domingo, 27 de setembro de 2020

O poder das redes

Documentário do Netflix denuncia o "uso que as redes fazem das pessoas", ao viciá-las na internet, transformando-as em "consumidores" e produzindo "visões políticas" polarizadas.

Estas redes realmente são lamentáveis: pessoas desconhecidas, sem fama, sem partido político, colocando suas ideias próprias, seus poemas e fotos, falando de si, de seus cantinhos no mundo.
Bons tempos em que acreditávamos na Zero Hora, éramos influenciados por intelectuais gabaritados como Paulo Santana, livres-pensadores apartidário como LF Veríssimo, uns músicos populares, libertários e drogaditos que depois, ou viraram ministro, ou morreram de overdose e AIDS. Uns heróis da contracultura.

Tirávamos sabedoria e julgamento lúcido, livre, a partir de um Jornal da Globo e as novelas da Globo faziam nossa cabeça, sem cobrar nada, sem querer nada. Por amor. Prostituição feminina ou masculina reconhecida como bacana, macaqueando a Holanda, entre tantas pérolas lançadas à adolescência do Brasil. Isto sim era progressismo!

Não éramos consumidores. Embora já houvesse o PROCON e o Horário político fosse chamado de Propaganda Política.

A qualidade de reflexão, a liberdade que perdemos: um Sílvio Santos, brilhante intelectual sorridente e bonzinho, durante um domingo inteiro. Um Chacrinha e suas chacretes revelando o que de melhor a cultura carioca tinha a dar ao país. Com direito a homenagem musical dos tropicalistas.
E não éramos consumidos como se fôssemos um produto. O consumo não enfeitiçava a ninguém, embora vivêssemos em plena Sociedade de Consumo, expressão criada por McLuhan e difundida nas décadas de 60, 70.

Não havia vício com televisão. Crianças e adolescentes não ficavam horas na frente da telinha, nem os pais emburreciam, livremente, vendo novela. Todos assistiam tudo, todo o tempo, pelo menos passivos, quietinhos, satisfeitos, como deve ser o bom público.

As propagandas eram de alto nível, desinteressadas, como a inesquecível Lei do Gerson no comercial de cigarros. Lembram da famosa frase: "O importante é levar vantagem". Cultura e caráter.

Não éramos sorrateiramente pesquisados para informar às empresas jamais, e IBOPE era a sigla de uma irmandade de franciscanos.

Polarização? Isto é realmente novo! Bons eram os slogans e palavras de ordem dos partidos de antigamente, nas quais ainda acreditávamos, os discursos dos políticos irmanando a todos independente de ideologias. A primeira metade do século XX não ocorreu, nem nazistas versus comunistas, ou vice-versa. Só as fake-news das oposições tentam nos dizer que estas coisas existiram. Nunca existiu a frase: Brasil, ame-o ou deixe-o. Nunca houve racismo, preconceito contra minorias (as minorias eram amontoados de seres invisíveis e mudos). Nunca ouvimos políticos conclamando à luta contra os valores burgueses e de classe média.
Hoje em dia, até políticos brasileiros importantes acabaram no xilindró. Como ousas, populaça!

O paraíso em que vivíamos se desfez.

Parece que tudo isto veio à tona, veio à luz, devido aos computadores. Por que será? A internet e suas redes realmente prejudicam. A pergunta que fica é: a quem?

sursum corda


To be "high" 

Is to be

Above the crowds.



domingo, 20 de setembro de 2020

Portugal


 Amo Portugal, de cá das beiras

Onde contemplo serra e vales,

Enamorados desde a vez primeira

Os meu olhares.


O clima ameno, as suaves gentes,

Límpido céu e seu colar de estrelas,

E as águas cristalinas de rios verdes,

Frias e belas.


Amo a vida segura que me envolve,

Mesmo nos dias em que o mundo exploda:

Estou em casa, Portugal, e amo viver-te

Por esta vida toda.



sábado, 19 de setembro de 2020

Semana Farroupilha

Tratado de Tordesilhas, padres jesuítas espanhóis criando as missões redutoras dos indígenas pampeanos na imensa região que seria mais tarde a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Gado europeu trazido pelos jesuítas espalha-se e prolifera livremente no pampa gaucho (gerando cerca de 12 milhões de cabeças de gado). As coroas portuguesa e espanhola expulsam os Jesuítas e destróem "las Misiones". Os Jesuítas não eram santos e tentaram dizimar as nações indígenas não-evangelizadas. Índias e europeus entrecruzam-se e surgem seus bebês, renegados pelos brancos e pelas tribos: o solitário Gaucho original, tentando sobreviver no deserto pampeano.

Na Revolução Farroupilha dos rio-grandenses contra o Império, dentro de espírito republicano e anti-escravagista, o gaúcho tornou-se o "herói farroupilha".

Acho interessante que os europeus que chegaram depois ao Rio Grande, os italianos, alemães, judeus, poloneses, etc. adotaram o espírito deste solitário herói fundador. Os Centros de Tradição Gaúcha (CTGs) são uma homenagem, um tanto estilizada, destes europeus ao miscigenado gaúcho, neto de portugueses, espanhóis e índios charrua, minuano, tupi-guarani. Os CTGs espalharam-se por boa parte do Brasil, levando pecuária, agricultura, religião e boas escolas.
Nas saídas de Porto alegre e outras regiões gaúchas há as reservas indígenas protegidas. No Uruguay e Argentina, as tribos pampeanas foram dizimadas, num absurdo genocídio programado para produzir uma "Civilização europeia" sem "Barbárie gaucha, indígena" (ler "Facundo, Civilização e Barbárie" do Domingo Sarmiento). Dizimadas exceto nos polimorfismos genéticos analisados no projeto Genoma Humano, e visíveis no delicioso tipo físico dos "cabecitas negras" de boa parte da população dos dois países hermanos.

