sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Sobre a mortalidade infantil no Brasil (ou "a felência das políticas públicas no Brasil", ou "as décadas perdidas")

 Ontem fiquei feliz quando o IBGE divulgou isoladamente a curva da mortalidade infantil desde 2010 (ou seja, desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, incluindo os governos petistas). Esta curva está a circular nas redes. Por quê? Eu pensei: talvez o PT não seja tão ruim. Sim, sou ingênuo, mas graças ao bom Deus, tenho alguma capacidade crítica. 

Então, hoje, recuperado da informação vinda através das redes, eu refleti:

-Espera lá...mas e antes de 2010? Como foi a evolução temporal deste processo de decréscimo? Eu sou pediatra desde 1984 e lembro que a Saúde Pública parecia-me funcionar melhor antes, sendo muito menos burocratizada.

Fui atrás dos dados do IBGE anteriores a 2010 (vejam a curva ao final) e...dei-me conta de que o PT é mesmo um Partido que tem a cara do seu "grande líder": mais do que politiqueiro, coisa comum em todas as democracias, o Partido é mitômano e adona-se das realizações alheias, das capacidades dos próprios brasileiros de gerar desenvolvimento e mudanças...E jamais reconhece ou revela sua incompetência.

Fiquei sabendo que o decréscimo virtuoso da mortalidade infantil  iniciou-se na década de 60, durante o período dos militares no poder, tendo esta tendência de decréscimo das mortes infantis amainado lá por 2013.

O decréscimo da mortalidade infantil no Brasil dependeu de múltiplos fatores, incluindo as campanhas internacionais para o uso da reidratação oral no tratamento das diarreias infantis, especialmente nos países em desenvolvimento.  Além da vacinação massiva para doenças transmissíveis como o sarampo, e melhorias das condições de saneamento básico e moradia, bem como da qualidade do atendimento público à Saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS), desenvolvido e aperfeiçoado ao longo de décadas, num esforço multipartidário, pelos diversos agentes políticos que governaram o Brasil neste largo período, tornou-se uma referência internacional, independente de ideologias. Por exemplo, durante o governo do Prof. Dr. Fernando Henrique Cardoso iniciou a distribuição de medicamentos genéricos, que vieram beneficiar o atendimento da população em geral. Além disto, o Brasil conta com as Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, a qual, como tem sido ao longo da História desde a conversão do Imperador romano Constatino, lá por 300 dC, funciona como fonte inspiradora e dinamizadora de toda a ajuda e proteção aos desfavorecidos, às crianças, aos doentes crônicos. Conste aqui que eu não sou católico, não sigo uma religião formal.  No Brasil, através da "Pastoral da Criança", sob a coordenação da pediatra Zilda Arns, falecida no Haití em 2010, ocorreu um grandioso esforço popular de atendimento às regiões mais carentes do país, com a ajuda de inúmeros brasileiros voluntários, indo de casa em casa, pesando as crianças e levando tratamento à desidratação recorrente e à desnutrição calórico-proteica que ainda mata os menores do Norte e do Nordeste do País. 

O PT está distorcendo informações ao mostrar os dados de modo incompleto, com objetivos eleitoreiros. Toma para si os resultados do esforço de milhares de brasileiros, independente de partidos e ideologias, entre os quais eu, humilde pediatra, orgulhosamente, me incluo, e não discute as evidências da realidade nacional. A realidade é que, conforme estudo recente produzido no Rio Grande do Sul, houve uma estagnação no decréscimento da mortalidade infantil e, portanto, nos índices de qualidade de vida do Brasil, desde o governo da Dilma Roussef, que tem-se mantido. Ainda mais, a mortalidade infantil brasileira, especificamente nas regiões mais pobres do país, as que votam no PT, continua a ser mais elevada em comparação a uma boa parte dos demais países latino-americanos. 

Eu saí do Brasil justamente em 2014 durante o governo lamentável da Dilma Roussef,  quando iniciou a estagnação da curva virtuosa de redução da mortalidade infantil, num momento em que o governo brasileiro, mandava dinheiro (o nosso) para Cuba através do Programa Mais Médicos. Fui chamado, nas redes, de "coxinha", burguês, fascista. Eu, que escolhi Pediatria, para atender as crianças dentro do serviço público, ao invés de optar por especialidades onde talvez eu obteria mais dinheiro. Esta escolha que fiz é uma das maiores honras da minha vida: sou Pediatra, um "protetor das crianças" como denominam algumas tribos africanas.

Esta propaganda fraudulenta, por selecionar informações e mentir na mídia, de modo a recriar a realidade, em torno da mortalidade infantil é um vergonhoso lance no jogo político, especialmente por usar uma instituição que já foi das mais confiáveis do Brasil, o IBGE. 

Aliás, como o PT tem feito com o Itamaraty. 

Mas, ao fim, a verdade sempre vem à tona, enquanto houver quem seja honesto.

Referência (uma de muitas):
https://ftp.ibge.gov.br/Tabuas_Abreviadas_de_Mortalidade/2010/tabuas_abreviadas_publicacao_2010.pdf.

Fundamental:

Marcos Otávio Brum Antunes. Desaceleração na redução da mortalidade em crianças menores de cinco anos: Evidências de estagnação em regiões desenvolvidas do Brasil. Tese de Doutorado em Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança. Orientador: Marcus Herbert Jones. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2025.



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