Há uma confusão entre religião formal e espiritualidade humana, de tal forma que a derrocada das crenças religiosas formais tem implicado a decadência da espiritualidade humana. É como se sem a voz do papa, do rabino, do iluminado e do guru, reinasse o "vale tudo", aliás, a cara do nosso Tempo.
No entanto, a espiritualidade humana, a valorização dos potenciais e qualidades específicas do ser humano, a opção consciente pela visão de uma sacralidade da vida humana, a crença na transcendência da pessoa através das experiências da vida, incluindo o sofrimento que é inseparável do viver, são as únicas bases de uma possível Civilização.
O não matarás não perde o valor intrínseco se deixa de ser uma lei criada por um deus barbudo. O não matarás é a base fundamental de uma civilização que reconhece o seu passado: o mundo arcaico que tentamos abandonar, o mundo dos filicídios, matricídios, parricídios, o mundo dos genocídios, da selva ou dos regimes totalitários. Diga-se de passagem, os regimes totalitários da primeira metade do século XX são frutos da perda total dos princípios civilizatórios devido à derrocada das bases cristãs formais.
O deus barbudo das tradições talvez apenas seja o símbolo da espiritualidade humana em seu maior nível, a intuição certeira dos mecanismos que regem a psiquê humana profunda e o Universo. Uma visão do "numen" sempre Desconhecido.
Confundir crenças em uma religião formal com amadurecimento espiritual tem lamentáveis consequências.
O desapego de alguma religião para uma pessoa sábia, letrado(a) ou iletrado(a), pode levar ao cumprimento integral das regras que as religiões tentam impor pelo medo. Se estas regras são adequadas à manutenção e à saúde de uma sociedade civilizada, devem ser respeitadas, como se fossem "a palavra de deus".
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Religiões formais e espiritualidade humana são coisas distintas. A morte das tradições não necessita ser a morte dos valores humanos essenciais. A necessidade radical de amar ao próximo, de respeitar ao outro não são conceitos que tem dono.
Há questões cruciais que estão sendo questionadas em nome de um preconceito “anti-religioso” sem nos darmos conta que destruir certos valores (por serem coisa de “religião”) implica na destruição da própria civilização. A liberação de matar, na verdade o dever de matar, gerido pelo Estado, concedido aos médicos em países do norte da Europa com histórico nazista leva ao fim do que conhecemos por Essência da Medicina, e o valor do “ato médico”. Diz-se: sacralidade da vida humana, o tabu de não-matar são coisas de “religiosos”, um atraso nestes “novos tempos”. Não é assim.
O “não matarás” não é o “primeiro mandamento” à toa. É o passo limítrofe entre a civilização e a barbárie ancestral. Os antigos judeus sabiam, por experiência histórica e intuição, o que diziam.
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