Outra referência excelente: Cuando El Uruguay Era Sólo un Río:Testimonios de los Cronistas y los Viajeros, do Dr. Daniel Vidart






quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Picaretas espirituais


Entrei no youtube ontem para ouvir alguma música. Deparo-me com um vídeo intitulado: "zumbido nos ouvidos é causado pela ativação da glândula pineal", algo muito espiritual. A sábia senhora veste-se bem, cabelos bem cuidados, fala bem, com um sorriso bondoso...conheço o tipo. Nunca sei bem se é apenas incapacidade de julgamento, ou envolve algum traço sociopático, eventualmente apenas a busca de financiamento. Se eu fosse um pouco mais ignorante confesso que levaria a sério.
Amigos já perderam a vida, a sanidade, ou o trabalho pelas lorotas de gente assim. Alguns destruíram sua profissão ao enfiar-se na Amazonia para usar um "chá sagrado" e mirar Virgem Maria. Outros, estando doentes, preferiram fazer o ritual da dança de roda. Outros ainda, se meteram a experimentar os poderes curativos da cannabis sagrada e enlouqueceram. Conhecidos se mudaram para Brasília com medo das inundações decorrentes da "mudança de fuso do planeta". Há quem ainda olhe o céu esperando a chegada dos OVNIS prevista para 2019. O caos cultural brasileiro pode ter para-efeitos graves.
Dei-me, porém, ao trabalho de escrever no debate que segue o vídeo da senhora iluminada uma frase (humilde) de orientação aos que sofrem de zumbido:
-Zumbido nos ouvidos é uma manifestação de perda auditiva. Se sofres de zumbido, busca um Otorrinolaringologista!
Mas duvido que algum seguidor dessa senhora, literalmente me dê ouvidos.


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Etapas (tradução do poema Stages, da fase final da obra de Hermann Hesse)

 "Como cada flor murcha e toda a juventude se vai,

Assim a vida em cada fase,
Assim toda virtude,
Assim nossa compreensão da verdade
Florescem no seu momento
E não podem durar para sempre.
Já que a vida nos convoca em todas as idades
Esteja pronto, coração,
Para a despedida,
O novo empreendimento,
Esteja pronto com bravura e sem remorso
Para encontrar uma nova luz
Que os velhos laços já não podem dar.
Em todos os começos habita uma força mágica
Para nos proteger e ajudar a viver."

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

os brasileiros

Minha gratidão ao Brasil é imensa!
Neste país, vindo de uma família muito pobre (com toda a honra) de imigrantes europeus recebi ensino da melhor qualidade desde a Escola Primária à Universidade, sem jamais pagarmos um centavo. Nos Estados Unidos, estaria fadado a ser um americano de segunda categoria. No Brasil me fiz médico, investigador. E tive a honra de atender aos conterrâneos no maior Sistema de Saúde Pública do mundo, o SUS que envolve 200 milhões de pacientes do Oiapoque ao Chuí. Nos Estados Unidos não conheceria um sistema assim qualificado e amplo, pois lá inexiste. Tive a chance de trabalhar no melhor hospital público brasileiro, convivendo com as tecnologias mais avançadas, aprendendo com gigantes da Medicina, e tendo à disponibilidade laboratórios de pesquisa de alto nível, onde pude despertar meus interesses de cientista e fazer pesquisas que me puseram em contato com investigadores internacionais.
No Brasil financiamos nossa primeira casa e vivemos com a melhor qualidade.
No Brasil, aprendi que negros, brancos, amarelos, índios, não precisam, nem devem ficar separados em guetos raciais. O "caos" social brasileiro é o maior experimento sociológico do mundo, aos poucos sendo copiado por outros países. O Brasil gerou os mulatos, esta gente linda. Há quem diga que o Brasil chama os negros de negros por um tipo de maldade atávica, pois o negror seria a representação de coisas negativas. Dizem que os "afrodescendentes" deveriam ser denominados pretos. Não no Brasil: os afrodescendentes brasileiros não são pretos, são lindamente coloridos, numa infinidade de tons da cor do café-com-leite. E também os descendentes europeus: no Brasil tomam um tom dourado, aprendem um sorriso sedutor que em suas terras de origem inexiste. E os descendentes do Japão e da Ásia são brasileiríssimos.
Nossa alma se colore de Brasil, de uma certa doçura de coração, de uma nostalgia herdada dos lusos e modificada pelos trópicos. Tendo todos os defeitos conhecidos, quem é capaz de negar a grandiosidade deste país, deste povo que não disfarça suas mazelas nem mesmo em filmes e romances, ao contrário, corajosamente, se apresenta sem máscara. Raridade num mundo de aparências.
Ter nascido no Brasil foi a maior das oportunidades, foi a melhor das múltiplas vidas. Ah! sim estas crenças espiritualistas dos brasileiros fazem parte do preciosíssimo pacote. Graças a Deus!