domingo, 3 de novembro de 2024

Rimas pobres sobre o amor

"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre..."

 Evangelho de João

 

Vejo-te distinto de mim

Em pensamento e imaginação

Em crença, descrença ou ação,

Somos tão díspares como são

Água e fogo, céu e chão.


E somos, nós dois, diversos

Como todos os demais 

Que vão, desiguais e dispersos

A vagar por caminhos da alma, 

Em seus desertos,

Cada qual único e sozinho,

Armado da cabeça aos pés

Para defender do outro

O que se é contra o que és,

Para a vitória de um povo e sua fé.


Assim tem sido o ritual arcaico,

E mesmo, sem a fé,

A luta ainda é

Por uns mancos

Ideais  laicos. 


As diferenças são tesouros

Da diversidade absoluta

Inerente à criação, em que

Tudo difere ainda mesmo

Entre os mais gêmeos irmãos.


 Mas se somos cada qual uma unidade,

Consciência em torno à qual o cosmo gira,

Existe em cada um, 

Outra força primeva

A identificar-nos como um só

Para além das diferenças, 

Ideologias e crenças.

Somos todos frágeis feras a sonhar

Humanidades, 

Somos todos meio cegos

A pregar meias verdades, 


Até que encontremos

A mais singela e complexa solução:

O amor, a força por todos conhecida, 

Uma cadela a alimentar as crias,

Nos limites da morte, 

Para dar-lhes vida,

O abraço terno do amigo,

O gesto sagrado entre os inimigos

A oferecerem-se perdão,

Os que enfrentam tempestades

Para salvar vítimas,

Os que esquecem suas dores

Ao limpar feridas.


Amor

Em si mesmo, 

Para si mesmo

E para outrem,

Tão simples, 

Divino e humilde

A nutrir-nos a todos 

Como a água, o vinho e 

E o pão.