sábado, 25 de março de 2023

Puer aeternus 3

 Vejo-me a envelhecer. 

As mãos que eram as minhas

Amarrotaram-se, e manchas marcam a pele.

Dói-me joelho, dói-me anca, dói-me às vezes

O pensamento. 


Mas canta igual, com o versejar que tinha

Ele mesmo, o infante a festejar nos meus poemas.


Voz de cristal, criando estrofes, sondando temas, 

Em Arte e Ciência, ele mesmo,

O eterno piá que, ao não crescer, 

É bem verdade, deu-me problemas,


Mas vejam só, a criança interna, 

Tão sonhadora e inda pequena,

É que, ao criar, sempre a brincar,

Faz-me sorrir, a cada dia,

Nas minhas penas.






sexta-feira, 3 de março de 2023

Curriculum vitae

Desde que me conheço por gente

Era um piá escrevente, 

Leitor faminto

Um tanto descrente,

Buscando palavras

Para expressar

O que vinha à mente


Ao observar esta vida

E tentar desvendar

Os segredos

Da eterna mutante.


Além das escritas

Produzia rabiscos, esboços,

Desenhos, manchas,

Pinturas, 

De cada mão, cada olhar,

Sorriso, ou postura,


 Céu, rio, rua,

Sentimento,

Para alguma folha 

Ou tela nua.


E ainda sou

O rabiscador

Do que vai neste mundo,


Com a alma na lua.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Abuso sexual de menores em casa e, se não bastasse, na Igreja.

Para contextualizar aos amigos que se perguntam porque escrevo tanto. Por um lado, pelo gosto que tenho desde guri de pensar, ler e escrever. E, com a existência destas redes sociais, passei a publicar no Face book e neste blog que tenho.

Mas neste caso específico, escrevo porque em 1993 criei no Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre, um hospital de Trauma que atende as zonas mais carentes de minha cidade, o "Grupo de Proteção à Criança e ao Adolescente". O grupo tornou-se e se manteve uma realidade por décadas, incluindo profissionais da saúde como psicólogos (maravilhosos), enfermeiras (excelentes), técnicos de enfermagem e assistentes sociais, tendo apoio dos agentes do Ministério Público do Brasil, com base na regulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Cada paciente vítima de trauma, ou em qualquer sugestão de abuso, era criteriosamente acolhido e investigado, obviamente com atenção às questões éticas, para identificar violência ou abuso sexual extra- ou intrafamiliar. E assim fizemos, encaminhando inúmeros  casos ao Ministério Público e Conselho Tutelar. Foram décadas de trabalho, envolvendo a coleta de história clínica e psicológica, exames físicos e de imagem, investigação do meio comunitário das famílias pelo Serviço Social, da situação real em que as crianças viviam. 

Confesso aos amigos que até hoje sinto que esta tarefa, que iniciou sem muita expectativa, tornou-se a coisa mais linda e valiosa que fiz como profissional médico e pessoa.

Centenas de casos encontramos e encaminhamos.

Como dizia o querido amigo Prof. Mosca, embasado nas  suas leituras do Budismo Tibetano: "Os médicos não vão para o Céu porque conhecem o Segredo dos deuses". Uma frase lapidar.

Aqueles anos de trabalho no Grupo de Proteção aos menores abriu nossos olhos para a realidade, além da cotidiana violência, sobre o abuso sexual dos pequenos dentro de casa, com a conivência das suas mães dependentes emocional e financeiramente de  maridos ou "companheiros". Esvaiu-se a ingenuidade sobre a sacralidade da família. 

A realidade é trágica e o pior é que, após o processo judicial, as vítimas eram frequentemente re-encaminhadas ao "sacrossanto reduto do lar", ou seja, aos seus abusadores, por juízes despreparados, que pareciam desconhecer, ou negar, que a pena para o abuso sexual de menores no Brasil é cadeia.

Por falar em sacrossantas, este "médico que não vai para o Céu" aqui, ficou sabendo que, havendo-se trazido à tona a questão dos abusos sexuais na Igreja em Portugal, houve pelo menos 4.800 queixas de abusos perpetrados por padres da "Santa Madre". 

E por que a Igreja? Por que não os pastores protestantes, os monges zen budistas? Por que a Igreja, vocês não se perguntam? 

Um motivo pode ser que não se investiga nos outros grupos religiosos, mas sinceramente não creio. Ou seja, a causa não se relaciona a uma crença religiosa, à crença em Deus, ou ao Cristianismo especificamente, mas sim a uma questão particular relacionada à Igreja Católica.

E aí trago uma referência importante, publicada em 1946 pelo filósofo Bertrand Russell, intitulada "A History of Western Philosophy"

Eu, por curiosidade, tentava antes entender onde e porque o Celibato obrigatório tornou-se uma regra fundamental da Igreja Católica, e só na Igreja Católica. Os apóstolos de Jesus tinham vida sexual, filhos. Quanto a Jesus não se tem certeza, nem deve ser uma questão relevante, ainda mais se sabendo que os textos do Evangelho foram retorcidos, recriados, visando a produção de um tipo de ideologia, a tal ponto que Maria, mãe de Jesus, foi "tornada virgem". Eu tentava desvendar isto e consegui a resposta com o grande Russell.

Pois bem, deixando o lado "sacrossanto", descobri que a obrigatoriedade do celibato na Igreja só surgiu no século XI, uma era terrível para a fé cristã, quando a Igreja, por exemplo, utilizou o Terror totalitário contra populações consideradas hereges como os Cátaros, dizimando-os. E obrigou os padres e freiras ao Celibato. Portanto, o celibato obrigatório para padres e freiras na Igreja foi instaurado no século XI por interesses econômicos, visando a evitar que as heranças das possíveis famílias dos religiosos (muitos deles oriundos da Nobreza) passassem para as proles de herdeiros. As fortunas permaneceram na Igreja, para o bem "da causa".

Ou seja, há 10 séculos um grupo imenso de seres humanos passou a ser proibido de amadurecer sexual e emocionalmente através da experiência dos amores familiares e, por que não, extra-familiares (direito concedido pela vida a cada um de nós, seres humanos).

Esta tragédia humanitária que envolve a estruturação da Igreja Católica pode ser a causa de que pessoas, apesar de serem devotadas sinceramente ao Sagrado, tornem-se agentes de atos perversos contra vítimas indefesas, os menores, a grande maioria com até 11 anos de idade. É lamentável.  Obviamente, cada um destes adultos abusadores é responsável por seus atos e deve ser julgado e, conforme, condenado. 

Mas o mais triste é reconhecer, como bem sabem os que "conhecem os segredos dos deuses", que a Santa Madre Igreja, não vai, muito provavelmente, abrir mão da obrigatoriedade do infamante Celibato Obrigatório, um de seus "pecados institucionais".

Quanto aos demais, especialmente os colegas e alunos, vamos proteger os menores da ação nefasta dos abusadores, tanto os das famílias quanto os das Igrejas!

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O riacho (lembrando de Rumi)

Lembrando de Rumi


Tesouro de todas as cores a emanarem brilhos:

Um curso de água

A fluir lentamente

Tocado pelo Sol.


Qual joia preciosa, qual coroa de rei

Imita aos sentidos a beleza

De um riacho lentamente a mover-se 

Beijado pela luz do Sol?


sábado, 21 de janeiro de 2023

Deuses malditos (todos, de qualquer lado)

(Lembrando de Luchino Visconti e seu La Caduta degli dei, 

traduzido no Brasil como “Os deuses malditos”)


Deixei de crer nos deuses malditos,

Os tais "gênios" devoradores de valores,

Ao decifrar meus próprios mitos

Revelados pelos sonhos e amores.


Calei a lábia desses "deuses decaídos"

Destiladores de ideologias

Que confrontavam nos meus ouvidos

Cacofônicas filosofias.


Pude ver na realidade os frutos podres

Da criação de um Novo Mundo:

Crimes, Terror, arbítrio e fome.


Os ativistas destruidores do que existe,

Jamais atingem algum oposto desejável

Pois arrasam o melhor que há no Homem.


Amo Portugal

 

Amo Portugal
Isto já é certo,
Este estar quieto
Por fora
E por dentro 
Completo.

Amo estar 
Sob o meu teto.
Amo o Portugal
Do amor discreto.

Amo seus verbos
No infinitivo
Em que ir vivendo
É estar (bem) vivo.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

As Tragédias do Uso Político-Social da Ciência, ou os Ativismos Modernos.

Toda mistura de Ciência e/ou Filosofia com Ativismo Político-Social é perigosa, recorrentemente com dramáticas (e criminosas) consequências. 

O ativismo tem sido gerado no Ocidente a partir de ideologias que decorrem deste ou daquele Sistema de "verdades" científicas ou filosóficas. Foi assim com o uso (inadequado) da Ciência Econômica, que gerou o Marxismo e suas vertentes; da Genética que gerou o Nazismo e as ideologias racistas; da Física que levou, e talvez ainda o faça, às lutas ideológicas envolvidas na Guerra Fria. 

Uma importante origem desta situação foi o Idealismo Alemão especialmente o Pós-Kantiano, que objetivava preencher o vazio deixado pela "derrocada das religiões" como modelos explicativos e, mais do que isto, regulatórios da Civilização Ocidental. Marx, Hegel, Heidegger são tristes exemplos disto. A Ciência, além de tornar-se a fonte das "verdades" passou a ser o gerador de ideologias e de ativismos sempre com os "melhores objetivos possíveis" para a criação do "Novo Mundo". Como vi num filme um dia destes, dentro de "um espírito de violar o que tem sido inviolável". Os resultados são óbvios quando se faz uma leitura honesta da História desde o fim do século XIX.

