sábado, 16 de julho de 2022

Covilhã

Seu passado remonta aos imemoriais

Tempos em que era abrigo de pastores

Lusos, e fortaleza romana com nome de poesia:

Cava Juliana,

No sopé dos montes Herminios,

A Serra da Estrela.


Fez-se vila no século doze

Quando Dom Sancho

Ergueu as muralhas de seu castelo

E Dom Dinis, o rei-poeta, definiu

O bairro medieval.


-A América nem sonhava nascer. -


No Medievo, entre as mais ricas 

“Vilas do Reino”, gerou navegadores 

Que cruzaram oceanos

E atingiram o Inatingido.

Circum-navegaram o mundo

Descobrindo, com engenho 

Em Ciências Náuticas, 

O até então inexistente

Em África, Ásia, e na América,

A Terra de Santa Cruz.

Diogo Alves da Cunha conquistou Ceuta,

Pêro da Covilhã chegou a Moçambique,

E um certo Pedro Álvares da família Cabral

De Belmonte gerou o Novo mundo.


No Renascimento, seus campos 

Alimentavam povos,

E o talento de sua burguesia

Criou Comércio e Indústria,

A produzir os “panos finos” 

Como o disse Gil Vicente.

E tanto fez que Dom Henrique, o Infante,

Tornou-se seu Senhor.

Tanto brilho que o rei Dom Sebastião

Intitulou-a  “notável”,

E os reis “castelhanos” e portugueses 

A enriqueceram de obras belas.


As ribeiras que descem a Serra

E atravessam a cidade 

Sustentaram

As indústrias poderosas

Dos refinados tecidos

Exportados ao mundo

Desde Covilhã,

A “Manchester de Portugal”.

 

Século Vinte, tempos turvos,

De anti(t)éticas ideologias

Do “Outro mundo possível”

Que transformaram o que havia

Em destroços, fábricas em ruínas, 

(como ocorre na América Latina

Ainda hoje em dia.

Tempos de fuga por fome e rancor.)


Mas Covilhã, esta reergueu-se

E trouxe à vida a Universidade

Da Beira Interior.

Tece saberes e tecnologias,

Gesta outros “finos panos”

Da Cultura, férteis campos

Das Ciências, outras riquezas 

Para outros tempos.


Seus navegantes singram os mares 

Da Impossibilidade

No ideal que os irmana

De desvendar o fundo 

Obscuro do mundo Natural,

E da natureza Humana,

Na romana, lusa 

Covilhã.

A Cava Juliana.






4 comentários:

  1. Belíssimo poema é belíssima homenagem. Lendo me senti como que passeando pela Covilhã que nascia e aportando na Covilhã que produz e não perdeu a beleza da origem. Amor e luz !!

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    1. Só hoje li teu comentário, querida Sandra. Um enorme abraço agradecido.

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  2. Amo tua poesia que aguça a alma e faz renascer a vida, sempre. Meu tecido da memória se renova.

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