sábado, 20 de junho de 2009

Sou do sul

Sou do sul, o inverno inverso,
Singular e plural, urbano e rural,
Prosa e verso.
Sou do sul, enigma a esmo.
Eu tento a resposta e a questão
Sou eu mesmo:
Sou o igual e o diverso
Do povo que canta e dança
Em atávica fantasia,
Mas meu canto é estranho
Ao cantar que contagia
Ancas e pernas:
Meu cantar tem nostalgia
De coisas mais ternas.
A poesia que trago
Tem um gosto doce e amargo
De tango e cominho.
Canta em mim a voz cigana,
O arrepio
Da alma agreste
Civilizada por um fio,
Civilizada
Por um italiano bravio,
Um negro gentil,
Um alemão que se abriu,
Um português no seu cio,
Entre índios que fizeram catedrais
E falaram latim.
Sou do sul, porque senti
Na década de setenta
Um fervor de guri
Pelas coisas sagradas
Do paralelo trinta.
Ser do sul não se inventa:
É - se
E não serve
Complicar nossa fala
Com outros erres e esses.



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