Um dos novos ativismos une Meteorologia e Ecologia pela "sobrevivência da Humanidade", baseando-se em dados tomados como Verdades (tão absolutas como as das religiões) de que o aquecimento global é causado pela espécie humana. O que temos ouvido dizer todos os dias (como uma acusação de culpa por existirmos individual e coletivamente) é que as emissões de Carbono pelos seres humanos são as responsáveis pelo aquecimento global. E os culpados principais, dignos de recriminação são os vândalos latino-americanos, especialmente o Brasil, único país a manter extensões consideráveis (63% atualmente) de florestas virgens.  Jamais os países desenvolvidos (que são ricos entre outras coisas por haverem transformado suas terras em objeto de consumo e produção econômica). Os culpados seriam, como sempre, os pobres, devidos a algum defeito cultural congênito. 

Este tipo de projeto científico, contudo, assemelha-se aos estudos de risco da Nutrologia. São analisados conjuntos de fatores como a ingesta de café, ovos, diferentes tipos de açúcares, tabaco etc...buscando detectar correlações estatísticas com os efeitos para se chegar ao "vilão" e ao "efeito protetor". Alguns dados são mais ou menos corretos e corroborados ao longo do tempo, mas a maioria dos estudos são incompletos ou confundem variáveis. Sem contar o uso por ativistas de dados de pseudo-Ciência. Há de tudo: vacinas sendo consideradas causas de efeitos adversos; proibição à ingesta de determinados alimentos como ovos, azeite, gorduras, frutas, nutrientes específicos como proteínas, glúten (para não-celíacos) etc., etc., etc...Modas assumidas por ativistas num uso inapropriado dos achados (na maioria ainda falhos).

Em relação à questão climática, alguns dados surgiram recentemente indicando que o verdadeiro "pulmão do mundo" chama-se Oceano, fator responsável pelo metabolismo planetário do CO2.

Ontem assisti um programa sobre a ecologia do vapor de água que tem sido estudado nas grande florestas da Amazônia, África, Ásia (especificamente do Norte da Rússia), entre outras. Pois bem a nova hipótese é de que já não o CO2, nem o gás metano eliminados pelo gado, mas a manutenção per se das matas que atraem o vapor, e formam as gotículas de chuva (com ajuda de alguns núcleos de moléculas atmosféricas específicas), a qual regula os ciclos de seca e chuva em larga escala no planeta. Não entro em detalhes. 

O que desejo refletir é sobre os limites do método científico e mais do que isto sobre o risco de utilização deste método por ideólogos e ativistas, gerando políticas com base na desinformação e prejudiciais (como sempre aos mais fracos). 

Exemplifico com meu país: na Amazônia Brasileira vivem 23 milhões de pessoas, há estradas, cidades, fazendas, tribos indígenas, populações ribeirinhas, como bem explicava no programa um cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. "Onde há ser humanos há queimadas", como ele disse e eu constato aqui na Europa. O que se faz com estas pessoas? Prende-se? Expulsa-se de suas propriedades? Transfere-se maciçamente para outras partes do país, ou outros países (caso sejam aceitos), numa solução tipicamente nazi (foi assim a "Primeira Solução" do partido Nazista)? Ou se parte para alguma "solução final"? Os latino-americanos devem continuar sacrificando-se pelo Primeiro Mundo. 

Pode haver soluções negociadas caso se prove por A mais B alguns dados em relação à causa do desequilíbrio climático. Os europeus têm o dever de reflorestar (com espécies nativas, não eucaliptos e pinhos) seu imenso continente. O mesmo em relação aos norte-americanos. Ou propor outras outras estratégias inteligentes baseadas nos dados científicos que vão surgir.

O que assusta é a estupidez dos ativismos com seus dedos em riste, gritos acusadores, propostas desumanas. Têm um fervor de "religião laica" comparável ao dos cristãos medievais e muçulmanos jihadistas. E podem transformar o tal "Mundo Novo" num "inferno bíblico". 

Professar uma religião ou Ideologia não torna grandiosa um vida medíocre, mas pode, isto sim, nos fazer cúmplices.


sábado, 7 de janeiro de 2023

os incomuns



Sou do tipo incomum 

Que fica feliz

Quando há neblinas 

Numa tarde gris. 


Nuvens flutuando 

Nas ruas comuns

Pintam de mistério

Qualquer esquina,

E os horizontes 

Despercebidos

São como a presença

Só pressentida

Das coisas divinas.


Mas eu amo também

As cores pintadas

Por suaves chamas

De alguma brasa

Que ao se desfazer

Dá vida à  casa.


Alegrias tão simples

De quem ama o inverno

Como decifrar sonhos

E sussurrar versos.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O Admirável Novo!

Algo novo, algo novo!


Tremem os gênios, os doidos,

Gritam os idiotas,

Os políticos espertos, os ideólogos, algo novo!

Que comova multidões,

Que gere frêmito e paixões,

E se imponha às gentes.

Novo que o mundo crê que ignora,

Mas a memória revive ou pressente...

E se não há quem crie o Novo

Que se o importe

De algum povo rico que invente.


Eutanásia!

(Inda que se danem 

Nos centros de saúde, nas enfermarias,

Os doentes,

Malcuidados e sem analgesia).


Aborto, Infanticídio!

(Que as mulheres sejam

A massa de manobra

A destruir, em liberdade,

Bocas inúteis,

Suas inúteis crias).


O Novo! O Novo!

Que se transforme a Medicina

No ofício que, como esmola, extermina.


Este Novo

Que renasce de atavismos,

Fruto podre de uma selva arcaica,

Berço dos filicídios, parricídios,

Avós e crianças

Largados ao relento.

Tempero secreto dos totalitarismos.


Este Novo, que devora

O mais belo símbolo 

Que um dia ousou sonhar

A Humanidade

Em que não matar

Fosse a regra de ouro,

A Primeira Verdade.


Este Novo, vitória desesperada

Da miséria moral de umas gentes 

Moribundas, endinheiradas.




quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Brasil 2023

 

Quando as ruas deixaram de ser tuas
E tornaram-se crimes e tragédias,
Tua casa invadida por facínoras 
A pregar a corrupção dos teus valores?

Onde ficaram os serões entre amigos,
Em que o chimarrão girava nas conversas,
Diante das casas do teu bairro antigo?
Quando se refugiaram teus vizinhos?

Quando os irmãos tornaram-se inimigos
Divididos nas disputas das escórias?
Quando perdeste a fé no Ser Humano?

Se podes ser o que eras antes disso
Reviverás  a alma que te habita
E paira muito além desses esgotos.


domingo, 23 de outubro de 2022

Outono 2022

Quando paro, olho na janela envidraçada

O que é a vida que flui, sem pensar nada

E vejo claro o que me dá este momento:

Montes coroados pelas nuvens, e o vento.


Como posso só agora olhar a paisagem,

-Perdido que eu estava em mil trabalhos-

Para eternizar em mim a foto de viagem,

Tela do mundo exposta aos sentimentos.


Que ruído me impedia este acasalamento

Com a vida a dançar em pleno Outono?

Sou todo olhar agora, todo apenas ver


As prendas impermanentes que se tecem

Bordadas, sem palavras, qual se fossem

Silenciosas mensagens do que é Ser.


sábado, 15 de outubro de 2022

A sacralidade e os ateus

Sobre "sacralidade" da vida humana: um ateu culto pode dar-se conta de que o "não matarás" representa a base da Civilização Humana, que se desenvolveu ao transcender da Barbárie Original. A expressão "valor sagrado" tem o significado de valor fundador, fundamental, sem o qual não há Lei. É tão precioso que tornou-se o símbolo de "Primeira Ordem" na Lei Mosaica (uma das civilizações mais antigas e, portanto, experientes da Humanidade). Isto vale para reflexões sobre eutanásia, pena de morte, aborto, infanticídio.  Matar degrada pessoas e comunidades ao nível mais primitivo e bárbaro. 

Sobre o embrião, o mesmo ateu sabe que ele não representa um "aglomerado de células", que pode vir idêntico numa nova tentativa. Quem conhece um pouco de Embriologia e Genética, sabe perfeitamente, que um ovo humano, tem em si um arranjo genético ÚNICO, graças a todas as transformações moleculares, os crossing-overs, as influências intrônicas e modificações exômicas.

Do ponto de vista biológico, aquele embrião que se desenvolve não ocorrerá nunca mais, ou seja, ao matá-lo ele será eliminado da vida e da História Humana. É um Ser Humano, esta palavra que deveria ter um valor símbólico de "religioso", numinoso (de Numen), "divino" (independente de se crer num deus) para uma Civilização que se preze. Assassiná-lo significa retirar do futuro da Humanidade algum gênio, santo, ou qualquer pessoa, que merece ser recebida de braços abertos. Do ponto de vista biológico (e isto não tem a ver com fantasias transcendentais ), esta pessoa (única, específica) foi definitivamente descartada do futuro.  Independente de ela vir ao mundo com saúde ou doença. Pior ainda, eviscerar fetos plenamente senscientes após a 12ª semana é um crime covarde do pior tipo. Assim como o infanticídio ("after-birth abortion") recentemente legalizado na Holanda.

Hoje em dia há leis da Alemanha protegendo embriões de frangos! E os humanos?

