sábado, 20 de junho de 2009
Outras vidas
Tribo
Tenho exposta na alma
Uma paisagem de antes:
A tribo berber vagando
Pelo deserto de bronze.
Guizos nas mãos das mulheres,
Gritos de festa entre os homens.
Eu, entre a atávica tribo,
Sem pensamento, vagando.
Veio de onde a imagem,
Veio porque a vertigem
Que fez de um sonho viagem
Ao país de minhas origens?
Memórias da minha alma,
Pedaços deixados quais rastros
Impregnando de árabe
A pele da minha carne.
(O amor pelo longo vento,
O ardor do verso nas veias,
A idéia como uma alfanje
Das lutas sobre as areias.
E esta voz, voz cigana,
Em canto quase dorido,
Que louva ao deus a quem ama,
Soando no meu ouvido...)
Tanto tempo se passou
Desde esta marcha africana,
Mas o deserto ficou
Fixado na pele qual escama.
O deserto e o céu em chamas...
Sonho
Vejo-te, ainda, cúpula de ouro
Encimando o templo enorme:
O templo de pedras e o muro
Onde se lamenta o Homem.
Era manhã de que século
Aquela na qual eu te vi ?
E era eu árabe ou filho
Das gerações de Davi?
Não importa...Sei que és
Tangível na minha memória:
Um fragmento da história
Nos porões desta alma viva.
Séculos já se somaram
Àquela outra antiga idade
E teu brilho dourado ainda invade
As minhas horas sombrias.
Que o poético Alá te proteja,
E Javé Elohim diga amém,
Cúpula dourada que beija
O céu de Jerusalém.
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