segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portugal




Adentro no Portugal que me aviva reentrâncias
De memórias que não lembro,
Como as carnes de um cozido
Que amava sem o haver ainda comido,
Como a visão dos sobreiros
Das poesias que a avó
Recitava-me ao ouvido.

Todo um Portugal morava-me
Desde sempre no olvido.

E ao cruzar os seus campos de amarelo curtido
Subindo e descendo em Trás-os-Montes
Chego ao Algarve de pele morena,
O Algarve das vilas pequenas.

E mares que eu não sabia
Fizeram sentido,
E falésias de formas estranhas,
E rios talhando a vinhosas terras,
Na imensa nação de pequenas distâncias.

Um canto mourisco ressoa no espaço
No vento que sobe desde o Saara,
Eu vejo outro tempo nos rostos na rua,
E vejo meu rosto nos rostos que vejo.

O Tejo é um talho no corpo da terra,
O Douro é uma veia que drena bom vinho,
E Portugal alimenta aos meus versos
Com as águas do Minho.