De 1973 a 2017 foram assassinados intra-útero 40 milhões de seres humanos nos Estados Unidos (seria população de país inteiro) pelo uso "anticonceptivo" do aborto. A discussão técnica adequada a algumas situações deve ser feita  para liberar abortos quando há risco de vida de uma mulher adulta ou adolescente, com certeza. 

O resto é hedonismo grosseiro, insensibilidade desumana, conduta eugênica cujos resultados conhecemos bem desde o lema nazista da "vida indigna de ser vivida"  (Vernichtung lebensunwerten Lebens) de tão triste memória.

domingo, 9 de outubro de 2022

Aos rebeldes

Os heróis do Romantismo moderno tem sido rebeldes. Rimbaud, Byron etc., etc. Vendo a rebeldia da garotada atual pichada nas paredes de cidades históricas portuguesas como via o vandalismo generalizado das paredes do Brasil, eu fico pensando:
Caro rebelde que usa as paredes públicas como se fossem espaço seu, creio que você é um corrupto. Sem ser visto, escondido, você vandaliza o que não é seu, como o vagabundo engravatado rouba as finanças dos seus pais, do seu país, como se fosse coisa dele e dos aliados.
Se você sabe escrever com talento e criatividade, o faça no computador, em blogs, em papel, poemas, crie arte com palavras, estude com gana e estruture textos de crítica. Crie crônicas, contos. Se gosta mesmo de Inglês, aprofunde e escreva o que quiser nessa língua, ou em Francês, como bem queira. 
Se você ama desenhar e pintar, crie quadros, nas bases corretas seja papel, madeira ou telas, desenvolva um processo criativo só seu, desenhe. Aprenda a fazer murais e então e participe de projetos de Arte Urbana, a pedido, onde seu trabalho será admirado pela coletividade. 
Mas se você é medíocre, se só sabe rabiscar algumas frases e "conselhos para o mundo", ou ainda pior, inventar uns garranchos incompreensíveis como fazem as crianças antes de se alfabetizar. Se seus desenhos são medíocres e só enfeiam a vizinhança, tanto que você rabisca no escuro para não ser visto, então, caro rebelde, tome uma atitude corajosa, vá à luta e assuma as consequências da sua rebeldia: faça em sua própria pele os garranchos, tatue-se com suas frases e conselhos, com seus desenhos malfeitos. Ou nas paredes da casa de sua família! Seja rebelde no seu próprio corpo, na própria casa, mas deixe nossas paredes em paz. Não nos roube a beleza dos espaços urbanos com a sua mediocridade.

sábado, 8 de outubro de 2022

O Tempo Voa

"Ainsi, toujours poussés vers de nouveaux rivages,
Dans la nuit éternelle emportés sans retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l'océan des âges
Jeter l'ancre un seul jour? "

Le Lac, Alphonse de Lamartine

O tempo voa
E vem pousar 
Dentro da gente
Nas memórias
Gestantes 
Do Presente.

As histórias, então, 
Seguem em frente,
Ou nos trazem
O passado
De presente,

E assim somos
Mutantes
Do Futuro
Pelos genes
Transmutados
Por memórias.

Voa o tempo
Mas repousa
Qual semente
No coração  
Que revive
Em pensamento
Os tesouros 
Das memórias
Renascidos,
Pelo tempo
Que ao fluir
É como vento.


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

A Obra

A água mansamente vai fluída.  

Do largo rio a pele se arrepia

E chilreios soam, suaves pios

De alguma passarada escondida.


A brisa é a cortina a mover-se,

O coração a manter-se é a vida

E a alma emociona-se ao ver-se

Finalmente fonte despoluída.


Tudo valeu, o veneno consumido

Tornou-se o bálsamo da cura,

Tesão gerou amor e sua memória,

   

Lucidez destilou-se da loucura,

A Obra prometida veio à História

E minha sede bebe a água pura.


quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Mirada de Andalucía


Memórias ainda vivas. Lembro de minha irmã Carmen Vives chegando da escola, o Instituto de Educação General Flores da Cunha, com camisa branca e vestido azul marinho, a me abraçar, pentear, a me cuidar. Uma segunda mãe que a vida me deu. Ensinava-me o hino da Escola: "...o IE a rebrilhar". Contava as histórias da escola: uma colega que cantava no Programa do Guri, TV Piratini, e era ofendida pelas demais por ser "namoradeira" (coisas do início dos anos 60). No aniversário desta colega, nenhuma das convidadas apareceu. Algum tempo depois a garota que sofria bullying encontrou com minha mana no ônibus 78 que ia ao Menino Deus, onde morávamos, e disse que, além de aprender tricô estava indo para o Rio de Janeiro, ou São Paulo, pois tinha sido convidada a gravar um disco. O nome da guria era Elis Regina. Pelo que lembro da Elis, ela nunca perdoou aqueles maus-tratos portoalegrenses. Mas o tema não é a cantora, mas a amiga que a ouvia e se interessava por suas confissões. Por este tempo, Carmen já era uma jovem "morocha de ojos verdes". Minha irmã foi a única mulher que conheço (corrijam-me!) que era loira e pintava os cabelos de preto. Para ser uma "morena de olhos verdes". Minha irmã, aos meus olhos de menino era uma espanhola. O nome "Carmen com n" foi coisa de nosso pai, por que lhe agradava a grafia em espanhol. Mas Carmen, além do nome, tinha algo de espanhol. Uma força, uma firmeza, uma dignidade únicas. Um olhar forte, que hoje eu chamaria "mirada de Andalucía".
Logo que pôde, conseguiu um emprego e trabalhava para ajudar à família. Fez carreira, com inteligência e brilho, como Secretária da direção do Hospital Ernesto Dornelles. Lembro que os primeiros salários que recebeu serviram para me comprar uns presente inesquecíveis: um traje azul marinho com um Chevrolet bordado num dos bolsos (lindo), um casaco de couro para o inverno (verde militar com estrias em siena) tão elegante que eu usaria hoje, e uma coleção das obras completas do Érico Veríssimo. Li estes livros ao longo da minha infância e creio que fui influenciado em vários aspectos por estas leituras. Gracias, mana!
Minha mana espanhola tinha uma personalidade intensa e bem estruturada desde menina. E esta morena de olhos verdes, charmosa, bem vestida, enlouquecia pretendentes (obviamente sob rígido controle do pai e da mãe). Choviam pretendentes que ela ia descartando independente de dinheiro, de belezas, de automóveis e futilidades afins. Carmen sabia o que queria. Pois vi minha irmã se encantar, casar, formar família, com um homem que lhe faz feliz até hoje, e lhe deu um sobrenome espanhol. Construíram uma família maravilhosa e Gilberto Vives, meu cunhado, aprendeu a respeitar os humores e vontades de "doña Carmen Vives". Se algo importante não lhe agradava, a mana criava um clima poderoso de silêncio, um distanciamento mental firme que exigia um pedido de desculpa para que o coração magnífico, doce e gentil de minha irmã voltasse a florescer na vida em comum. Minha irmã, não se dava à deselegância de brigar, afastava-se. Aprendi isto com ela, como tantas outras coisas. Minha irmã venceu imensas batalhas para criar os filhos. Ajudou nossa mãe. E uma das minhas alegrias é ver a felicidade dos Vives. Meus sobrinhos e sobrinhas do coração, dignos, esforçados, honestos. Coisa dos Vives, Carmen e Gilberto. E ver minha irmã aos 80 anos ainda jovem, fazendo viagens pelo Brasil e pelo mundo (nos visitou em Portugal), sorridente, inteligente, como sempre bonita e, finalmente, loira...😍
Querida mana, feliz aniversário! Saúde, felicidade, força sempre. E que a festa que preparam para ti seja de arromba! Dança um bolero por mim. Vou te visitar logo que possa.
Beijo do teu mano. 

domingo, 21 de agosto de 2022

Demagogos

 

Os demagogos surgem dos esgotos
De escusos projetos e inveja.
Como se fosse pelo bem dos outros
Tecem as teias dos próprios desejos.

Destroem pátrias, geram miseráveis,
Dividem povos a implantar cizânia,
Berrando hinos pelas igualdades
Conduzem tolos numa “nau de insanos”.

Os demagogos vomitam palavras,
E mancham ideais com os dejetos
De sua medíocre sanha de poder.

Pobre é o povo que lhe cai nas garras:
Por liberdade, prendem-no a amarras,
Por igualdade, levam-no a morrer.



terça-feira, 16 de agosto de 2022

Rosa

 Eu te via, linda figura, alma ampla,

Joia de outras terras, outros tempos,

Regando os brotos que cresciam no jardim:

Os teus amores, com amores para mim.


Teus olhos de um azul mediterrâneo,

Recordavam paisagens de altos montes

Enquanto cozinhavas horizontes

Aos teus amores, com sabores para mim.


E com as histórias da vida que sofreste,

Teceste os bordados de um contexto

A atapetar os vazios do meu caminho.


E foi tanto teu amor, tão liberado,

Que esta cria que educaste no passado

Pode voar ao seu melhor fora do ninho.




segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Sonho do que houver

Não serei poeta de dramalhões românticos, 
Maldizendo a vida ou amor desfeito, 
Planeando a destruição do Mal "dos outros", 
Buscando a morte como cura dos defeitos. 

 Não serei herói romântico à francesa, 
Desses que, morando em mansões, 
Destruiriam a moral burguesa, 
A morrer jovens e loucos com milhões. 

