sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O inapto


Nasci para ser livre,
Fosse como fosse.

Livre livre!
Incapaz de ter
Partido ou time,
Geneticamente
Inapto para ovelha.

E isto em tudo.

Nada me define,
Ninguém,
Nenhuma Ideologia
Me representa.
Ideias, sexo,
Gostos, crença,
Tudo é meu
De nascença.

Admirei João ou Maria
Mas jamais consegui
Sinceramente
Ser devoto, ou crente
(Como o talento
Ou a Santidade
De algum deles
Me pedia.)

Para mim, religião
Sempre foi pessoal
E, portanto, a minha,
Imanente:
Caminhar com estes pés
Por rumos inconscientes,
Sem gurus, papas,
Rabinos, imãs,
Arrenegado consciente.

Sempre desconfiei
Da Verdade em maiúscula
E não consigo
Ouvir teorias
Sem achar-lhes
Um furo no pano,
Ou ponto malfeito.

E por isto, 
Ao ser livre,
Cometi bobagens,
Ao confundir
Sê-lo com agir 
Descuidado.
Só depois aprendi,
Aos tombos,
Que ser livre
Exige optar bem.

Não creias, porém,
Que sou descrente.
Ao contrário,
Creio no que creio,
Profundamente,
Mas isento
E insubmisso.

E não me faltaram
Jamais conselhos
Em sonhos, 
A ajuda de algum
Anjo, 
Que ao saber
Como sou,
Não desistiu
De dizer:
Vai, ô livre,
Por onde
E como
Bem queiras,
Mas
Vai lúcido.
Se tropeças, 
Levanta
Sempre.

Isto, eu segui.