sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

igualdades

Às vezes me pego pensando se não se enganaram os idealizadores da Revolução Francesa ao inserir o item Igualdade, junto aos outros dois, Liberdade e Fraternidade. 
Se os ideais de Liberdade e a Fraternidade tem gerado desenvolvimento civilizatório evidente, levando o ser humano à plena expressão de suas potencialidades, desde que respeitando o espaço alheio, do irmão que tem igual direito a expressar-se e viver livremente, a igualdade entre os homens sempre me pareceu uma utopia inatingível cuja busca sem critério com frequência é danosa e redunda em fracasso. 
Movimentos que buscam a equidade de direitos para as mulheres, as minorias, e uma justiça para todos, obviamente são metas excelentes, que tem sido desenvolvidas nas sociedades mais liberais. Mas a existência da razão, ao longo do processo evolutivo, aguçou o que já se observa em menor escala entre animais: somos indivíduos, distintos, que, apenas em situações anômalas envolvendo algum tipo de embriaguez, regressam ao espírito de massa. A individuação, impossível sem liberdade, nos dignifica e a alteridade que, de algum modo separa, também nos une: somos irmãos e diversos. Todo processo de equalização forçada gera a perda da liberdade e frequentemente da fraternidade, como se viu nos socialismos de esquerda e direita que amordaçaram povos e ensanguentaram o século XX. A busca de uma utópica igualdade multiplica ódios e leva ao poder os mais brutos, gananciosos e despreparados. Gera regimes de terror.

O termo igualdade tem sido conceituado como o princípio da busca exclusiva de direitos iguais. Porém,a igualdade tem a ver, em um sentido mais amplo, com deveres e com a capacidade de realizá-los pessoalmente. 

Sentir-se igual implica em ter o sentimento de que, com garra, eu sou capaz de conquistar pessoalmente os direitos aos quais almejo: fazer-me na vida, nutrir a mim e aos meus queridos, obter confortos e sei lá o quê mais. Sou igual a ti e não preciso te roubar, ou corromper-me, ou usar vias desonestas, para crescer. 
A igualdade é um sentimento do indivíduo, e também da comunidade. 
Significa sentir-se auto-suficiente, saudável, capaz. Se eu e meu país somos iguais aos outros, podemos com esforço atingir como os melhores deles patamares mais elevados de experiência. 
Neste sentido amplo, sim, a igualdade é irmã da Liberdade e da Fraternidade, pois sem ela, somos dependentes de um grupo, partido ou governo, somos desiguais dos “competentes“ a quem invejamos. Demonizamos e tentamos destruir quem “chegou lá“. Somos a escória, indefinidamente. E seremos a escória mesmo com o bolso, e a cueca, cheios de dinheiro. Não seremos iguais. Fingiremos que o somos, pela prepotência e pelo cerceamento da liberdade alheia. 
Quem rouba, quem corrompe, nunca será mais e sempre saberá que é menos.

A principal fonte da igualdade chama-se Educação, cujos frutos são a auto-consciência e auto-suficiência. A igualdade neste caso não implica utopia, mas construção de escolas e formação de bons mestres.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

mimesis


O mundo entra
Pelas ventas,
Olho e ouvido,
E o artista daí
O absorve,
Banha-o no ouro
Do que é 
E o reinventa.

O talento da arte
É este:
Não copia, 
Co-cria.



                                            Niño comiendo uvas. Joaquin Sorolla (aquarela)