 Não usarei versos em riste, tão comuns, 
Para acusar os podres deste mundo, 
Pois quanto aos podres já bastam as TVs. 

 Farei poemas meus desde o que sou, 
Sem poetar como nos manda a moda, 
Meus versos serão os sonhos do que houver.

sábado, 16 de julho de 2022

Covilhã

Seu passado remonta aos imemoriais

Tempos em que era abrigo de pastores

Lusos, e fortaleza romana com nome de poesia:

Cava Juliana,

No sopé dos montes Herminios,

A Serra da Estrela.


Fez-se vila no século doze

Quando Dom Sancho

Ergueu as muralhas de seu castelo

E Dom Dinis, o rei-poeta, definiu

O bairro medieval.


-A América nem sonhava nascer. -


No Medievo, entre as mais ricas 

“Vilas do Reino”, gerou navegadores 

Que cruzaram oceanos

E atingiram o Inatingido.

Circum-navegaram o mundo

Descobrindo, com engenho 

Em Ciências Náuticas, 

O até então inexistente

Em África, Ásia, e na América,

A Terra de Santa Cruz.

Diogo Alves da Cunha conquistou Ceuta,

Pêro da Covilhã chegou a Moçambique,

E um certo Pedro Álvares da família Cabral

De Belmonte gerou o Novo mundo.


No Renascimento, seus campos 

Alimentavam povos,

E o talento de sua burguesia

Criou Comércio e Indústria,

A produzir os “panos finos” 

Como o disse Gil Vicente.

E tanto fez que Dom Henrique, o Infante,

Tornou-se seu Senhor.

Tanto brilho que o rei Dom Sebastião

Intitulou-a  “notável”,

E os reis “castelhanos” e portugueses 

A enriqueceram de obras belas.


As ribeiras que descem a Serra

E atravessam a cidade 

Sustentaram

As indústrias poderosas

Dos refinados tecidos

Exportados ao mundo

Desde Covilhã,

A “Manchester de Portugal”.

 

Século Vinte, tempos turvos,

De anti(t)éticas ideologias

Do “Outro mundo possível”

Que transformaram o que havia

Em destroços, fábricas em ruínas, 

(como ocorre na América Latina

Ainda hoje em dia.

Tempos de fuga por fome e rancor.)


Mas Covilhã, esta reergueu-se

E trouxe à vida a Universidade

Da Beira Interior.

Tece saberes e tecnologias,

Gesta outros “finos panos”

Da Cultura, férteis campos

Das Ciências, outras riquezas 

Para outros tempos.


Seus navegantes singram os mares 

Da Impossibilidade

No ideal que os irmana

De desvendar o fundo 

Obscuro do mundo Natural,

E da natureza Humana,

Na romana, lusa 

Covilhã.

A Cava Juliana.






domingo, 10 de julho de 2022

As origens dos mitos

 No caminho para uma praia fluvial hoje em meio a estas paisagens incríveis de montanhas e campo do interior Português, vi algo pela primeira vez e me tocou. Num grande terreno dourado onde se fazia a colheita do trigo, estavam centenas de cegonhas recolhendo os restos da colheita e levavam para alimentar os seus recém-nascidos os grãos que coletavam. Nesta região, como em toda península, sobre antigas construções, torres de Igrejas, chaminés de pedra de alguma empresa abandonada, as cegonhas constroem imensos ninhos de palha. Migram entre África e a Península Ibérica - e creio que em toda a Costa Mediterrânea-, voltando ao antigo ninho naquela lembrada torre onde foram alimentados por seus pais para alimentar aos seus filhotes gerados aqui. Algum tipo de memória ancestral, ou nem tão ancestral, que mantém estes seres alados belíssimos, brancos, enormes, envolvidos no dever “sagrado” de migrar para gerar e manter a espécie, seus filhos, e proteger os recém-nascidos acima de tudo. Aqui percebi profundamente o símbolo belíssimo da cegonha em relação à geração dos bebés. As cegonhas e seus bebés que são amados e protegidos aqui, como deve ser.

domingo, 5 de junho de 2022

somos galáxias

 "Eu sou uma galáxia, você é uma galáxia".

Vangelis


Somos galáxias,

Em nós convivem os bilhões de seres,

Cada qual minúsculo e imenso,

Que existem 

Para que existamos.

Complexos seres

Que ao viver em nós

Dão-nos a vida.

Interligados por

Matéria obscura, 

Desconhecida.


Somos galáxias, 

E no centro da cabeça

Pulsa o círculo de fogo

Que alguns crêem ser 

Negro buraco,

Monstro devorador,

O Nada apenas.


Silencioso círculo de fogo,

Ovo de onde brota

Plenitude:

Eu em torno ao qual 

O cosmos gira.


Sagrado círculo

Onde se calam tempo e espaço,

Nossa vertente

Onde Shiva dança,

E no fundo deste fundo,

Há passagem de

Outros mundos:

Fonte de sonhos 

E mudança.


domingo, 29 de maio de 2022

NEOMED Inc.: distopia sobre a morte da Medicina

Senhores e senhoras, meninas e meninos, 

Caros clientes,

Somos uma empresa inovadora que presta serviços dentro do Novo Sistema de Saúde. O Sistema Arcaico, baseava-se num pensamento mágico-religioso e sofria os entraves da regulação por valores judaico-cristãos, os quais restringiam o empoderamento d@ cliente na gestão de sua própria terapêutica. Tudo mudou desde que em 1973 você, cliente, passou a determinar o que deve ser feito. 

O então denominado “Médico” era um profissional todo-poderoso que disfarçava o Paternalismo de suas condutas ao impingir preconceitos e valores contra a vontade d@ cliente. 

O Novo Sistema de Saúde, surgido nos países desenvolvidos após ampla discussão entre técnicos, filósofos, juristas, pesquisadores e políticos, libertou-se dos valores até então considerados civilizados e lançou o atual adaptado aos novos tempos do Niilismo Libertador. Não mais impedimentos ao desejo do cliente, cuja vida e a vida de suas crias, dizem respeito somente a ele/a mesmo. 
E, fundamental, livrou o Sistema de Saúde de imensos gastos inúteis de dinheiro

As opções da NEO-MED para você  

Apresentaremos nossas novas opões neo-terapêuticas para que você, cliente, chegue a usufruir das benesses do Novo Sistema de Saúde. 

Nossos serviços incluem um bem elaborado protocolo, feito especificamente para cada cliente, por Filósofos e Eticistas capazes de justificar as escolhas d@s clientes de acordo com as melhores e mais atualizadas referências bibliográficas da área da Neo-Saúde, Filosofia e Neo-Direito Global. Estes protocolos que devem obrigatoriamente ser enviados às instâncias superiores de Regulação em Saúde, serão julgados quanto a qualidade discursiva dos argumentos para adaptação ao total respeito à vontade d@ cliente, dentro de critérios isentos de valores arcaicos e, portanto, dentro da abordagem contemporânea do Niilismo Libertador.

Entre as opções independentes de gênero, @ cliente poderá solicitar:

1. Suicídios assistidos, realizados por eutanasistas experientes, em confortáveis SPAs onde o cliente pode usufruir de uma morte como @ cliente NEO-MED merece, rápida e indolor.

(Obs.- Caso haja a presença de parentes e amigos para os festejos de desfecho induzido, os preços serão acrescidos de 20%.  Bufês especiais, incluindo peruano, japonês, francês com espumantes acréscimo de 60% nas despesas. Suicídios assistidos de pessoas apenas deprimidas, ou em situações de crise ideológica, com vontade de experimentar, ou ainda por questões pessoais que não interessam a outrem terão acréscimo às despesas de 15%).

-além das eutanásias-padrão em situações de fim-de-vida na vigência de sofrimento realizadas também em hospitais a serviço do Estado Progressista, a NEO-MED oferece as "Eutanásias Liberadoras" pelas quais os familiares poderão libertar-se em um dos nossos SPAs  de um parente que considerem com "vida indigna de ser vivida". 

(Obs.- Caso @ padecente tenha alguma situação considerada pelo Neo-Direito Global como “indigna de ser vivida”, incluindo doenças crônicas com incapacidade de comunicação, esquizofrenia, retardo mental, demências, ou qualquer condição que o ponha nas mãos dos interesses e vontades familiares, a NEO-MED considerará como clientes os seus responsáveis legais, os familiares, e libertará a família da “situação indigna de ser compartilhada”. Neste caso, o processo de transferência dos bens do paciente aos familiares poderá ser realizado pela NEO-MED envolvendo pagamento para a empresa de apenas 1% do total do valor do espólio, bem abaixo dos 5% exigidos pelo Estado Progressista.)

2. Para as mulheres especificamente que, por serem as recetoras obrigatórias e obrigadas dos embriões das crias humanas, a NEO-MED garante condutas perfeitamente adaptadas ao seu empoderamento, oferecendo todas as liberdades que uma cliente NEO-MED merece:

-abortos em nossos SPAs, com todas as comodidades (caso a mulher libere os embriões ao Serviço de Saúde para investigação científica, haverá redução das despesas do aborto em 5%);

-infanticídios de crias após a 12ª semana de vida gestacional até o fim da gestação inclusive (5% adicional no preço, devido aos procedimentos cirúrgicos de destruição e descarte das crias);

- infanticídios de crias cronicamente doentes, com incapacidades, independente da idade (neste caso, os gastos podem ser debitados ao Neo-Sistema de Saúde);

(Obs.- no caso de adolescentes, estes são automaticamente considerad@s clientes NEO-MED e poderão solicitar suicídios assistidos, realizados por nossos eutanasistas.)

