domingo, 29 de abril de 2012

les rêves bizarres

Il était une fois Porto Alegre au temps jadis
Qui me voyait bizarre enfant rêvant de Paris.

Me parlait Baudelaire
Dans les flots de l’air,
Et dans mon rêve Chopin 
Rêvait de George Sand.

Un peu plus tard j’ai connu le bon Gide
Qui m’a porté aux plaisirs qui sont fous et aussi vides.

J’entendais, enchanté, dans les nuits solitaires
Le discours rythmé de l’élegant Marcel Proust
Racontant du côté des Guermantes
Qui faisait de ma vie quelque chose de plus doux. 

Par ma chambre sont passés plusieurs poètes
Avec ses douleurs qui enchaînaient des mots,
Pour semer la fantaisie dans mon coeur esthète:
Y venait Verlaine, venait aussi Rimbaud.

Et même aujourd’hui, lorsque je suis adulte
La langue française, plus que des lettrés le culte,
Est un voyage vers la reconnaissance 

Je ne sais si vers mon âme
Ou vers l’âme de la France.









sábado, 28 de abril de 2012

Imprecisa palavra

A palavra é imprecisa e
Da sua imprecisão,
Do que ela tem de vago,
A poesia brota, 
Como jogo de ilusão 
De algum mago.
Verte feito um trago
De paixão desconhecida,
Sonho fantasma
Flutuando pela vida,
Vibração de uma corda
Evocando uma cantiga,
Evocação de memórias:

Almas que fomos, esquecidas,
Invocadas como a um antigo, e grego, deus.

A palavra é o ventre
Para um passado perdido.

Mas a palavra a vibrar
Ganha o novo sentido,
Independente do que há
Ou do que haja um dia havido:

A palavra é a vida a criar
No teu ouvido.

A palavra é tua guia, poeta.

Por ela, vais  te desbravando,
Doido esteta, meio cego, tateando,
Meio e fim sintetizando
O que sempre esteve ali
E nem sabias:

Outra face da tua alma
Exposta na poesia.

sábado, 21 de abril de 2012

A deusa


Sonho a vida:
Sigo no antigo templo o cortejo
Em honra a uma deusa antiga.
Respiram-se ali incensos,
Imaginam-se sentidos,
Sondam-se símbolos,
Aspira-se a Eternidade
E silêncio.
Ali, porém, eu
Não vislumbro o meu sentido
E saio do templo, a correr
Indo ao campo colher tuas flores, Gaia,
Ao mundo, Demeter, a colher tuas flores
E a degustar a sucessão das horas,
Abandonando a Unidade
Para perder-me
Entre os opostos,
Delícia e dores
Dos homens e as minhas.
Mas tu, útero imenso, 
Mãe das frutas e do milho,
Dos vermes, do leão e da gazela,
Ventre de todas as crias,
Atávica matriarca das tribos
Também geras a consciência,
O tino de entender o sonho
Ao viver o destino.




 

sábado, 14 de abril de 2012

Berberes


Líbia, língua berbere

Lambendo a areia
Do deserto,
Cozendo-a,
Comendo-a...
Cruzando-a
O nômade 
Por Rumos
Ignorados,
Ave seguindo
O interno ímã.
Pátria do 
Povo livre, 
Do Magrebe, 
Seja Cabila,
Mzabita ou Targui.

És de antes do Islam
E em Cirene
O Berbere sonhou em Grego
E esculpiu o bronze
Como heleno.

Hoje, como heleno,
Descobre a Liberdade.











quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como no Bardo Thodol


És mais que a sucessão dos fatos percebidos,
A se concatenar complexamente entre neurônios.
És mais que um extrato de múltiplos sentidos:
O cérebro é só teu instrumento, Humano gênio!

És capaz de sonhar com lugares nunca vistos,
De perceber o que para os olhos é o negrume,
Reconhecendo templos dos tempos de Cristo
E, ao envelhecer, olhar o mundo desde o cume.

E quando teu corpo vier a ser veste eliminável
Vais aprender que a Realidade é desdobrável
E outro organismo terás, mais luminoso e leve.

Integrarás, num segundo, tua inteira existência
E, transcendendo a outros níveis de consciência,
Seguirás com a Grande Arte após esta vida breve.

(Poema sobre o tema da Near-death experience, em homenagem aos corajosos doutores E. Klubler-Ross, R. Moody e Pin Van Lommel)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

nem deus sabe...

O olho da noite nos mirando,
Perolado olho flutuante, o luar.
Entrelinhas entre fases
Vem a vida livremente versejar.

(Vida livre feita verso).

Fanatismo algum pode reter
A fluidez da alma e dos ventos,
A gestar mundo e pensamento,
Prenhe do que ainda nem deus sabe...