“Já não podemos nos dar ao luxo de extrair aquilo que foi bom no passado e chamá-lo de nossa herança, deixar o mau de lado e simplesmente considerá-lo um peso morto, que o tempo, por si mesmo, relegará ao esquecimento. A corrente subterrânea da história ocidental veio à luz e usurpou a dignidade de nossa tradição. Esta é a realidade em que vivemos. É por isso que todos os esforços de escapar do horror do presente, refugiando-se na nostalgia por um passado ainda eventualmente intacto ou no antecipado oblívio de um futuro melhor, são vãos.”
Hannah Arendt, As Origens do totalitarismo (do Prefácio)
Alguns alunos costumam usar a expressão "Vida (in)digna de ser vivida", como uma espécie de mantra do politicamente correto, na defesa da Eutanásia. Não sei de onde volta isto, de qual fonte "anti-conservadora e progressista".
É um absurdo indesculpável que este lema volte a ser usado. E, especialmente, ensinado.
Este foi um dos slogans fundadores do Partido Nacional Socialista, ou seja, do "Mal" (Arendt). Desencadeou a liberalização, a perda de limites que redundou, finalmente na conhecida tragédia humanitária. A classe médica dos países envolvidos abriu-se a esta possibilidade, acatando e aprofundando num crescendo a eliminação de vidas humanas. A tal "rampa deslizante" (slippery slope). O início, parece, foi ingenuamente bem intencionado.
A expressão "Vernichtung lebensunwerten Lebens", traduzindo, "terminar com uma vida indigna de ser vivida" é um lema eugênico, desenvolvido durante a República de Weimar pelo psiquiatra Alfred Hoche e o advogado criminal Karl Binding, que publicaram em conjunto o folheto "A Liberação da Interrupção da Vida Indigna de ser Vivida", em 1920. Foi encampado pelo Partido Nazista, na "Lei para a Prevenção de Distúrbios Hereditários", imposta em 1934, que permitiu a esterilização forçada de supostos "pacientes hereditários " e alcoólatras.
A seguir, no início da Segunda Guerra Mundial , o conceito da "vida indigna de ser vivida" foi ampliado para assassinar doentes, incluindo "Eutanásia infantil"(1939), esquizofrênicos, e a partir daí, pessoas de comportamento anormal (homossexuais), e "raças inferiores", redundando finalmente no Holocausto.
Esta política enraiza-se num distúrbio de pensamento que envolve o niilismo gerador da Medicina Desumana (”Medizin ohne Menschlichkeit"), a qual é favorecida pela equiparação, em termos de valor, entre seres humanos e animais (Elkeles, B. Medizinische Menschenversuche;135).
Aqui trago, desta vez na íntegra a frase do médico Julius Moses, precursor da Bioética, publicada em 1932 (Pross and Aly, Der Wert des Menschen, 92):
“A missão do médico será criar o Novo Mundo, a Nova Nobre Humanidade.
Só os curáveis sobreviverão.
Os doentes incuráveis, as existências peso-morto, o lixo humano, o indigno de viver e o improdutivo serão eliminados.
Em outras palavras, o Médico se tornará o Carrasco.”
É interessante e assustador que isto retorne a partir de alguns países historicamente associados ao Nazismo. Usar a Medicina como profissão envolvida no assassinato de seres humanos, apoiado pelas leis do Estado, representa um lamentável retrocesso civilizacional.
A atual liberação na Holanda do assassinato de crianças, incluindo bebês, por doença ou estresse familiar, de esquizofrénicos e outros distúrbios mentais, a perda dos critérios de indicação do procedimento, a incapacidade estatal de controle regulatório, o crescimento exponencial no número de eutanásias, a utilização da eutanásia como “melhor prática”, suplantando mesmo os cuidados paliativos, são algumas das evidências que estes países deslizam na rampa.
Este filme já foi visto. O desfecho é conhecido.
Para quem deseja saber o que se passa na Bélgica em relação a isto, recomendo:
DOES THE BELGIAN MODEL OF INTEGRATED PALLIATIVE CARE DISTORT PALLIATIVE CARE PRACTICE? The Dossiers of the European Institute of Bioethics, publicado pelo European Institute of Bioethics.
DOES THE BELGIAN MODEL OF INTEGRATED PALLIATIVE CARE DISTORT PALLIATIVE CARE PRACTICE? The Dossiers of the European Institute of Bioethics, publicado pelo European Institute of Bioethics.