3. Outro importante serviço da NEO-MED, inclui a liberação absoluta de prescrições ao uso de psicotrópicos, dentro Projeto “É Proibido Proibir”, independente da idade dos usuários e da classe de drogas, sem qualquer necessidade de justificativas moralistas do tipo "uso terapêutico". 
(Obs.- os custos dos eventuais efeitos adversos do uso destes produtos ficarão a cargo do Novo Sistema de Saúde, inclusive aqueles relacionados à mudança da vida do usuário para a categoria "indigna de ser vivida", como défice cognitivo incapacitante, esquizofrenia, demências, dependência química e depressão crônica. No caso de risco de suicídio, @ cliente poderá sim usufruir dos serviços descritos no item 1.)

Então cliente, lhe parece bem? Fazemos a sua vontade? 

Como percebe, oferecemos o que de melhor o Novo Serviço de Saúde pode prover para valorizar a autonomia d@ cliente, de modo confortável, cercad@ de todas as vantagens de ser cliente de uma empresa com a tradição NEO-MED, sob os cuidados de técnicos e servidores da Saúde, técnicos eutanasistas e infanticidas qualificados nos cursos NEO-MED (os trabalhadores do Sistema de Saúde que substituíram os profissionais arcaicos, antigamente denominados “Médicos”).


domingo, 8 de maio de 2022

Camus e o crime perfeito

Primeiro parágrafo da obra "O Homem Revoltado", de Albert Camus, em que denuncia o regime criminoso da União Soviética que contava com o apoio silencioso e cúmplice da intelectualidade europeia ligada na década de 60 aos partidos comunistas, especialmente os franceses. 

Camus, Prêmio Nobel de Literatura, autor entre outros de "A Peste" e desta joia que cito:

“Existem crimes de paixão e crimes de lógica. O Código Penal distingue-os, muito facilmente, recorrendo à ideia de premeditação. Estamos na época da premeditação e do crime perfeito. Os nossos criminosos já não são aqueles jovens desarmados que invocavam o amor como desculpa. 

Pelo contrário, são adultos, e o seu álibi é irrefutável: é a filosofia, que pode servir para tudo, até para transformar os assassinos em juízes.

Esta última frase é pura Sabedoria.


domingo, 1 de maio de 2022

A perda de rumo

 Lendo um artigo sobre abandono de crianças e infanticídio na Grécia Antiga, e a História da Proteção à Criança surgida a partir  do Cristianismo, eu me dou conta de que o Ocidente retrocedeu aos seus lamentáveis primórdios. Longe de "valorizar a autonomia da mulher", a revolução feminista manteve a mulher como aquela que tem o "dever de livrar-se de seu pecado, ou de seu fruto doente" descartando seu bebé. A responsabilidade da degradação que é matar continua a ser da mulher, jamais do senhor (esposo, pai, etc). A mulher se mantém sem autononomia financeira, é ainda criada para ser a eterna (romântica) cumpridora dos desejos do seu amo e sofre o medo dos castigos da família ou do marido (traído?). 

A mulher é a grande sofredora das necessidades sociais para criar seu bebê, ao gerar "mais uma boca" para as políticas públicas. O Estado, este eterno macho, passa-lhe a "liberdade", o dever, de eliminar estes gastos desnecessários. Dá-lhe a antiquíssima opção de desfazer-se de seu fruto, uma tarefa que degrada sua humanidade.

O Ocidente decidiu retornar ao mundo pré-Cristão, tendo desde 1968 eliminado intra-útero mais de 40 milhões de seres humanos (estes são os dados dos Estados Unidos apenas, e até 2017). 

Sem falar na moda atual, progressista, de eliminar a vida dos seres humanos após 12 semanas gestacionais, ou durante a infância inteira e na adolescência. 

Retrocedemos ao atávico mundo das antigas tribos, em que a vida humana não era um valor "sagrado" (ou seja, um ambiente condizente com a atual guerra sanguinária).


Recomendo o bom e revelador texto:

L'EXPOSITION DES ENFANTS EN GRÈCE ANTIQUE : UNE FORME D'INFANTICIDE

Pierre Brulé

Érès | « Enfances & Psy » 2009/3 n° 44 | pages 19 à 28

ISSN 1286-5559

ISBN 9782749211466 DOI 10.3917/ep.044.0019

terça-feira, 12 de abril de 2022

Sobre a cobertura midiática da Invasão à Ucrânia

Quem quer conhecer as justificativas do assassino Putin para a guerra? 


Quem quer assistir os pronunciamentos da gangue que cerca o covarde? Suas marionetes desumanas.

A quem interessa ver hoje este demente dizer que não tem interesse em “ficar com as terras da Ucrânia”? 

Ou seja, era apenas para invadir, destruir tudo e matar…

Quem aguenta ouvir comentaristas explicando  a guerra como se houvesse algo razoável nisto tudo, generais discutindo táticas de batalha como o fazem os amantes dos programas  de crimes? Necrofilias.

Milhares de mortos, incluindo centenas de crianças, um sem número de famílias desfeitas, um país destruído por este criminoso de guerra.

Um anacronismo absurdo, um retorno aos imperialismos obscenos da primeira metade do século XX, uma traição à Humanidade.

Vingança de um país preso a uma interminável idade média, apesar das armas e alguma tecnologia, contra um Continente que soube transcender aos ódios ancentrais entre povos. Povos agora irmãos. 

Vingança contra um mundo que conhece e despreza as ideologias totalitárias.

É bom saber que a república Checa, que sofreu na carne o terror soviético estará no comando da União Europeia a partir da metade de 2022. E irá, como afirma, dar pressa à independência europeia dos combustíveis russos. 

Quem sabe não venha a ser uma nova libertadora Primavera de Praga, desta vez para a Ucrânia.

domingo, 10 de abril de 2022

Gaivota

 

Um dia vou sentar-me nessa praia
Do mar mediterrâneo de um meu sonho
E dar adeus à vida que conheço,
Sem dor, e por que não, até risonho.

Uma canção, talvez La Malagueña*, 
Inspiração para a última poesia,
Memórias de tristezas e alegrias,
Vitórias de uma alma sempre prenha.

Vou te dizer adeus mirando ondas
No sopé onde se vê a Serra Nevada
Lembrando o que amamos em Granada.

Uma gaivota irá do mar até as montanhas
Para trazer, última vez, desde o Albaicín
Uns versos de flamenco para mim.


 
El Albaicín

* La Malagueña- música mexicana de 1947 sobre um amor em Málaga, Espanha. 

Cume

 

Altas montanhas coroadas de neblinas,
Vestes de pedras nos penedos,
Vertentes de onde brotam frias fontes
Geradas nas geleiras em degelo.

Tão altas que as árvores esgotam,
E mesmo o ar é raro e mais precioso,
Cume inclemente ali de onde miramos
A imensa pele verde das planuras.

Em ti também existem as montanhas
Penhascos que escalas com esforço
Em busca da quietude nas entranhas

Onde os gestos são tão raros como o ar,
Nenhuma palavra dita é necessária,
E abarcas vida e mundo sem pensar.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Mentira, verdade

 Ao contrário do que diz o dito popular, a qualidade é a alma do negócio. 

Outro dito, neste caso de um criminoso de guerra inspirador do Putin: uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade. 

Mas, a mentira se destrói com o tempo, a verdade sempre vem à tona. Os mentirosos são óbvios logo, logo. 

Claro, sempre haverá quem consiga negar que reconhece a mentira, esquecendo que mente para si mesmo, mas neste caso é enfermo.

A Rússia vive uma situação lamentável e vergonhosa. Bandidos e mentirosos. É a evidência dos fatos e das fotos! 

Mas há mais do que a mentira russa. A Alemanha e outros ricos europeus, reis da ecologia e do politicamente correto, acusadores do Brasil, gastaram desde o início desta guerra, cerca de 35 bilhões de euros (em pouco mais de um mês), sustentando a monstruosidade russa, para obter os combustíveis fósseis, poluidores. Uma vergonhosa dependência longamente mantida. Enfim, mais uma vez, ninguém viu a realidade antes do crime contra a Humanidade acontecer. Ou fez que não viu. 

Como escrevi num poema há algum tempo:

“Mentira, tua vitória será tua derrota!”

                           ………………

O outro lado da moeda, a Verdade, ela não discursa. Ela não prega ideologias, não filosofa. Com seu silêncio, ela também é óbvia, visível: uma jovem ucraniana, atende a população de uma das cidades devastadas pelos russos. Está feliz porque foram conseguidos alimento e remédios para distribuir à sua gente que há dias não come, não tem eletricidade. Mesmo água falta. 

Ela ajuda aos seus concidadãos. Diz que agora está melhor, pois há o que distribuir aos demais, reconhecendo que há o risco de que voltem os invasores. Isto agora não lhe interessa pois tem algo para oferecer. 

O maravilhoso contraponto: a grandeza da espiritualidade humana que, com seu gesto corajoso,  salva vidas. E, quem sabe, salve a Humanidade.

sábado, 12 de março de 2022

A FACE BANAL DO MAL

Confesso que li quase toda a obra editada da Hannah Arendt (incluindo algumas publicadas post mortem). Li, reli e tive durante anos seus estudos como livros de cabeceira. Além dos meus outros ídolos. 

