sábado, 27 de março de 2021

Sobre União Europeia, Reino Unido, casamentos e separações

 Conversando com um amigo sobre a União Europeia, Reino Unido, e a luta das ideologias, ele defendia a separação do Reino Unido e criticava a União Europeia. Minha resposta, obviamente bastante primária, mas baseada em alguma leitura:

"Deixa, então, que te diga o que eu penso com base no que leio há muitos anos e sobre o que reflito. Acho maravilhoso que o Reino Unido se separe da Comunidade Europeia. 

O Reino Unido tem sido ao longo dos séculos um criador da Democracia, do pensamento liberal da melhor qualidade, fábrica de boas ideias sobre o valor intrínseco do indivíduo. Foi lá que Voltaire aprendeu sobre a possibilidade de uma pátria de homens livres, mesmo convivendo com a monarquia. Voltaire é em alguma medida um subproduto do pensamento britânico. Tentou transferir este espírito para o Continente e gerou, sem querer, a Revolução Francesa, uma vergonhosa e brutal experiência libertária, genocida. O Reino Unido foi o bastião da liberdade quando a intelectualidade francesa usava dúvida filosófica, pacifismo ingênuo, e mesmo contemporização criminosa, para lidar com Adolf Hitler.

A questão do continente europeu é por demais complexa. Durante os últimos séculos a Europa estava sendo o inferno da Humanidade, geradora de conflitos recorrentes e intermináveis. 

E dois  motivos eram fundamentais: primeiro, a tendência a um idealismo assoberbado, após a tentativa de destruição das bases culturais cristãs, que culminou no Idealismo Alemão, com as loucuras de um Hegel,  propagandeada por gente brilhante como Goethe, Heidegger, e posta em prática por Marx, Engels e seus antípodas nazi-fascistas. Foi deste arcabouço de idealismo, soberba intelectual, e sociopatia, que surgiram as ideologias do final do século XIX - início do XX, que deram origem aos totalitarismos da primeira metade do século XX, causando os maiores genocídios da História. O segundo motivo, uma verdadeira praga europeia, foi a política dos povos-nação, baseada em orgulhos tribais atávicos, com conotações raciais, e em valores provincianos ainda muito evidentes na Espanha, na Bélgica, na Suíça. Espírito de povo-nação desencadeando Nacionalismo guerreiro, ou seja, uma bomba, aliás milhares de bombas, ao longo dos séculos. Germanos contra francos, e vice-versa, castelhanos contra catalães, e vice-versa, bascos contra castelhanos, e vice-versa...num somatório sem fim de xenofobia e ignorância.

Os Americanos, com razão, chamam isto de "A Velha Europa". 

Pois, depois da carnificina genocida dos nazistas e da revelação de N. Krushchev sobre os crimes do totalitarismo soviético, os intelectuais europeus, abandonaram seus "ideais" de direita e, importantemente, de esquerda radical (comunista, especificamente) e se lançaram a um plano de transcender o espírito dos "povos nação" ao estruturar o que até agora tem dado certo, a Comunidade Europeia, uma união econômica e cultural de todos os povos e estados independentes, em torno de valores democráticos. Cada qual mantendo suas características e idiossincrasias. Sem dúvida, tem sido um imenso sucesso, baseado na liberdade dos mercados, mas também, de modo complementar, na manutenção de políticas sociais que assegurem qualidade de vida aos cidadãos. 

Segundo Arendt: "a União Europeia só foi possível quando a esquerda abandonou o Comunismo". Corre-se o risco de uma coletivização à gauche, tão amada pelos franceses como queijo fungado? Eu pessoalmente, tenho minhas críticas a algumas posturas progressistas em países como Holanda e Bélgica. As posições destes países poderosos deixam a gente atento, não? E o viés socialista, beirando o radical, está vivo, aliás, como nos Estados Unidos, entre os Liberais, o que é um total contra-senso. 

Mas no geral, a Comunidade Europeia tem sido uma experiência vitoriosa e creio que a Humanidade dorme mais tranquila com uma Europa unida. 

Eu, de minha parte, me sinto feliz de viver aqui.

Quanto a Albion, que continue ensinando à Humanidade sobre liberdade individual e sobre um Protestantismo empreendedor.  Grande abraço."



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