sábado, 24 de dezembro de 2011

Ouvindo Chopin no dia de Natal


Oh! tempo, rio fluido que leva nossas vidas, risos, prantos,
Para onde os levas?
Para algum buraco negro de onde não fogem nem as trevas
Ou para algum ignoto e frio céu?
Onde ficaram meus sonhos de criança
E a luminosa árvore de Natal
Na qual meus olhos de menino
Anteviram as maiores esperanças?
E o retinir das taças de cristal, o murmúrio
Das falas dos avós, os sorrisos dos pais,
A correria da piazada pelos pátios
Da antiga casa, e o alarido festeiro dos cães...

E os meus amores, 
Seus primeiros olhares
E últimos beijos,
O convívio secreto,
O gozo e as dores.


Onde, Tempo, transcorrendo
Mundos e Histórias,
Levas a mim
E minhas memórias?






domingo, 13 de novembro de 2011

Andes

Os Andes delineiam elegante curva,
Crista branca sobre negra onda de pedra

E o Inca vê, no cume, Oceano ou selva:
Solitária flor ao vento que na rocha medra.

O Templo bebe a luz e sonha o Universo,
Riscando com um raio o rumo de uma estrela.

Llamas e alpacas, chinchilas e vicuñas:
Tesouros que se movem em sutil camurça.

Vulcão a refletir-se pelas águas verdes
De um lago suave nas altas planuras.

Nos Andes tudo aspira ao eterno e transparente:
O vento frio, o céu, as feras, e a gente.










sábado, 12 de novembro de 2011

Sagração da primavera em Porto Alegre

A primavera em Porto Alegre
É violácea,
É rósea a primavera
Em Porto Alegre.

E há suaves brisas
Perfumadas
Penetrando pelas portas
E janelas.

Há amor brotando
No teu peito
Como brota a flor de laranjeira,
E as idéias soltam-se a voar
Como faz a semente da paineira.

Nos parques
A vida se celebra
Porque a Primavera
Achou seu Porto.
Estás na Primavera
E, como as ruas,
Revives o renascer
De algum deus
Morto.

sonhar e viver

Dentro de cada um há o Futuro
E quase tudo o que se pode é conhecido,
Mas deixa-se passar o tempo esquecido,
Imaginando perfeições vindas do nada.

E nada vinga assim: vida vetada.

Quanto maior o sonho, mais te pede
A semente que gera o sonho, em ti guardada.
O sonho não te basta e tu medes
A dimensão da árvore brotada.


domingo, 16 de outubro de 2011

Divagando sobre as imagens do Hubble

Espaço vazio, Oceano
Onde sutis matérias têm seu Meio
E energias levíssimas elaboram
O Universo que sabemos.
Espaço não-Vazio,
Mas pleno
De obscura matéria
A interligar
Multiversos alheios.

Espaço
Falsamente negro,
O quê escondes
Em cores que não vemos?

O quê és, Universo?
Qual Tecido, ou Corpo, ou Mente?
O que és, imensidão misteriosa,
Povoada de galáxias flamantes,
Rosas flutuantes a girar?
Quem habita tais pontos luminosos,
Tendo estes mundos como lar?

Eterno Desconhecido,
De infinitos mistérios,
Qual será o teu Sentido?
O nosso será te desvendar?

Talvez, talvez, talvez...

Nos deixamos levar
Pelo anseio de entender-te
E cada grande Sistema
É só um flerte
Com o que estás a ocultar.

Talvez, Universo, guardes
Algum singelo segredo,
Que nos libere do medo
Das tuas brutais dimensões,

E então, percebamos o ilusório
Do humano degredo
E que as tuas amplidões
Desfazem-se ante a essência
Que nos deste: Consciência.

Talvez sejamos o Uno
Em suas múltiplas percepções.












Respostas da vida

Silêncio! a vida te responde
Por todos os sentidos:
Pelo tato, pela vista
E ouvidos.
Desatento,
Não perceberás.
Atento! as palavra da vida
São momentos:
Evanescentes
Sons e movimentos.
Trancado em ti
Não sentirás.

Palavras aí
Não servirão jamais:
A vida não responde
Ao que dizes,
A vida te responde
Ao que vives.

E a resposta
É o que tu serás.











sábado, 15 de outubro de 2011

Amante



Teu vácuo movimenta-me a vida.
Adiante vais: enigmática ida,
Eu vou atrás, descida ou subida,
Aonde vais.
Assim tenho sido:
Deixando-me ir
A rastrear os teus passos
Buscando entender
O fim do caminho,
Nesta profusão de tempos
E espaços.
 Nós somos ainda
 Garotos gozando
A viagem do Sonho
Em dias de sonho,
E em sonhos nas noites:
Paris nos atrai,
Madri é demais,
Bergamo é bela,
O Algarve encanta.
A vida é ainda canção
Na nossa garganta.
 Embora eu saiba fazer o caminho
Com meus próprios passos,
Aasvero sozinho,
 Eu sigo teus passos com a alegria
De um iniciante
Vivendo as delícias
De ser o Amante.



sábado, 24 de setembro de 2011

O Boeing da Luciana



Bom é fugir de vez em quando
E deixar o mundo esperando.