Há muito tempo estudei com afinco o seu "Eichmann em Jerusalém - relatório sobre a Banalidade  do Mal" editado pela Gallimartd. O livro narra o Julgamento em Israel daquele que foi um SS-tenente-coronel da Alemanha Nazista, e um dos principais organizadores do Holocausto. Ele foi designado por Reinhard Heydrich para comandar as deportações dos judeus para os guetos e depois para os campos de extermínio do leste Europeu. 

O livro da Arendt foi criticado inclusive pelas vítimas e suas famílias por refletir sobre o personagem Eichmann, criado ao longo dos anos em que ele esteve fugitivo na Argentina, protegido pela comunidade de nazistas daquele país latinoamericano. Comportava-se como um discreto marido, pai de família, trabalhador honesto. Pois o Mossad localizou-o e o raptou numa operação genial, levando-o para Jerusalém, onde foi julgado. 

Durante todo o julgamento parecia ser "o mais honesto, o melhor dos homens" e dizia, como mote de defesa: "eu só cumpri ordens". Este que assassinara cruelmente milhões de pessoas, que as comprimia em valas e dava ordem presencial de que as mulheres, crianças, bebês, homens, jovens e velhos, fossem baleados pelas hordas selvagens dos soldados nazistas. Ou nos fornos crematórios.

O livro de Arendt é impressionante nas narrações dos crimes imperdoáveis que ocorreram no leste Europeu, a mando desta criatura.

Como pode este monstro desumano ser o burocrata que apenas cumprira ordens? Pessoalmente, para mim, esta é a acurada visão de Arendt, uma de suas grandes "sacadas" para iluminar a Filosofia Política: os monstros são especialistas em não parecer sê-lo. 

Nos filmes americanos, os monstros cruéis são óbvios: caras horríveis, gritos, feiúra física etc. Mas os verdadeiros monstros falam sorrindo, eventualmente tem uma bela figura, são mestres da sedução mentirosa, mesmo citando a Bíblia (como o Papa Gregório, criador da Primeira Cruzada e do primeiro regime totalitário europeu, que dizimou os Cátaros no Sul da França). E cumprem ordens, dos seus superiores ou de algum Deus. Arendt nos auxiliou a ver a sociopatia assassina na sua cara mais real: o cumprimento de deveres burocráticos. 

Certamente, um das áreas de atuação de sociopatas em todos os países é o campo da Política, onde a mentira deve ser dita sem qualquer tremor na voz, onde os planos vergonhosos devem ser adocicados com uma bela desculpa ideológica. Esta Banalidade do Mal encanta ao público. 

Eventualmente estes sociopatas declaram abertamente seus planos, explorando no seu público os preconceitos sórdidos das massas, as recônditas mazelas humanas e seus interesses, os desejos escusos dos grupos de poder. Hitler dizia claramente o que iria fazer, Stalin idem. E mesmo assim, e talvez por isto mesmo, enfeitiçavam multidões:"pela Alemanha! pela URSS! Pela Nova Ordem Mundial! Têm  mesmo que matar, destruir, fazer sumir deste mundo!". Além dos citados, alguns pequenos psicopatas, líderes e povos de países irrelevantes associaram-se aos criminosos sonhando com os dentes e alianças de ouro, o espólio roubado das multidões de vítimas. 

Mas os monstros em geral não parecem monstruosos, são os pais da Pátria e os minúsculos obreiros da  massa de manobra, cumpridores de ordens. O mundo de modo geral, com raras exceções, só reconhece sua monstruosidade retrospectivamente. 

Mesmo a mídia, dependendo do momento, expõe seus discursos (de maneira geral enfáticos e bem produzidos) e sempre haverá "âncoras" de jornais, comentadores, relativizando os motivos das condutas "aparentemente" bárbaras, ao usar círculos de ideias que parecem cultas mas que são a maquilagem da hediodez. Artistas populares, ingênuos ou espertos, fazem propaganda de suas políticas.

O mundo reconhece o que eles são, somente mais tarde: os povos que conseguiram dividir, através de clima ideológico conflituoso. Expoliando nações, produzindo miséria. Ou criando guerras contra povos mais fracos, invadindo sem qualquer respeito outros países, destruindo tudo por onde passam. Incluindo a Ética e a Lei. 

Facilmente, ao matarem mulheres, homens, velhos e crianças, sorriem, explicam à imprensa ou aos juízes que eles apenas cumprem ordens, que resgatam valores injustiçados. Realmente, o Mal, incluindo o que podemos chamar em termos de consciência humana o Mal absoluto, tem a cara sorridente e a justificativa banal de um criminoso psicopata, que podia ser o seu vizinho ou colega de turma.

Arendt revelou-nos isto com sua aguda percepção para nos tornar menos ingênuos. "Vejam: ele é o mais banal dos homens e é o monstro devorador de vidas".  As ideologias são os instrumentos destes crápulas para confundir e perpetrar os planos criminosos. Frequentemente em nome do "Novo Mundo Possível". 

Pois ontem revi o filme Operação Final (Operation Finale, com Ben Kingsley, Oscar Isaac, e excelente elenco dirigido por Chris Weitz) , sobre a captura do Eichmann em Buenos Aires pelos membros do Mossad mesmo com o forte apoio da comunidade Nazi argentina. 

E recomendo o filme fazendo um desafio: há um só momento em que, na película, Eichmann (Kingsley) mostra sua cara, despe a máscara e diz o quê ele é. Gabando-se, deleitando-se com seu perdido poder destruidor. 

Na vida real, em que não ocultava seu verdadeiro nome, nas festinhas com seu grupo e mesmo com outras pessoas, sabe-se que o monstro dos campos de concentração gostava de repetir "pena que não matei a todos". 

Por outro lado - não outro lado, porque são todos a mesma coisa- Lenin com sua política blochevique, causando o fim das indústrias russas e desestruturando a Economia daquele país levou à Primeira Grande Fome, na qual morreram inumeráveis russos. E Stalin, outro psicopata, causou a Grande Fome na Ucrânia, lúcido e cruel, discursando e produzindo milhões de mortos.  Com apoio do Brecht, Sartre, vários intelectuais franceses, e artistas como o Picasso (da pombinha da paz).

Talvez tenhamos aprendido nestes dias difíceis de hoje a ver claramente a realidade, graças, entre outros, a pessoas com Hannah Arendt e Erich Fromm.

Referências: 

-EICHMANN À JÉRUSALEM : RAPPORT SUR LA BANALITÉ DU MAL. Hannah Arendt, Gallimard.

-AS ORIGENS DO TOTALITARISMO. Hannah Arendt.

- ANATOMIA DA DESTRUTIVIDADE HUMANA. Erich Fromm.






sábado, 26 de fevereiro de 2022

Sobre a pombinha da paz

 Durante a invasão da Polônia pelos nazistas, uma reação internacional atempada contra aquele grupo de facínoras foi imensamente prejudicada pelos pacifistas franceses com suas palavras de ordem e clichês, o que permitiu a ampliação por toda a Europa da tomada de poder por Hitler. E deu no que deu...

Durante as estratégias belicosas e totalitárias da URSS, os soviéticos usaram como símbolo de sua propaganda internacional a pombinha da paz feita por um tolo ou muito esperto Picasso.  Também aí os intelectuais europeus, especialmente da França, colaboraram com a ampliação do poder de Stalin, um sociopata sanguinário que dizimou violentamente populações, incluindo os próprios russos, e  matou de fome milhões de ucranianos, no seu afã de conquistar, saquear, destruir. Muitos intelectuais, incluindo Sartre e Brecht fizeram-se de cegos para não macular o avanço dos ideiais socialistas. Este ex-KGB que está aí, cercado por comparsas mafiosos, e dono atual da Rússia, é o herdeiro da insanidade assassina baseada em ideologia.

Defender a Ucrânia é fundamental. Não há paz sem Justiça, liberdade e respeito aos demais.

Tomara que tenhamos aprendido.

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Putin, o amigo comum do bolsonaro e dos petistas, é um dos tantos "seres depuradores", os "dexters" (para quem conhece o personagem) da História, os "criadores no novo mundo".

Ao invadir um país democrático, matar civis, destruir os instrumentos de defesa, separar famílias, criar pânico, fazer ameaças ao resto do mundo, ele tem a mais bela das justificativas: ele vai "libertar a Ucrânia, desnazificá-la e desmilitarizá-la". 

A gente vai aprendendo nesta vida que o discurso de quem não presta diz exatamente o oposto do que o dito marginal planeja, seja o bandido de rua, o marido violento ou o presidente de um país. 

O mundo está cheio de Hiltlers, Stalins, e assemelhados. 


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

pode ser legal, mas é um crime

Na Ética de investigação há regras estritas sobre o uso em pesquisa de animaizinhos, seres sencientes, nossos pequenos irmãos, incluindo hoje em dia até mesmo a defesa dos embriôes animais.

Que lindo, não, querido progressista?

Mas me explique: se protegemos embriões de ratinhos, por que, me diga por que, tu defendes, em nome da liberdade da mulher, o assassinato intra-útero de seres humanos, também sencientes? Agora não apenas até o terceiro mês de gestação, em alguns países até o 6º mês? 

Cortar em pedaços, desmembrar, e fazer a retirada dos restos mortais de alguém (pois é alguém, único, sensível à dor e ao doloroso processo de morrer) que só esperava amor e cuidado. Não necessariamente destas pessoas que o matam, mas de alguém que o adotasse e tivesse a grandeza de amá-lo.

