quarta-feira, 30 de março de 2016

sem retorno

O mal tem seu poder na fé das gentes
E ao demonstrar ser falso perde a força.

A força que o mal tem vem do que mente
E ao desnudar-se o mal, desfaz-se a farsa.

Definitiva é a consciência deste fato,
Nada refaz a inocência que o mantinha.

O que um dia foi perfeito é caricato:


Livre está o Povo da mentira que o cindia.



sábado, 26 de março de 2016

Yeshua

Yeshua anda ainda pelas ruas pedregosas da antiga Jerusalém
Nalgum registro fixado nas fímbrias da rede do tempo. 
Sorri ao sentir o sol tocar sua face e semeia a boa nova,
Ad aeternum.

Vidente, revela-nos destinos e canta seu hino sem medo ou disfarce,
Alheio à sombra que o segue e espreita, ao espírito de seita,
Ao desastroso poder dos tolos que tolhe, ilude, mata, 
Fragmenta.

E soa para sempre sua voz cristalina a prometer o céu interior ao justo,
A ensinar que o amor é a força capaz de transformar o mal do mundo
No que o mundo tem de melhor. 
Que o amor é a fonte da sabedoria:

A manhã luminosa brota da noite sombria. 
Quem o sabe tem a fé.

Yeshua segue ainda falando aos mendigos, leprosos, aos perdidos,
Aos doentes, dementes, tolos, aos intelectos descrentes, a mim,

Pelas ruas pedregosas da antiga Jerusalém.









Páscoa

Silencia agora, larga o apuro
Que empurra, rompe a teia e
Enleia-te na ceia suave que o dia,
Ao espraiar-se lento, oferece.

Silencia em prece e em poesia,
Para que flua, enfim, num sopro,
O espírito que procuras e adias.

Porque o tempo, que nos leva,
Nos reduz a luz e sabedoria:
Disseca, revela, rompe a casca,
Aprofunda raízes, desvela céus.

Porque o tempo é um dedo
A apontar na direção do olhar
De um misterioso Deus.





terça-feira, 22 de março de 2016

A morte em vermelho

Em homenagem a Leandro Balcone




Derramou-se vermelho
Em tua alva camisa.
Sete balaços
Mataram teus passos
E a faca precisa
Abriu criminosos
Espaços no peito,
Entre os braços,
Rompendo os laços
Que tinhas com a vida.

E os anjos do alto
Dos céus da Amazonia
Choraram tua morte.
Os santos lembraram
Do crucificado
A verterem dos olhos 
Lágrimas rubras
Nas velhas Igrejas
De São Salvador.

Choraram Orixás
Nos terreiros de umbanda,
Teu corpo lembrando
Em vermelho manchado.
Francisco chorou, 
Nos caminhos de Minas,
A encomendar tua alma
A seu suave Senhor.

As musas mulatas
As nisseis e as loiras,
Choraram elas todas
Por crime tão vasto,
Tão torpe, nefasto:
Calar o teu grito
Com sete balaços
E covardes facadas,
A roubar-te tudo
Como se fosses nada.

Chora a Pátria
Pela qual verteste
Na alva camisa
O teu sangue em

Vermelho.



http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/03/advogado-e-morto-em-seu-escritorio-em-guarulhos-na-grande-sp.html

sexta-feira, 11 de março de 2016

Paz

Não há paz, há pazes.

Há aquela paz do melhor que tu fazes:
A que, em meio às lutas da vida,
Mantém tua alma sorrindo
E, entre os destroços dos sonhos,
É capaz de viver algo lindo.

Há a paz cujo oposto é a injusta guerra:
A paz dos que constroem céus na terra,
Que relevam dissidências sem sentido,
E, ao amar o semelhante, seguem em frente
Edificando o futuro a partir do presente.

Mas há uma paz cujo oposto é coragem,
A paz dos que temem e preferem calar-se,
Dos que mantêm o inferno sob sutil disfarce:
A Paz do Terror, que honra às tiranias.

A paz cujo oposto é vergonha na cara,
Revelação do que és no silêncio do bando.
Esta paz é a derrota numa vida que adias

É a paz de um cadáver que segue andando.