sábado, 25 de março de 2023

Puer aeternus 3

 Vejo-me a envelhecer. 

As mãos que eram as minhas

Amarrotaram-se, e manchas marcam a pele.

Dói-me joelho, dói-me anca, dói-me às vezes

O pensamento. 


Mas canta igual, com o versejar que tinha

Ele mesmo, o infante a festejar nos meus poemas.


Voz de cristal, criando estrofes, sondando temas, 

Em Arte e Ciência, ele mesmo,

O eterno piá que, ao não crescer, 

É bem verdade, deu-me problemas,


Mas vejam só, a criança interna, 

Tão sonhadora e inda pequena,

É que, ao criar, sempre a brincar,

Faz-me sorrir, a cada dia,

Nas minhas penas.






sexta-feira, 3 de março de 2023

Curriculum vitae

Desde que me conheço por gente

Era um piá escrevente, 

Leitor faminto

Um tanto descrente,

Buscando palavras

Para expressar

O que vinha à mente


Ao observar esta vida

E tentar desvendar

Os segredos

Da eterna mutante.


Além das escritas

Produzia rabiscos, esboços,

Desenhos, manchas,

Pinturas, 

De cada mão, cada olhar,

Sorriso, ou postura,


 Céu, rio, rua,

Sentimento,

Para alguma folha 

Ou tela nua.


E ainda sou

O rabiscador

Do que vai neste mundo,


Com a alma na lua.