domingo, 13 de setembro de 2015

flor de adonis (ou saber entregar-se)


O cavaleiro foi ao fim das forças e
Exausto, descrente de que pode, ele
Chega à praia ancestral de onde partira,
Olha o mar verde, as mãos, suspira,

Abandona na areia a armadura: elmo,
Couraça, escudo, lança e espadas.
O próprio coração ele desveste,
E o deixa no chão, altar ao deus do nada.

Vira-se na direção do mar antigo:
Sem mais caminhos é o menino que já fora
Na casa paterna onde um dia crescera,
Relaxa os ombros, dorme ao desabrigo.

Então, do mar grande vento remonta,
A arrastar areia, coração e armadura.
Sem o homem vencido dar-se conta
A Natureza livre ou o mata ou o cura.

Cruzam-se as espadas no ar, a lança aponta
Na direção do que o guerreiro não sabia,
As mãos do acaso, o caos, sabem traçar
Rumos virgens em que a vida se desvia.

Números encaixam-se em inéditas fórmulas,
Círculos curvam-se a gerar torvelhinhos,
Abrem-se desgastadas, conhecidas, formas,
Criam-se sonhos, desafios, ganas, caminhos

E, no ápice, o coração aberto do guerreiro
Pulsa, por ser sol, iluminando o céu inteiro
E abarca o turbilhão das forças liberadas.

Desperta o homem, cavaleiro novamente,
Veste-se de si e de armas, segue em frente,
Coração renascido: uma flor do chão brotada.







domingo, 6 de setembro de 2015

poeminha sobre a vida

A vida não está lá
Onde esteve ou estará,
Ela não foi e nem será.
Aqui e agora, ela é

Neste coração aos saltos,
Perfumes de pão e café,
Alma funda, sonhos altos:
Olho em estrelas, chão no pé.

A vida engole os medos,
Doma ilusão, cria caminhos,
E só revela o segredo
A quem abandona o ninho,

Ao que se inventa, não copia,
Ao que, dia a dia, tenta
Dar o passo que não sabia,

Ser o que lhe dá nas ventas.