Houve um tempo em que a vida
Vinha como punhalada,
E o rosto do tempo era duro,
Uma escura veladura
De Caravaggio.
Eu tinha, aqui, neste peito
Uma chaga dolorida
E havia uma doida varrida
Zanzando nas minhas ruas.
Eu lia então Pasolini,
Genet e o bom André Gide.
Depois me veio outro tempo
Em que do fundo do peito
Fluíram deuses e sonhos
Frutificando o meu cio,
Trazendo rumo ao meu rio,
E dentro de mim revivi
Terras e tempos diversos.
Também fora eu os conheci
E estiveste comigo, amante,
Ao carvão tornar-se diamante,
(Estava também Marcel Proust).
Tu ainda segues comigo,
Namorando em Barcelona,
Embasbacando-se em Naxos,
E no grande frio, bem ao Sul.
Hoje me encantam o Espaço,
Os amplos campos e o dia,
Sigo lendo Thomas Mann,
Ciência e filosofias,
Eu vou ainda te amando,
A esboçar vida e poesia.
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