Frequentemente, eu me pego refletindo sobre o fato de que algumas pessoas instruídas, especificamente nas áreas das humanidades, possam ser completamente cegas quanto aos dados da realidade, especificamente em termos de Política. Continuam bradando desgastados refrões, pregando ou a torcer por sistemas coletivistas que geraram totalitarismos e empestaram o século XX, levando a genocídios.
Creio que a leitura, feita por pessoas menos céticas, tem os seus para-efeitos, como qualquer produto. Pessoas com fragilidades como idealismo e/ou emocionalidade exacerbados, encantam-se com a prosa bem feita e as filosofias, sonhando com “outros mundos possíveis”.
Além disto, creio que ideologias e filosofias tem prazo de validade, como os medicamentos. Algo que podia ser um “novo mundo” já mostrou seus resultados desastrosos, destruindo Economias ontem, como continuam a fazer hoje.
Ceticismo é um saudável antídoto ao fanatismo de qualquer tipo. Os tratados filosóficos, as teorias econômicas, e suas resultantes ideologias, devem ser revistos à luz dos resultados produzidos e da panóplia de informações críticas geradas a partir dos seus efeitos (incompetentes ou de sucesso, em oferecer liberdade e bem-estar). Mas as pessoas a quem me refiro, evitam estas leituras por se sentirem desafiadas quanto aos “ideais” que as dominam. As informações críticas das evidências reais são percebidas como manobras “dos outros”, ou seja, “o inferno” segundo o Sartre. Lembro-me do conflito entre este pensador, Sartre, e o prêmio Nobel de Literatura, Camus, quanto a criticar o regime soviético depois que ficaram evidenciados, provados, os crimes daquele regime. Sartre dizia que era crucial defender o Comunismo para que o “Mal”, que para ele incluía a “Direita” dos regimes liberais (ou capitalistas), fosse destruído. Camus negou-se a manter a farsa, e declarou no livro O Homem Revoltado:
“Estamos na época da premeditação e do crime perfeito. Os nossos criminosos já não são aqueles jovens desarmados que invocavam o amor como desculpa. Pelo contrário, são adultos, e o seu álibi é irrefutável: é a filosofia, que pode servir para tudo, até para transformar os assassinos em juízes.”
George Orwell, ao rever a sua “fé socialista”, viveu uma verdadeira crise existencial e, a partir disto, isolou-se e escreveu 1984 e A Revolução dos Bichos, jóias do pensamento contemporâneo. Hannah Arendt, uma teórica socialista, que estava a escrever As Origens do Totalitarismo, inicialmente dedicada a analisar o Regime Nazista apenas, ao informar-se da realidade (escondida) do Comunismo, estruturou uma segunda parte, tão ampla como os capítulos iniciais, sobre o Totalitarismo Soviético, e posteriormente fez disto uma análise continuada, brilhante e profunda. Erich Fromm, não analisou apenas Hitler na sua obra Anatomia da Destrutividade Humana, mas também Stalin, considerando a ambos psicopatas desde a tenra infância. Tantos outros teóricos e filósofos debruçaram-se sobre a realidade resultante do regime soviético, com seus expurgos, gulags e assassinatos em massa, de povos ou de inimigos políticos (segundo eles “os traidores do povo”). A Revolução Maoísta, com seus crimes em estádios de futebol, é outro vergonhoso capítulo da história humana, neste caso, ainda vigente.
A América Latina, incluindo seus professores universitários, está vivendo uma crise baseada em desinformação, idealismos já desfeitos pela realidade, leitura defasada e não atualizada. Lutam direita e esquerda, quando o liberalismo e a social-democracia deviam conviver em regimes verdadeiramente democráticos. Cita-se o coletivismo comunista como uma opção atualizada e válida, enquanto na Europa, a partir de 2019, tendo em conta as tragédias sociais e humanas vividas no Continente, o Comunismo tornou-se proibido, assim como o nazismo, nos países da União Europeia, esta comunidade de Economia Liberal e com fortes políticas sociais.
Sinceramente, o vício fundamental é tomar filosofia e ideologias como verdades, eventualmente num espírito fanático de torcedor de futebol. E não atualizar as críticas aos ideais que já fizeram tanto estrago, especialmente na Europa, mas também na América Latina. É preciso tratar destes temas por método indutivo, não dedutivo; ser o crítico, à maneira do genial Camus, a qualquer sistema cujos resultados não sejam confirmados pela realidade.
Não tenho a mínima dúvida de que professores universitários brasileiros concordam de corpo e alma com o envolvimento do Brasil, na verdade, a associação do país, com regimes autoritários, herdeiros do totalitarismo, com Rússia e China, ou claramente totalitários, neste caso religiosos, como o Irã, em nome do que o criminoso Putin, num surto década de 80, denomina a criação de uma Nova Ordem Mundial. Nada nova, na verdade, o oposto: coisas da Novilíngua, segundo o Orwell.
Muito bom!
ResponderExcluirAbração!
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