sábado, 26 de dezembro de 2020

"O que está em cima é como o que está embaixo"

Recebi um post do youtube no qual um Físico compara o corpo humano, como o conhecemos atualmente, em suas múltiplas dimensões (molecular, celular, genômica, proteômica, tecidual, etc.) ao Universo também multidimensional, incluindo o Macrocosmo (sistemas planetários, galáxias, aglomerados galáticos,a rede de fios cósmicos, os grandes atratores, matéria negra, sei lá o que mais) e o microcosmo (moléculas, átomos, estruturas subatômicas, talvez "cordas", regulados por misteriosos mecanismos quânticos…talvez). Quando vamos estudando estes componentes macro- e microcósmicos e nos damos conta de que tudo, literalmente tudo está integrado, em termos de componentes e de energias, não podemos deixar, pelo menos os poetas como eu, de nos maravilharmos com a espantosa, incomensurável, Mente que parece ser subjacente a Isto. Deus, o sagrado Desconhecido, a Inteligência Universal, tão sutil e tão essencial que permanece oculto aos menos sensíveis. Pode ser só alegoria mística o "Kaibalion", ou seja, os Sete Princípios, os Mistérios, que teriam sido ensinados por Hermes Trimegisto, e transmitidos de forma oral nas comunidades gnósticas, sendo revelados, ou melhor, postos em textos escritos, lá por 1910 pela Yogi Association. Digo "teria(m) sido", pois realmente sua origem Hermética é uma hipótese apenas. Independente disto, os ensinamentos mexem com nossa psiquê, porque, repito, poetas parecem perceber os vínculos entre as diversas ordens de grandezas nas descobertas científicas que nos tem sido reveladas nas últimas décadas, tanto em relação ao macrocosmo como ao microcosmo. Vejamos, os breves enunciados das leis do Kaibalion: "Princípio de Mentalismo - "O Todo é mente, o Universo é mental". O Cosmos é uma criação mental. Princípio de Correspondência - "O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima." As leis que regem os fenômenos em todos os níveis da existência coincidem, de modo que o microcosmo, incluindo a estrutura orgânica, é governado pelas mesmas regras que o macrocosmo. Princípio de Vibração - "Nada é estático, tudo se move, tudo vibra" e os estados de matéria, energia, mente e espírito, resultam de distintos níveis vibratórios. Desde os átomos aos multiversos, tudo se mantém a vibrar. Princípio de Polaridade - "Tudo é duplo; tudo é bipolar, tudo tem seu oposto." Estas antípodas equivalem-se, são idênticas em natureza, mas diferentes em graus. Os extremos se tocam e todas as verdades são meias-verdades, todos os paradoxos podem ser reconciliados numa espécie de transmutação alquímica. Princípio de Ritmo - "Tudo flui para fora e para dentro; tudo tem suas marés, tudo se move de cima para baixo e de baixo para cima; a oscilação se manifesta em tudo e o ritmo mantém o equilíbrio.” Princípio de Causa e Efeito - "Toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua causa; tudo se passa de acordo com a Lei. Acaso é o nome dado a uma lei desconhecida e nada escapa a esta lei.” Princípio de Gênero - "O gênero está em tudo: tudo (todo o ser) contém o Masculino e o Feminino, e o gênero se manifesta em todos os planos da existência.” Para mim, os conhecimentos mais modernos estão inundados desta Mística, a tal ponto que na Física atual fala-se de processos que lembram claramente a Cosmogonia hinduísta. O que dizer da "teoria das cordas" que remete à Dança de Shiva...se a estrutura cósmica original não é algum ponto subatômico, mas uma estrutura vibratória, podemos supor que o Universo respira, expandindo-se e retraindo-se até chegar à dimensão de uma corda vibrátil que ao mover-se leva à re-expansão em ciclos sucessivos. Se fosse partícula, ao contrário, a re-expansão seria impossível. Isto lembra o mito hindu da (re)criação cósmica através da respiração de Brahma...O que dizer das várias dimensões ocultas nestas cordas, que nos remetem aos planos, múltiplos universos, intrinsecamente vinculados na intimidade estrutural desta corda vibratória. Falta ainda comprovar esta correspondência entre a regulação do macrocosmo e do microcosmo, a integração de suas leis que, até o momento parecem irreconciliáveis. Esperamos pela confirmação, ou negação, da Teoria de Tudo. 
 E na Biologia, fico pasmo ao perceber que uma das estruturas embriológicas fundamentais descobertas nas últimas décadas é o "nó" (primitive node), um organizador primordial localizado na linha média da região púbica do embrião durante as fases iniciais da organogênese, cujos cílios giram ininterruptamente, e assim distribuem moléculas ao corpo em formação de modo a organizá-lo em termos de estrutura e morfologia. A semelhança com as estruturas descritas pelos yoguis, chamadas de "chakras" (ou rodas) é evidente, neste caso o chackra básico. Os chakras seriam centros giratórios de absorção, exteriorização e administração de energias do complexo dos "diversos corpos" que constituem cada ser vivo, integrando o corpo físico aos corpos etéreos durante o processo da embriogênese. 
Permanece, porém, uma complexidade pouco explorada e nunca resolvida. O ser humano e creio que alguns animais "superiores", ao desenvolverem a consciência, passam a perceber o mundo através de um egocentrismo, ou seja, passam a constituir, cada um deles, o "centro" que percebe o universo. O "Eu Sou" bíblico, enfim, à semelhança da Mente em torno da qual todo o Universo se configura. E isto, nossa maior grandeza é também desgraça, pois ao nos sentirmos deuses, hipertrofiamos nossa importância, degradando o egocentrismo estrutural em egoísmo barato, a "hybris" segundo os gregos. Mas isto é outra discussão... 

