segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Akousate (Ancient Greek Music)




Ecôa em ti: escutas?
O som primal que vem no vento,
Na concha, na folha em movimento,
Na estrela e na galáxia
Na tua alma pelo sonho e pelo anseio,
No ritmo do mar?
O que te diz (diz a poesia):
-Ecoo em ti: me escutas?


sábado, 18 de setembro de 2010

Tempos 1

Houve um tempo em que a vida
Vinha como punhalada,
E o rosto do tempo era duro,
Uma escura veladura
De um quadro de Caravaggio.
Eu tinha, aqui, neste peito
Uma chaga dolorida
E havia uma doida varrida
Zanzando nas minhas ruas.
Eu lia então Pasolini,
Genet e o bom André Gide.

Depois me veio outro tempo
Em que do fundo do peito
Fluíram deuses e sonhos
Frutificando o meu cio,
Trazendo um rumo ao meu rio,
E dentro de mim revivi

Terras e tempos diversos.

Também fora eu os conheci
E estiveste comigo, amante,
Ao carvão tornar-se diamante,
(Estava também Marcel Proust).

Tu ainda segues comigo,
Namorando em Barcelona,
Embasbacando-se em Naxos,
E no grande frio, bem ao Sul.
Hoje me encantam o Espaço,
Os amplos campos e o dia,
Sigo lendo Thomas Mann,
Ciência e filosofias,
E vou ainda te amando,
E esboço vida e poesias.



Tempos

No tempo em que havia a Poesia
O dia era mais do que um dia:
Era algo inexplicável.
E teu corpo tocando o meu
Era a vida tornada imóvel.
Imóvel, imutável, indefinível, inalcançável:
Havia tantas palavras
Que sentimentos diziam
Quando havia a Poesia.

E agora, quando não há a Poesia
Como fala o sentimento?

sábado, 11 de setembro de 2010

Poesia fractal

Tamborilam gotas no telhado:
A chuva marca o ritmo do dia.
Na mente também ressoa um ritmo
Que vai dançando poesia,
Que vai lançando cantoria,
Que vai somando tons e dia,
Num som-de-fundo que se amplia.
Basta atentar-se ao silêncio
Para o som da alma vir a ser:
Gera-se o ritmo feito de palavras
E o que não havia vem nascer.
Nasce de uma estranha matemática
Em que o caos revela-se em fractais:
O que nós somos impregna-se nos versos
Mesmo que não saibamos o que ser jamais.





sábado, 4 de setembro de 2010

Metafísica

(Não há um caminho,
Há caminhos).

Viste passar por aqui
Aquela menina Vida?
Ela buscava por ti
Nas suas idas e vindas...

Ela passou por aqui
E ninguem lhe deu boas-vindas.

Mas não há uma vida,
Há vidas.