domingo, 21 de junho de 2009

A musa





Divina musa,
Donzela dos pés alados,
Das musas de antigos
Poetas,
Tísicos bardos,
Sentas no meu sofá,
Pegas um livro, um cigarro,
E entre baforadas,
Repetes os velhos fados.
Lês algo de Byron,
E mal controlas
O riso disfarçado.
Tosses, e tentas Rimbaud,
O menino endiabrado.
Mas olhas, Musa, para mim
Com uma cara de enfado.
Estas coisas que declamas
Não estão do nosso agrado.

Levantas, arrumando
As leves vestes.
Os teus brancos braços
Se estendem docemente.
Não é magia que fazes
Para mostrar um dos teus dons:
Pegas um disco qualquer
E pões no aparelho de som.
É Caetano. Tu sorris:
-Isto é bom, isto é bem bom.

Enquanto ouvimos acordes
Que iniciam a Vaca Profana,
Tu declaras, discursando:
-Pelos deuses! Tornei-me humana.
E após mais algum tempo
Em que a música nos toma
Beijamo-nos docemente
Eu e tu, na minha cama.




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