma da vida
O que a vida tem de tempo:

Cada hora há de trazer
O precioso momento.
Todo instante deve ser
Solene, único evento.

E, contudo, tudo suave
Como amar a um amigo:
A vida flui sem entrave
Se a gente está bem consigo.