quinta-feira, 23 de outubro de 2014

fado merecido

Quis a pólis 
(e portanto terá que) 
viver o seu inferno.

nestas horas 
só nos resta limpar as solas das sandálias 
na soleira da porta
e abandonar a cidade à sua triste,
e merecida, sorte.




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Os fantasmas. Ou, quando eu lia Bakunin e Proudhon. Ou ainda: as memórias de um coroa


Uma das piores mentiras é reescrever a História: transformar um pulha em herói, destruir a reputação de um grande homem. Reescrever a História é o principal instrumento dos regimes totalitários. 
Porém, contra os que tentam tomar o poder como um vendaval destruindo o passado, só resta a  luz de uma vela que, embora sendo frágil como uma vida, é o farol dos mais sábios: a nossa memória.

Diz um certo partido que os fantasmas do passado querem voltar...dizem que o tal  partido transformou um país caótico num exemplo de bem-aventurança.

Oh! memórias minhas...eu vos evoco: o que dizeis vós?

Eu lembro da adolescência. Milicos no poder, corrupção oculta, o (agora petista) Delfim Neto com a batuta da Economia. Censura (apesar do sexo correr solto e cada um ser como bem queria na terra brasilis). Notícias eufóricas na imprensa sobre as conquistas da “revolução de 64“, ufanismo, hinos de amor à pátria, futebol. Lembro de gás lacrimogênio na sala de aula no Prédio da FAMED, garotada nas ruas...
Líamos Bakukin e Proudhon nos livros da LPM como se gozássemos o céu do pecado (éramos, pourquoi pas, adolescentes um tanto idiotas dos tempos pós-68).
Lembro de nossa ida para as ruas pedindo democracia, o movimento das diretas já,  Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso, Teotônio Vilella, Aécio, Fogaça...A vitória das Diretas, a morte do Tancredo Neves. Lembro das minhas lágrimas por esta morte, como chorei a morte de Ulisses Guimarães.
Depois, Sarney no poder,  este mesmo agora apoiado pelo PT, sua corja, o caos econômico, a inflação. Planos sucessivos, e sem sucesso tentando conter a subida dos preços.  As donas de casa do Sarney, a tentativa forçada e mal-feita de conter preços na marra. 
A ascensão de Collor, este atualmente senador com o apoio do PT. O confisco da Poupança dos brasileiros. Lembro de um taxista que me dizia chorando que lhe roubaram as economias com que compraria um carrinho melhor para seu trabalho. Nosso dinheiro se foi, mas Collor, seus amigos e familiares, saíram intocados com dólares enfiados sabe-se lá onde. Collor fez um ato justo: a liberação do mercado brasileiro aos artigos do exterior criando competição contra o monopólio da indústria nacional (não esqueço deste item que talvez o coloque no Limbo, ao invés de ir para o Inferno definitivamente...sabe-se lá.) 
Quem não viveu naquela época, ou viveu mas era sustentado por uma família burguesa (graças a Deus) talvez nem saiba o que foi aquilo. Eu, que venho de família pobre, era um jovem médico com emprego, mas não conseguia pagar minhas contas com dinheiro que ganhava em um hospital, e não conseguia comprar um apartamento porque não se sabia exatamente quanto o dinheiro valeria no outro dia e qual o preço final de um imóvel, ou carro, nem de uma linha telefônica. Tentávamos segurar as pontas, mas no Hospital onde trabalhava, os funcionários faziam "vaquinha" para obter grana para o transporte público ou a própria comida. Nos supermercados os preços eram tabelados minuto a minuto e, às vezes, um quilo de alguma coisa no final da tarde valia o dobro do preço da manhã. Éramos gente trabalhadora e sem esperanças.
Depois surgiu Itamar Franco e seu famoso Ministro da Fazenda, um socialista de renome internacional: Fernando Henrique Cardoso. O sujeito declarou, com aquela cara sorridente, auto-confiante: é possível controlar o fantasma da inflação. Este pai-de-santo da Economia nos deixou curiosos, mas permanecíamos descrentes. Pois não é que o filho da mãe conseguiu? Apertando o país, certamente com nossa aprovação para os sacrifícios, exorcizou o exu inflacionário que subjugava o país em níveis maiores que 900%. Conseguimos, lentamente, fazer nossas vidas, calcular nossos custos, conseguimos sorrir. Montar negócio, viajar...crescer. No governo FHC, programas sociais, incluindo o "Bolsa Escola", foram criados. Os genéricos surgiram em um forte confronto com a indústria farmacêutica e os medicamentos contra AIDS passaram a ser distribuídos gratuitamente na rede pública...O PT dizia na época que isto significava dar medicamento “de segunda“ para o povo!
Depois, Lula...pensamos: talvez seja bom este sujeito no poder. Quem sabe não melhora ainda mais a vida dos pobres. Mas tínhamos medo de que o safado, ao invés de defender a democracia pela qual tanto lutamos, fosse conspirar na direção de uma ditadura socialista. Quando entrou, tratou de adonar-se das realizações do FHC, transformou o ex-presidente em persona non grata, um “neoliberal“ perigoso. Com sua peculiar arrogância travestida de simplicidade popular, Lula associou-se aos Castro, ao Chavez e a outras sombrias figuras, visando dominar a América latina e construir o mito Lula. Desde o início o discurso da divisão, a cisão entre esquerda e direita, o populismo. Tudo isto vimos...Este lula também talvez se reúna ao seu aliado Collor no Limbo por ter seguido à risca a direção traçada por FHC...mas não sei se escapa das chamas. (rsrsrsr...)...
Depois, Dilma.  Tempo fantasmas doidos ou medicados!
O rumo? Não tenho nas memórias pessoais a experiência do totalitarismo socialista. Nunca fiz fila para comprar leite e pão. Mas certamente o que li sobre o mundo bolchevique e o que vejo na Venezuela e em Cuba não fecha com as leituras que fiz na adolescência sobre os sonhos pueris de Bakunin e Proudhon.