A morte de um ser humano na 24ª semana gestacional  nem é mais aborto, é infanticídio. Hoje em dia em países europeus "progressistas" isto vai além. Crianças podem ser, legalmente, assassinadas durante todo o período infantil. Nestes países, deixou de ser crime. Uma Ética que tolera e libera algo assim é a ética dos criminosos, mesmo usando complicadas justificativas filosóficas. 

Protejam os embriões de ratinhos, sim, mas também não matem os frágeis, pequenos seres humanos. Uso a palavra proibida pelos ativistas e bioeticistas: não matem os "bebês". Não matem as crianças! Elas não têm culpa de serem apenas humanas. E não serem os amados "pets", ou os roedores.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

versinhos sobre philia


 Passo a passo, mão na mão
De braço dado em compasso.

Lado a lado ser de ninguém,
De ninguém bicho mandado.

Andar em par, e estar consigo,
Cuidando ambos do laço.

Ser do amado o bom amigo,
Seguir adiante enamorado,

Como o amante e o amado
De quem te segue, e teu também

Pois só se ama em liberdade,

E amar alguém é habilidade
Que só obtém quem se quer bem.



domingo, 13 de fevereiro de 2022

o cantor da Andaluzia

 Eu te revi, fina flor da Andaluzia,

Pele morena, pelos crespos negros,

Como os teus olhos, filtros de poesia.

Sorriso doce, terno gesto.


O traje dos berberes que vestias

Era de um passado que conheço.


Voz da pátria gitana por um dia,

E por tal brilho, estrondo, ousadia

A vingativa águia destroçou-te,


Mas Prometeu que és, tu te recrias.


Brilho da Espanha na absurda noite,

Ainda nos guias, mártir do amor, 

Sabor da Andaluzia.


meu jardim

 

Volto quando posso ao meu jardim de dentro, 
Onde planto as árvores e flores de que gosto,
Azaleias, cerejeiras, plátanos, ciprestes,
No amplo espaço dos campos do Centro.

Ali eu silencio e o silêncio diz poesias, 
Com sua voz de brisa e melodia,
Sussurros de amores em cujo templo reentro,
Trinados da passarada em cantoria.

E algumas vezes neste jardim sou visitado
Por amigos que retornam do passado.
Pouco falam, só abraços e sorrisos.

Eu os olho, encantado ao ver que o amor
Está no centro do meu ser, e não preciso
Buscar além do meu jardim o paraíso.





  


domingo, 30 de janeiro de 2022

minha poesia



Volto a ti, poesia, como quem retorna à casa:

O pátio enorme onde dizes ver a musa a bater asas,

O quarto onde silencias para sonhar o impossível

E a cozinha onde o digeres, nos levando a outro nível.


Trabalhas tanto em silêncio e quando volto tu me falas

Das novas coisas de dentro decorando nossa sala,

Dos caminhos que trilhamos, os rios, montes, cascatas

E ao falares é que percebo como a vida bem nos trata.


Tu és esta voz que me canta, e este coração que aquece

As horas frias da vida, és o sabor de ver que enriquece

O trivial das minhas horas, os pequenos detalhes mudos


Até que os vês, minha poesia, e pões a beleza em tudo.





sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A Medicina do Novo Mundo (brincando com 1984)

Na distopia chamada 1984 do George Orwell, a Novilíngua (New Speak) era o idioma falado no Novo Mundo pelo IngSoc, o Partido Socialista inglês comandado por um ente, talvez uma pessoa, denominado Grande Irmão (o Big Brother), espécie de "herói do Povo". Entre as várias estratégias delineadas para a manutenção do Sistema, o Partido criou a Novilíngua para alterar não só a realidade, destruir o antigo sistema, como também para criar a Nova Realidade a partir de uma língua com as regras definidas pelo Partido. Deste modo todo o arcabouço que moldou o pensamento da ("arcaica") Civilização Humana seria destruído na sua essência, ou seja, o uso da fala que molda o pensamento, uma característica intrínseca dos seres humanos. Orwell escreveu este livro e criou este distopia cômica e macabra quando percebeu o que era, na verdade, o Socialismo real. Deprimido, isolou-se e escreveu 1984, até hoje um clássico da Literatura.

Seguem alguns exemplos da Noviníngua que Orwell criou. Um deles é o “Duplipensar” que significa saber que algo é errado e convencer-se de que este algo é certo, a ponto de se esquecer que é errado. Este exercício baseia-se no lema "Inconsciência é Ortodoxia". 

Outra joia da Novilíngua é “Impessoa” ou “Despessoa” que é “alguém que deixou de existir por ordem do Partido sendo todas as referências de sua existência apagadas dos registros históricos”.  Incluindo fotos, e, hoje em dia, manipulação de vídeos e gravações telefônicas, não?

Neste sistema “perfeito”, o “Ministério do Amor” era responsável pela supervisão das leis e da organização do Partido”; o “Ministério da Paz” tratava das questões de cunho militar, sendo fundamental, portanto, a existência contínua da Guerra e a criação sistemática de algum inimigo a ser atacado, embora o inimigo variasse e o de hoje tivesse sido o amigo de ontem.  O “Ministério da Pujança” era responsável pela administração monetária do Partido

Ao povo eram dados uma porção diária de alimentos, uma dose de aguardente,  liberdade sexual e livros com literatura ingênua produzida por escritores fieis ao Partido. As histórias incluíam novelas e romances que variavam quase nada de uma obra a outra.

E ao “Ministério da Verdade” incumbia a tarefa de “organizar as notícias”. A “organização das notícias” era feita pela mídia do Partido, ou seja, pessoas selecionadas para continuamente alterarem a realidade histórica (as notícias) de acordo com os interesses atuais dos dirigentes, em nome do Herói do Povo, o Grande Irmão. Por exemplo, alguns especialistas em imagem retiravam "despessoas" das fotos onde aparecessem membros do Partido. 

Como seria a Medicina neste 1984? Perdoe-me mestre Orwell, mas ouso brincar com isto...sou eu que me divirto:

A Medicina do Novo Mundo estaria "completamente liberada do arcabouço civilizatório arcaico", através do adequado uso da Novolíngua pelos expertos da "Neoética". A Neoética seria um método dialético que incorpora os opostos dos conceitos ao conteúdo dos próprios "conceitos arcaicos", de modo a ampliar o leque de opções de condutas e liberar o Novo Mundo dos desconfortos e impossibilidades gerados pela doença e sofrimento humanos. A situação de doença e sofrimento, neste Novo Mundo, seria um absurdo intolerável e experimentá-la constituiria “uma vida indigna de ser vivida”.

A Medicina Humana, através deste jogo transformador de palavras, seria dialéticamente fundida ("sintetizada", segundo o jargão filosófico) à “Medicina Desumana” (aqui conceituada como o sistema que trata os seres humanos como coisas, objetos, ou animais apenas). Isto com base no Novo Humanismo no qual deixa de existir o conceito arcaico de anima nobilis, um valor específico do Humano que para a civilização arcaica era simbolicamente descrito como "sagrado"

O Homem passa a ser o “animal humano” e a “Nova Medicina Humana” torna-se “Humana-Veterinária”. 

Assim, diante do impasse quanto a alguma “vida indigna de ser vivida”, o doente crônico ou incurável é eliminado, seja na velhice, na juventude, na infância e, mesmo, intra-útero. Uma  conduta valorizada por ser tanto eugênica quanto higiênica. E "piedosa", o quê na Novolíngua médico-veterinária passa a significar "assassinar para evitar o sofrimento" 

 A “alma humana” neste Novo Mundo significa “secreção neuronal”. O “médico” torna-se “um eliminador de vidas humanas”, de acordo com critérios de desejo do "cliente", valorizando exclusivamente o “primado da autonomia segundo a Neoética". Ou mesmo interesses do Partido, no caso de este “ser animal humano” ter algum distúrbio na “secreção neuronal” que o leve a cometer “crimes de ideia” ou de ação contra as regras do Novo Mundo e mereça tornar-se “despessoa”. Esquecer quem sofreu e morreu torna-se um critério de saúde no Novo Mundo. 

E isto em todas as idades. Os conceitos de “amor materno incondicional” e "respeito indiscriminado ao ser humano" são relativizados pelos responsáveis da Neoética passando a ser vistos como “instintos arcaicos” resultantes da “secreção neuronal”. Os expertos em Neoética elegantemente os fundem ao de “liberdade feminina de ser feliz”, ou seja, o direito da mulher, e do casal, de ter uma vida sem maiores sofrimentos, evitando o contato com alguém que tenha uma “vida indigna de ser vivida”.   

O Médico Humano-Veterinário é aquele que elimina este ser que infelicitaria a mãe, a família e no futuro seria fonte de gastos para o sistema e o Ministério da Pujança, enfim o Partido.  Assim, o Médico Humano-Vererinário torna-se um colaborador fundamental do Ministério da Pujança, fiel ao Partido. Nada mais de gastos imensos com pesquisas de doenças raras, de investigação em terapêuticas medicamentosas para morbidades de difícil manejo, em tratamentos paliativos demorados. Tudo muito rápido e sempre eficaz! Pum! Dinheiro sim para os sacrossantos interesses do Partido e dos felizes.