Sem ter certeza sobre nada disto, para mim é inegável a beleza deste arcabouço simbólico e cultural arcaico. Estas são reflexões e alegorias que um fim de ano como este de 2020 desperta no poeta.


de referência para o "Oculto", o Sr. Wiki: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caibalion












quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Dever de Matar?

"Quem será designado pelo Estado a empurrar das pontes os suicidas? Quem ensinará a empurrar?" Aqui, refletindo sobre os volteios teóricos e a racionalização de muitos para justificar crimes na Medicina. 
Em primeiro lugar, não há eutanásia ativa e passiva. O que se denomina incorretamente de eutanásia passiva é a retirada de tratamentos fúteis e a evitação do encarniçamento terapêutico. Deixar a Morte ocorrer sem mais interferir, porém mantendo todo o conforto do paciente, eventualmente por sedação profunda nos raríssimos casos em que as terapêuticas de alívio existentes não mais funcionam. Cuidados Paliativos eficientes envolvendo o paciente e a família.

São raríssimos países no mundo que legalizaram eutanásia, incluindo 4 Estados europeus (Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Espanha), alguns deles com passagens pelo nazifascismo no início do século XX. Em dois deles pelo menos, Holanda e Bélgica, há graves problemas na observação dos mecanismos regulatórios, no controle legal dos procedimentos e, infelizmente, a eutanásia passou a ser a opção primária de atendimento a pacientes crônicos, suplantando mesmo o dever médico dos cuidados paliativos. Além disto, em termos práticos, ampliaram-se as indicações da indução de morte pelos médicos, incluindo doentes psiquiátricos, bebês com enfermidades (ou por estresse psicossocial dos familiares), e mesmo na ausência de sofrimento insuportável ( vide: https://www.ieb-eib.org/en/file/end-of-life/palliative-care/does-the-belgian-model-of-integrated-palliative-care-distort-palliative-care-practice-442.html)
O suicídio assistido é realizado também em raríssimos países (Suíça, Alemanha, um estado da Austrália e alguns Estados dos Estados Unidos). 

Tendo em vista que eutanásia é assassinato (esta é a expressão verdadeira, mesmo que sendo aprovado o ato por um Estado, ou associando-lhe o adjetivo piedoso), e o desfecho constitui o maior risco possível da prática médica (a morte), não há sentido em considerar a eutanásia como um "ato médico", o qual na sua essência, visa o tratamento de uma pessoa doente.

