"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre..."
Evangelho de João
Vejo-te distinto de mim
Em pensamento e imaginação
Em crença, descrença ou ação,
Somos tão díspares como são
Água e fogo, céu e chão.
E somos, nós dois, diversos
Como todos os demais
Que vão, desiguais e dispersos
A vagar por caminhos da alma,
Em seus desertos,
Cada qual único e sozinho,
Armado da cabeça aos pés
Para defender do outro
O que se é contra o que és,
Para a vitória de um povo e sua fé.
Assim tem sido o ritual arcaico,
E mesmo, sem a fé,
A luta ainda é
Por uns mancos
Ideais laicos.
As diferenças são tesouros
Da diversidade absoluta
Inerente à criação, em que
Tudo difere ainda mesmo
Entre os mais gêmeos irmãos.
Mas se somos cada qual uma unidade,
Consciência em torno à qual o cosmo gira,
Existe em cada um,
Outra força primeva
A identificar-nos como um só
Para além das diferenças,
Ideologias e crenças.
Somos todos frágeis feras a sonhar
Humanidades,
Somos todos meio cegos
A pregar meias verdades,
Até que encontremos
A mais singela e complexa solução:
O amor, a força por todos conhecida,
Uma cadela a alimentar as crias,
Nos limites da morte,
Para dar-lhes vida,
O abraço terno do amigo,
O gesto sagrado entre os inimigos
A oferecerem-se perdão,
Os que enfrentam tempestades
Para salvar vítimas,
Os que esquecem suas dores
Ao limpar feridas.
Amor
Em si mesmo,
Para si mesmo
E para outrem,
Tão simples,
Divino e humilde
A nutrir-nos a todos
Como a água, o vinho e
E o pão.
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