Por aí vai...Irei para algum mato selvagem, mas disto eu escapo!



terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Ouvindo Sultans of Swing (e lembrando do primeiro contato com Londres)


Lembro da primeira vez que fui a Londres. Era um guri. 
Cheguei à Victoria Station no fim de tarde e perguntei onde conseguia um hotel. Naquele tempo não tínhamos internet, cartões de crédito, telefones celulares (telemóveis). Era uma aventura total, sozinhos no mundão. O rapaz das informações me indicou um hostel em Stockwell, bairro barato (na época). Frio, chuva, noite às 4 da tarde: enfim, Londres como eu imaginava. Mas o hostel era assustador. Uma residência de muçulmanos, com caras nada amigáveis para um brasileiro loiro, de olhos azuis e com um sorriso feliz, talvez ingênuo. Percebi logo que ali eu não ficava mais que uma noite. No outro dia tentei Knightsbridge, mais chique. Mas a espelunca era ainda pior: quarto compartilhado com vários, gente que morava ali, incluindo trabalhadores de outras áreas do Reino Unido.
Mein Gott! Eu tenho dificuldade de ficar hospedado na casa de conhecidos, mesmo de amigos íntimos. Mas não havia jeito: fui ao telefone público (aqueles vermelhos com janelinhas) e liguei para uns caras que moravam num subúrbio numa casa coletiva e que uma querida amiga havia me recomendado (lembro e agradeço até hoje a ela). Estes subúrbios de Londres onde a gente chega de trem, uma meia hora de viagem. Os ingleses eram legais, exceto um deles que um dia me olhou e diante de alguma coisa que eu disse sobre minha amada Porto Alegre respondeu secamente: “but I am British”…ri por dentro da criatura. Ah! E havia uma garota alemã que saía e entrava do quarto sem falar com ninguém. Pela primeira vez na vida (não a última) fui questionado pelos rapazes sobre o fato de tomar banho diariamente: “do you have any skin disease?”ao que eu respondi: “I take a shower everyday, even twice a day… I am Brazilian”. 

Uma noite, os rapazes, super queridos, me levaram a um clube que até hoje me traz a ideia dos encantos de Londres e sua peculiar Cultura. Um clube de bairro, onde os  vizinhos se reuniam para tocar e cantar jazz. Donas de casa, pais de família, gente da área, quem quisesse, cantando com alma e imenso talento. Eu assisti embevecido, e agradecia emocionado aos meus novos amigos.  Sultans of Swing sempre me leva àquela noite. 

Mas até hoje não sei se era a Grande Arte viva num bairro londrino, ou o efeito da cerveja quente em enormes copos que rolava. 



Long time ago...




Sofisma

 Quando o Dr. Albert Moll, neurologista e psiquiatra precursor da Bioética, em 1902 no seu livro Arzliche Ethik, referindo-se às centenas de experimentos eticamente questionáveis na Alemanha pré-nazista, trouxe à tona que a relação médico-paciente deveria ser um contrato voluntário entre iguais onde o critério fosse a autonomia, o que propunha era que o médico não poderia fazer com o seu paciente o que bem quisesse, necessitando da aprovação autônoma e bem informada do mesmo. Isto é autonomia. 

Porém, um mórbido jogo de palavras, distorção conceitual, transformou este contrato autônomo em alguns países num dever do médico de acabar com a vida de seu paciente caso este último assim o deseje. Contorcionismo pseudo-filosófico, sofisma destruidor da essência da Medicina que é o cuidado do ser humano doente até o fim de sua vida. 

O suicídio é voluntário e cada qual é responsável por uma escolha destas. Se há alguma coragem em dar cabo à própria vida diante das dores que a compõem, que seja então o suicida o responsável único por isto. 

Jamais submeter a Medicina, e a autonomia de um cuidador aos desejos auto-destrutivos de outra pessoa. 

Jamais tornar o médico aquele que empurra pessoas do alto da ponte. O médico deve ser, isto sim, o profissional gabaritado e competente para sedar a dor física e emocional. Tarefa da dimensão que a Medicina merece.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

O Pulmão Verde do Mundo

 Metáforas ecológicas.

Costumam os estrangeiros imputar unicamente ao Brasil a responsabilidade de manter o "pulmão verde" do mundo, porque os brasileiros ao longo dos séculos tem evitado destruir sua parte da Amazônia, uma imensa região onde atualmente vivem 23 milhões de pessoas. A região mais carente do nosso país. 

Esta metáfora quase poética transfere ao Brasil a responsabilidade de não utilizar sua vegetação virgem, que hoje em dia mantém-se em cerca de 60% da vegetação do país (o único país que mantém algo assim é o Brasil).  Muito bem, acho lindo e o Brasil tem tentado equacionar com enorme dificuldade a manutenção da floresta Amazônica com um projeto de desenvolvimento que beneficie os povos da Amazônia. 

Contudo, o pulmão verde do mundo não se restringe à Amazônia. Cada árvore plantada, cada floresta que se refaz, em cada região de um país, constitui um "pulmão verde". O pulmão verde deve estar em todo o lado e é responsabilidade de cada país manter seu pulmão verde, com vegetação nativa, não eucaliptos australianos que queimam com facilidade, destruindo a vegetação regional. Como está o pulmão verde europeu? O americano? O australiano? O chinês, indiano, etc.?

Parem de projetar no Brasil sua responsabilidade intransferível. A Amazônia brasileira pertence ao Brasil (!) e atualmente as queimadas são monitoradas pela NASA num projeto conjunto do Brasil com os Estados Unidos pois a tarefa deste controle num continente verde é hercúlea. A atividade de desmatamento e queimada é crônica, tendo chegado a um pico máximo em 2005, mantendo-se, embora em menores níveis, após. Responsabilidade do Brasil, sim.

Mas pergunte-se, europeu, americano, australiano, pergunte-se como está pulmão verde de mata nativa, ou replantada com vegetação nativa, no seu país, na sua região, no seu pátio.

Os programas de TV que assisto aqui acusam meu país, e desconhecem, negam com indiferença, e enorme falta de respeito, sua própria (ir)responsabilidade coletiva na reconstrução do pulmão verde global.

Detesto metáforas, slogans, e palavras de ordem:  emburrecem as pessoas e levam a atitudes lamentáveis.





sábado, 6 de novembro de 2021

O carnaval rancoroso dos ricos


 Ver os europeus e norteamericanos ricos, em suas cidades de asfalto e jardins planificados, comunidades e culturas que ao longo dos séculos destruíram e continuam destruindo tudo o que é floresta nativa, e transformaram sua geografia em intermináveis áreas de agricultura extensiva, a exigir “dos outros” (os que mantêm imensas áreas de vegetação nativa e florestas) mudanças de conduta, é a visão do ridículo, um circo politicamente correto. 

Mãos à obra mundo desenvolvido: replantem florestas com planejamento da flora original, renunciem ao uso da terra como fonte de riqueza, reduzam o uso (intensivo) de plástico, asfalto e concreto!  Fatos para “parecer” verde, como plantar campos de eucaliptos incendiários, milho para produzir biodiesel, jardins no alto de edifícios nas cidades, parques arborizados e elegantes para desfrute dos cidadãos e especulação imobiliária, são nada, ou pior que nada.

Há que repensar o manejo da terra, e refazer as extensas selvas, antes de acusar “os outros” de genocídio por crime ambiental. A História é capaz de sentenciar aos acusadores que transformam em festa televisiva a  inconsciência sobre sua própria (ir)responsabilidade.

Isto sem falar do envio de lixo (tóxico, contaminante) para descarte em países mais pobres. Crime ecológico de lesa-humanidade.

O mundo conhece bem a soberba reguladora dos poderosos sobre os mais humildes.

O resto é politicagem, demagogia, aparências, hipocrisia.

sábado, 9 de outubro de 2021

Visão de Mundo (Weltanschauung)

Crê em tudo o que eleva a alma

E a liberta da submissão ao medo

E aos partidos, crê no segredo

Que a vida te sussura ao ouvido,

 

Nas evidências dos fatos como são

Mesmo os que parecem absurdos,

Ou não se explicam facilmente, crê

Em tudo o que teus olhos veem.


Crê na vida que viveste, na que vem,

Crê na dor com que aprendeste,

Crê cegamente no valor do Bem,

Crê na humanidade do Homem.


Crê no poder incalculável dos atos

Que alteram as visões de mundo

Mais que os tratados de Filosofia


E, sobretudo, crê como um crente

No dom inato e inerente do amor

Que leva para além das ideologias.

 


Thales de Mileto

domingo, 19 de setembro de 2021

Guerreiro


 

O jovem sonha 
As chances todas,
De espada erguida.

Fé em si e na vida
Fazem girar as rodas
Da obscura engrenagem
Que a cada um cabe.

Um tanto cego,
Um pouco tonto,
Lança-se adiante,
Ingênuo confiante,
Inda sem saber
Que ninguém 
Está pronto.

E luta. E tomba.
Sente na alma
A dor da derrota,
 Desconhecida,
Mesclada, incluída
No valor da vitória.

E assim, pela vida.

O tempo escoa 
E o jovem não morre
No homem velho
(Um vencedor
Aos olhos do mundo),
Guerreiro ferido
Em duras batalhas
No fundo.

“O que foi que fiz,
Que história criei,
Vencido, fui rei,
Vencendo, fui pouco,
Na dor saboreei
Alguma alegria
E na euforia
Deixei-me perder.

Minha sabedoria
Incluiu loucura
E foi dessa loucura
Que criei lucidez.

Ao amar, sofri
E a sofrer por amar
Foi que me encontrei.

Não cheguei ao céu
Vivendo infernos,
Não alcancei a luz
Que emana de estrelas.

Mas tenho o coração
Luzindo, tão terno
No abraço ao irmão
Com que sigo no breu
A construir coisas belas,

Que hoje eu sei:
A vitória sou eu."