domingo, 25 de novembro de 2018

impermanência

Pode ser somente um dia
Do que amo nesta vida.
Se assim for, bendito dia,
Serei feliz por haver tido
Seja uma hora, um segundo,
A estar aqui fruindo o mundo.

(Será imensa a hora pequena,
O raso instante, o mais profundo.)

Porque a vida é um presente,
Não um futuro, 
Recebido pela gente.

De graça, 


Divina Graça 
Impermanente.





domingo, 18 de novembro de 2018

Barco em domingo




O Domingo é nublado
E o coração é baldio,
Eu faço o que quero
Do meu vazio.

Menino e brinquedos,
Homem e sonhos,
Artista e símbolos,
Imagens e cores.

Dolce far niente
É o paraíso.
Batel navegante,
Aportar é preciso!

E o porto sou eu,
De fundos canais
E ancoradouro,
Alma de cais.

Abrigado do frio,
Sob acolchoados,
Sou um feliz e vadio
Barco atracado.





domingo, 11 de novembro de 2018

Manhã (lembranças do Brasil)

Deixo às palavras o comando:
Elas cantam, vou dançando,
Elas dançam, vou cantando.
Somos aves a voar, em bando.

Pego tua mão, vamos amando.

Sobre a cidade em sono,
O dia abre os braços, bocejando,
Ele é o dono da casa, há cantoria
Da passarada, nós e as palavras,
Iluminados de lua e sol,
E estrelas se apagando.

Banha-se a serra de luz dourada,
Doura-se o rio negro da estrada,
Douram-se as árvores e os frutos,
A vida retoma cor, despe o luto.

  

Mas noutro canto do caminho
De Natureza perdida,
Dorme ainda no chão duro
Uma criança esquecida.

Mas num canto desta vida,
Canto envergonhado e triste,
Ainda dorme a criança.
Quem saberá que ela existe?

As aves somem do Céu,
Cala-se o canto e chora,
E o pranto faz-se poema
Por esta criança agora.

O dia torna-se gris,
Como pode a luz ser feliz
Se há uma criança pequena
Dormindo sozinha lá fora?







domingo, 21 de outubro de 2018

Outubro 2018

Eu queria despertar-te, novo tempo,
Devassar teus rumos num repente,
Mas ainda é muito cedo e à frente
O que se vê é temporal de vento.

Ao querer ver meu povo numa festa,
Vencida a divisão que o mal plantou,
Sondando o mundo desde onde estou
É cisão o que eu observo pela fresta.

Deixo à vida a escrita dos enredos:
Só anjos vêem além dos próprios medos,
Pois seus olhos têm o foco no infinito.

Que se cumpra o que temos semeado
Para que os genes da pátria do passado

Possam brotar um país que ainda é mito.




domingo, 19 de agosto de 2018

berberes


Sinto tua voz, amigo,
Tua presença de seda
E perfume amadeirado,
Os teus cantos orientais.

Sinto teu abraço, amigo,
No vazio de um silêncio,
E nos caminhos do sonho
Sinto comigo este laço.

Sei os teus passos e os sigo,
Como sigo os meus passos,
Pois vamos juntos, amigo,
Pelos desertos, de braço.



sábado, 18 de agosto de 2018

pedra e joia




Deixo fluir a emoção,
Como rio a polir seixos,
E com o tempo se vão
As pontas das pedras do leito.

Viva está a emoção
A escorrer-me do peito
E seu suave escoamento
É paz a que tenho direito.

Sou sempre aquele mesmo,
Só com mais água vazada.
O que eu temia, o abismo
É consciência, não o nada.

Deixo fluir a emoção
E dela vem o sentimento,
Joia rara, o fruto bom
Do melhor que tenho dentro.



domingo, 12 de agosto de 2018

os genes da gente




É mais antigo e maior que um descarnado cristo,
Que frades fazendo amor e a se flagelar por isto,
Que o poder do ditador de assassinar o diverso,
E do fanático pastor desaprovando o universo.

É maior e mais profundo, é da essência do mundo
A incontável variedade dos seres e seus amores.

E está nos genes das gentes 
Como os traços e as cores.





Fonte: http://trainingeducationmanagement.com/unconscious-bias-training/