quarta-feira, 1 de maio de 2024

a juventude da Arte

Viemos a Viana do Castelo para visitar esta antiquíssima preciosa joia à beira-mar na Costa atlântica do extremo norte de Portugal, junto à Galícia, a uma hora de Vigo. Região onde dezenas de povos desde os períodos pré-históricos, incluindo os celtas, lusos, gregos, romanos, godos, construíram suas vidas e obras. Seriam mais de 30 diferentes povos…Enfim, o sempre surpreendente Norte Português, antiquário, e moderníssima realidade contemporânea, qualidade de vida incomparável, incluindo a beleza arquitetônica das casas e construções, qualificação de engenharia, infraestrutura, limpeza urbana, culinária saudável e deliciosa. E os renomados vinhos verdes e brancos típicos desta região que os Romanos chamaram Gallaecia, terra dos galegos (Welsh people, para os britânicos). Sem falar das tradições, vestimentas típicas, danças e a sonoridade das gaitas de foles. Viemos ver apartamentos para comprar. O mar é azul brilhante aqui, como o rio Lima no seu fluxo claríssimo e transparente. As ruas são plenas de vitalidade e tranquilidade. Segurança absoluta. Muitos bons restaurantes. E os preços das casas ainda são suportáveis para as nossas possibilidades, ao contrário do amado Algarve, de Lisboa e do Porto. Vimos 6 apartamentos ontem, cinco deles bons, dos quais dois muito bons. Mas não escrevo por isto. Fiquei, isto sim, encantado de conhecer o proprietário do último apartamento. Gustavo subiu pelas escadas com as funcionárias da Imobiliária. Monsieur X e eu subimos pelo elevador. Ele mede cerca de 1.80m, uma postura ereta que começa a encurvar-se. Teria segundo meu olhar clínico uns 70 anos. Vestia-se com um “casual look” incluindo uma pochete “estilosa”, boné. Cores corretas e elegantes. Descolado, se diria no Brasil... Com forte sotaque de um Português afrancesado, disse-me: -o apartamento eu gosto, mas ando com uns probleminhas…estou com 91 anos de idade. Eu me surpreendi e repliquei: “uau! Que maravilha, parabéns.” Pareceu-me inacreditável meu erro de diagnóstico visual. Abriu a porta da residência e o que vi foram quadros de arte contemporânea pelas paredes dos corredores, salas, quartos e escritório. Quadros muito bons!!! De diversos autores, talvez alguns feitos por ele mesmo. E no chão tapetes persas de diversas dimensões, daqueles que têm suas histórias e reconhecidas procedências. Móveis moderníssimos mesclados com “móveis de demolição” recuperados. Esculturas e objetos de arte. Lembrei imediatamente dos meus amigos artistas de Porto Alegre, especialmente do querido Fernando Baril, da querida Berenice Unikowsky, do trabalho genial de recuperação de peças arquitetônicas do Normelio Brill, algo mesmo do nosso ap em Porto Alegre. Mas o que mais me alegrou, além do reconhecimento de coisas materiais, na verdade, foi algo sutil envolvendo o “espírito artístico” impregnado na arquitetura de um ambiente. E, sobretudo, perceber no quê se transformou ser “idoso” nestes novos tempos. Chequei com rápido olhar a biblioteca de Monsieur X: livros espetaculares sobre assuntos que me encantam. Vi que o senhor é Belga, como o saudoso amigo Dominique Boxus. E o escritório, “bagunçado como deve ser”, com um complexo de duas enormes telas de computador, e seus equipamentos atualizados. Ali ele trabalha…e eu fiquei curiosíssimo: em quais projetos? Com quais aplicativos? Quais os temas? Ou seja, como tenho estado preocupado com o assunto da idade, e do envelhecimento, esta visita me levou a conhecer um jovem sofisticado e criativo rapaz de 91 anos. Os tempos e a Medicina, graças a Deus, são outros. Envelhecer por dentro é apenas a pior, e mais medíocre, das opções. Uma pena morarmos - por enquanto - tão longe. Adoraria ser amigo deste artista e intelectual belga e saber suas opiniões sobre a pintura flamenca e, certamente, sobre a do Basquiat.