Um poema sobre mistérios
conhecidos
Em homenagem à progênie
dos bonobos
A celebrar a vitória
destes símios
Sobre a violência
estúpida dos lobos.
Genes que geraram entre
os humanos
A civilização helênica
famosa
Onde, em banquetes, o Eros
Que tu amas cantou
poesia e prosa.
Sócrates despediu-se de
Atenas
Nos braços de Alcibíades,
o amado,
Alexandre, preso às
coxas de Heféstion,
Conquistou o mundo,
enamorado.
Adriano semeou templos,
cidades,
Pelas costas do mar
Mediterrâneo,
Como honra à morte de
Antínoo,
O deus efebo, sagrado
eromenos.
E muito além das bordas
do Egeu
Brotou o amor de
Ganymede e Zeus:
Pelos rumos de Siwa,
dois berberes
Cruzaram os desertos de
mãos dadas,
Na América viveram
os berdaches
De dois-espíritos, homem
e mulher,
A sonhar os sonhos de
sua tribo,
E a revelar o rumo que
um deus quer.
Michelangelo e Da Vinci,
pecadores,
Inverteram o Medievo em
Arte e Ciência
E verteram seus amores em
ternos poemas
Tendo a graça de mancebos
como tema.
Noutra era, por
Verlaine, Arthur Rimbaud
Incendiou com um zelo
iconoclasta
As bibliotecas de regras
sobre o amor:
Fogo de escândalo do
gênio autodidata
E Marcel Proust ao
retomar o Tempo,
Trouxe à luz que esse
vício imanente
Não ousa revelar o
próprio nome
Mas é ainda a base
oculta do Ocidente.
Para André Gide, este
amor que era o seu
Não é um vício, mas sim fruto da terra.
Se o grão não morre, e para
ele não morreu,
Confere um atávico
antídoto à guerra.
O grande Gide acabou excomungado
Da Santa Chiesa que usa a culpa do pecado,
Como mais tarde, o jovem Lorca foi baleado
Feito bicho em algum
mato andaluz:
Pelo amor que uniu
Pátroclo a Aquiles,
Que inspirou aos artistas
e poetas,
Desde muito antes de Alá e
Maomé,
Antes mesmo da Bíblia
e de Jesus,
Desde a sagrada descendência
dos bonobos,
Os avós dos avós dos
avós de todos,
Que, ao amarem,
distinguiram-se dos lobos
E enraizaram este amor
dentro de nós...