Um Boeing qualquer
Para qualquer ilha ou deserto
E ali andar em camelo
Vestindo um par de Havaianas,
Com flores sobre os cabelos.

Dançar as danças estranhas
Embriagado com estranhas bebidas
Degustar o mundo
Até suas entranhas
Desconhecidas.

Bom é fugir de quando em vez
Esquecendo o que se fez
E o que se fará um dia,
Ser rei de seu próprio mundo
No mundo da fantasia.




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portugal




Adentro no Portugal que me aviva reentrâncias
De memórias que não lembro,
Como as carnes de um cozido
Que amava sem o haver ainda comido,
Como a visão dos sobreiros
Das poesias que a avó
Recitava-me ao ouvido.

Todo um Portugal morava-me
Desde sempre no olvido.

E ao cruzar os seus campos de amarelo curtido
Subindo e descendo em Trás-os-Montes
Chego ao Algarve de pele morena,
O Algarve das vilas pequenas.

E mares que eu não sabia
Fizeram sentido,
E falésias de formas estranhas,
E rios talhando a vinhosas terras,
Na imensa nação de pequenas distâncias.

Um canto mourisco ressoa no espaço
No vento que sobe desde o Saara,
Eu vejo outro tempo nos rostos na rua,
E vejo meu rosto nos rostos que vejo.

O Tejo é um talho no corpo da terra,
O Douro é uma veia que drena bom vinho,
E Portugal alimenta aos meus versos
Com as águas do Minho.





domingo, 19 de junho de 2011

Tu



Tu és maior que o teu amor,
Não temas perdê-lo.
Maior que tua fé, tua crença
Ou Partido.
És maior que a tua dor,
Não temas vivê-la.
És maior que qualquer coisa
Que tenhas sofrido.
Tu és maior que o conceito
Que tens de ti mesmo,
Que as tristezas que chegam
E os risos que dás,
És maior do que a luta
Que enchem teus dias,
Ou que a tranquilidade,
Tu és maior que tua paz.

Tu és um segredo que a vida revela
E revela em ti mesmo
Para ti e ninguém mais,

E se vives o que és
Desvendando o segredo
Tu és o Mistério
Com que a Vida se faz.



sábado, 28 de maio de 2011

Porto Alegre e os queridos



Passeio por Porto Alegre
Como quem em si passeia,
Sentindo a cidade
A correr-me nas veias.
E cruzo com Quintana
Weingartner, Érico, Elis,
Baril, Iberê, Caio Fernando Abreu,
Lupicínio, Ellwanger, Reverbel, Ramil
A criarem História
Com o que a vida lhes deu:
Uma alma sangrando
Os brilhos da Mente.

É grande esta terra porque é
Grande a sua gente.



sexta-feira, 27 de maio de 2011

Há de haver



Porque a carne é forte
Há de haver poesia,
Como é forte a alma,
Há de havê-la.

Porque a vida a rolar
Me desenrola,
Porque a vida é um canto
Eu a canto.

Porque a vida vale
E é bela,
É tão bela a vida,
Ou nem tanto.

Há de haver poesia
Porque há encanto,
No olhar da criança
E do poeta
E no negror da noite
Há uma estrela.



sábado, 21 de maio de 2011

O poder da palavra



A palavra lavra a mente.

Larva de borboleta,
De gente, é a palavra.

Ávida de um ouvido paciente,
Em busca de um novo sentido,
Para encontrar um agente,
Lavra a palavra um ruído:

E um mundo pode ruir
Pelo poder da palavra.




sábado, 16 de abril de 2011

enigma


Sou pêndulo, e me movo
Pelo mundo e fora dele,

Sou uma formiga em fila,
Velho cão com cicatrizes.

Sou o homem mais comum
Com meus instintos felizes,

Mas também sou Aasvero,
Um ambíguo forasteiro.

Há momentos em que tenho
O Vazio por meu país
E vasculho a Eternidade
Como um pequeno aprendiz.

Se, às vezes, sei bem pouco
De outras me brilha a mente
E eu descubro as respostas
Sem pensar, feito vidente.

Nos meus sonhos vi países,
Monges, templos e desertos.
Sonhar é um outro espaço
Onde eu sei estar desperto.

