sábado, 20 de junho de 2009

Memória e vida

Digo ao tempo: aqui vivi,
Por estas ruas caminhei sonhando
Com outras mais antigas,
Nauta entre vagalhões de tempo.

Levei o fogo aonde pude,
Poeta que o havia roubado,
E confesso que meu fígado,
Mil vezes refiz:
Eu, o acorrentado,
Eu, a ave que castiga.

E vi tudo que podia,
Sábio cego, Édipo forte:
Imensa e frágil viga,
Feito vida suportando a morte.

Remonto o vivido:
Vida imensa em  minúscula vida.
Cada minuto não cabe em si mesmo
E uma cola mágica flui dos momentos,
Selando pacto
Entre os intervalos.

Tudo é intenso, tudo é fundo
Tudo de mim flui pelas veias
E eu renasço nos frutos da parreira.

Eu te olho, tempo, fascinado
Por ainda poder te ter,
Fruindo a vida verdadeira:
Corto o seu talo
E ponho-me a sorver.



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