terça-feira, 9 de novembro de 2021

O Pulmão Verde do Mundo

 Metáforas ecológicas.

Costumam os estrangeiros imputar unicamente ao Brasil a responsabilidade de manter o "pulmão verde" do mundo, porque os brasileiros ao longo dos séculos tem evitado destruir sua parte da Amazônia, uma imensa região onde atualmente vivem 23 milhões de pessoas. A região mais carente do nosso país. 

Esta metáfora quase poética transfere ao Brasil a responsabilidade de não utilizar sua vegetação virgem, que hoje em dia mantém-se em cerca de 60% da vegetação do país (o único país que mantém algo assim é o Brasil).  Muito bem, acho lindo e o Brasil tem tentado equacionar com enorme dificuldade a manutenção da floresta Amazônica com um projeto de desenvolvimento que beneficie os povos da Amazônia. 

Contudo, o pulmão verde do mundo não se restringe à Amazônia. Cada árvore plantada, cada floresta que se refaz, em cada região de um país, constitui um "pulmão verde". O pulmão verde deve estar em todo o lado e é responsabilidade de cada país manter seu pulmão verde, com vegetação nativa, não eucaliptos australianos que queimam com facilidade, destruindo a vegetação regional. Como está o pulmão verde europeu? O americano? O australiano? O chinês, indiano, etc.?

Parem de projetar no Brasil sua responsabilidade intransferível. A Amazônia brasileira pertence ao Brasil (!) e atualmente as queimadas são monitoradas pela NASA num projeto conjunto do Brasil com os Estados Unidos pois a tarefa deste controle num continente verde é hercúlea. A atividade de desmatamento e queimada é crônica, tendo chegado a um pico máximo em 2005, mantendo-se, embora em menores níveis, após. Responsabilidade do Brasil, sim.

Mas pergunte-se, europeu, americano, australiano, pergunte-se como está pulmão verde de mata nativa, ou replantada com vegetação nativa, no seu país, na sua região, no seu pátio.

Os programas de TV que assisto aqui acusam meu país, e desconhecem, negam com indiferença, e enorme falta de respeito, sua própria (ir)responsabilidade coletiva na reconstrução do pulmão verde global.

Detesto metáforas, slogans, e palavras de ordem:  emburrecem as pessoas e levam a atitudes lamentáveis.





sábado, 6 de novembro de 2021

O carnaval rancoroso dos ricos


 Ver os europeus e norteamericanos ricos, em suas cidades de asfalto e jardins planificados, comunidades e culturas que ao longo dos séculos destruíram e continuam destruindo tudo o que é floresta nativa, e transformaram sua geografia em intermináveis áreas de agricultura extensiva, a exigir “dos outros” (os que mantêm imensas áreas de vegetação nativa e florestas) mudanças de conduta, é a visão do ridículo, um circo politicamente correto. 

Mãos à obra mundo desenvolvido: replantem florestas com planejamento da flora original, renunciem ao uso da terra como fonte de riqueza, reduzam o uso (intensivo) de plástico, asfalto e concreto!  Fatos para “parecer” verde, como plantar campos de eucaliptos incendiários, milho para produzir biodiesel, jardins no alto de edifícios nas cidades, parques arborizados e elegantes para desfrute dos cidadãos e especulação imobiliária, são nada, ou pior que nada.

Há que repensar o manejo da terra, e refazer as extensas selvas, antes de acusar “os outros” de genocídio por crime ambiental. A História é capaz de sentenciar aos acusadores que transformam em festa televisiva a  inconsciência sobre sua própria (ir)responsabilidade.

Isto sem falar do envio de lixo (tóxico, contaminante) para descarte em países mais pobres. Crime ecológico de lesa-humanidade.

O mundo conhece bem a soberba reguladora dos poderosos sobre os mais humildes.

O resto é politicagem, demagogia, aparências, hipocrisia.