Assim, sou como tu,
O Enigma num disfarce,
Céu e terra, água e fogo,
No dia-a-dia a encontrar-se.




silêncios



Silencio, fico quieto
Percebendo-me os cios,
A energia nos fios,
Meus movimentos de rios.

Fico fluindo no mundo
Que corre em mim, eu o sinto.

Calo, pois sei pouco das coisas
E o pouco que sei eu não falo:
Prefiro ferir a vida
Com a sonda do olhar.
Ao tocá-la me reconheço
Uma parte a se perceber.

Sei pela arte que a Vida
Revela-se a pouco e pouco
E é sendo lúcido e louco
Que tenho os olhos de ver.




domingo, 20 de março de 2011

Japão



Círculo vermelho no centro da bandeira branca,
Que o olho oriental pode ver Belo,
Mínimo a expressar totalidade, ou sol e neve.

Japão que me traz perfume leve
De cedros e madeiras,
De maresias costeiras.

Imenso Japão, imerso em história,
Sol sempre nascente,
Imenso Japão
Por sua imensa gente.

Vi pela TV a onda negra
Engolindo-te as carnes,
Até onde a vista discerne.

Vi o sol transformar-se
Em mancha nebulosa de sangue
Sobre a branca neve:
Bandeira manchada.

Mas, feriu-se a pele,
Japão, jamais teu cerne,
Porque o jovem japonês
Deu seu prato de comida
Ao velho faminto,
Esquecendo a própria fome,
E a Alma, conformada
Por antigas crenças
Que os avós deixaram,
Refez com suas mãos de fada
O círculo vermelho
No centro da bandeira branca

Com o que era apenas neve
De sangue manchada.

sábado, 12 de março de 2011

Dança


Para Miriam Toigo–D′Angeli, amiga e bailarina brasileira

Tudo dança
Desde que Shiva,
A mover pernas
E braços,
Lançou o êxtase
Do ritmo
No vazio negror
Do espaço.
Surgiram o vento
De uma corda em movimento
E o seu som
Com um compasso.

As partículas
Tomadas de energia
Congregaram–se
Na dança,
Com quântica euforia..

E, num segundo Movimento,
Veio ao mundo a Bailarina
Para fecundar com sentimento
Aquela dança divina.

La Sylphide, o Quebra-Nozes,
Giselle, Coppellia, Paquita,
O drama humano, dançado,
Torna a loucura bonita.

Dança para nós, bailarina,
Em teu transe de poesia,
Gira como gira o mundo,
Toca nossa alma no fundo
E nos faz também bailar,
Que ao dançar criamos asas
E, tendo o Universo por casa,
Nos permitimos voar.




quarta-feira, 9 de março de 2011

Uruguay




Alarga–se a vista até o mar e suas entranhas
E a brisa ondula–se em cabelos e areias.
Abrem–se os porões dos sonhos e das sanhas
E eu aspiro o aroma de maresias nas idéias.

Uruguay, onde minha alma vai achar morada,
Despida de temores e em busca de si mesma,
Se ao andar por tuas praias, matas e estradas,
Eu caio em mim por águas turvas ao abismo,

Em ti, eu desemboco por uns rios no mar
E, sem pensar, sou poemas a se alinhavar
E a poetar me ponho quieto e iluminado.

Tu és o espaço–tempo em que eu, enfim, me vejo
El viejo poeta, intenso de verbo e desejos,
Em algum outro destino que haverei traçado.



Punta del Diablo, aldeia de pescadores, Uruguay

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sofia de Hallis



Este silêncio que anda pela casa
É uma gatinha perolada,
De patinha aveludada,
Ronronando a me buscar,
Sempre a mirar fundo nos olhos
Girando em torno,
Tocando o rosto,
Tentando afago.

Era a mais doce presença,
com olhos de azul–água,
Hoje, ausência amada.




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Las palomas de Puebla


¿Vendrán de España
Las palomas del Zócalo de Puebla?
Me parece que vuelan
En España todavía,
En lo fastuo del paisaje
Que entorna catedrales.

Asimismo, en Zaragoza volarían.

En el aire fresco dan volteretas
Y posan una tras otra en las ramas del laurel.

Vuelan en paz las palomas de Puebla
Y de España, o de El Cairo en otros días,
La preciosa paz para las palomas
Niños, viejos y, nada más, la Poesía.





terça-feira, 11 de janeiro de 2011

um homem qualquer



Um homem é o Homem.

Sua vida equivale
A tudo que é.

Sua vida desde
O ventre até
O último suspiro
Do homem velho.

Nada maior
Para quem é humano
Nenhuma teoria,
Força histórica,utopia,
Moda, justificativa
Regra ou lei,
Tem mais valor
Que uma única
Vida humana.