 E aí surgem algumas questões: 
 -Por que deve ser, portanto, um médico o responsável pelo assassinato de um paciente permitido por lei, se não há tratamento e o risco maior, a morte, será sempre o desfecho?
 - Como se justifica que a Medicina, destinada ao tratamento de doenças e à minoração dos sofrimentos através de terapêuticas, evitando sempre os riscos à integridade física e psicológica das pessoas, torne-se por vontade do Estado, ou influência midiática, ou por ideologia num momento histórico, ou ainda pela vontade popular, a profissão responsável e legalmente liberada a acabar com vidas humanas?
 - Em relação ao respeito à Autonomia de um paciente, até que ponto a Medicina não se prostitui ao obedecer “o cliente” (utente) ao realizar seja lá o que ele, o cliente, e o Estado que paga, desejam, independente de seus princípios fundamentais como Profissão? Ou a Medicina deixou de ter princípios? Tornou-se o quê a Medicina? A “Grande Prostituta”? A obediente súdita do Estado? 
 -Sendo imputada a uma categoria a tarefa de matar pessoas, quem preparará os profissionais (eutanasistas? suicidadores?) para este gravíssimo e lamentável dever, que certamente implica no desenvolvimento de distúrbios crônicos emocionais e psicossociais nos diretamente envolvidos? Serão os professores de Medicina usados para ensinar aos seus alunos os métodos de matar? Quem pode ensinar alguém a empurrar os suicidas das pontes? 
- Finalmente, por que estas sociedades não selecionam outras categorias para cumprir a mais degradante das tarefas? Quem sabe, membros de partidos políticos? Ou burocratas do Estado? Ou pessoas, independente de profissão, para quem matar não constitui uma questão existencial crucial, ou mesmo consideram o ato de matar algo digno, heróico e, por que não, uma prazeirosa "experiência de poder"? Há muitos certamente assim entre os políticos e burocratas do Estado. As condutas para induzir a morte são fáceis, sem desfechos inesperados, e qualquer pessoa com mínima inteligência e poucas habilidades, mesmo um deficiente físico ou psíquico, pode capacitar-se para tanto. Sem envolver a Medicina, profissão cujos princípios são o oposto do assassinato e portanto exige a mais alta capacitação.

 Aos verdadeiros médicos, mantém-se como dever a mais nobre das atribuições: criar, estruturar e participar de programas de atendimento a pacientes crônicos, sejam adultos ou crianças, incluindo os cuidados paliativos tão raros na maioria dos países; aprofundar o estudo da terapêutica da dor, física e psíquica, buscando saná-la ou reduzi-la ao máximo, bem como aperfeiçoar e aumentar a gama de opções terapêuticas para a cura ou, pelo menos, melhoria das doenças, seja por psicoterapia, farmacoterapia ou terapêutica cirúrgica. 

Porque médicos, os verdadeiros, são chamados a capacitar-se à pesquisa científica e farmacológica e envolver-se com outras profissões biomédicas para o desenvolvimento de novas drogas, vacinas, tecnologias, no espírito de uma verdadeira e criativa compaixão, a isto devendo dedicar toda sua vida, seu tempo e sua inteligência.

 O resto é política, incompetência, conformismo, filosofia caduca, niilismo, usos e costumes da ideologia e do discurso. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Bill Shakespeare e a vacina

No Reino Unido, um senhor chamado William Shakespeare foi o primeiro vacinado para COVID19. Simbólica homenagem! Grande Reino Unido! Voltaire foi aprender o que era liberdade individual e monarquia constitucional na genial Albion. Pregou os ideais britânicos no continente e o resultado foi uma Revolução (à francesa) que redundou no genocídio do Terror. O primeiro dos muitos desastres similares que tem-se seguido no mundo. Parabéns, UK! Parabéns Bill Shakespeare! Parabéns a nós todos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Vaslav Nijinsky em imagens filmadas

Cenas filmadas, originais, do grande Vaslav Nijinsky com uma visão das coreografias de Diaghilev para os Ballets Russes, incluindo o escandaloso "L’après-midi d’un Faune", com a música de Debussy. 

Marcel Proust em "La Recherche du Temps Perdu" narra o espanto e encantamento dos franceses com as obras vanguardistas dos russos do início do século XX. Mas também houve gritos e insultos do público petrificado, pasmo. 

Vale a pena perceber nestas cenas, ainda que de má qualidade, o carisma de Nijinsky, sua habilidade corporal extrema e a capacidade de simular voo, ser imponderável. 

 Foi vítima de doença mental e, a partir de 1913, produziu ele mesmo coreografias herméticas que denunciavam um quadro de demência precoce, como para "Le Sacre du Printemps", música de Stravinsky, o qual colaborou ativamente com Nijinsky.   Jung foi consultado, avaliou Vaslav e o declarou mentalmente incapaz. “Se o houvesse atendido antes..” 

Tarde demais. Nijinsky, um dos maiores bailarinos de todos os tempos. Ah! Esta estranha ligação entre genialidade e loucura. 

 Vale a pena ver as imagens.