domingo, 18 de julho de 2010

Facetas do real

Silenciosa caverna, cova,
Paraíso onde enfurnar-se
No qual arqueia-se um teto:
O ancestral útero em disfarce.

Lá fora é frio e há neblinas,
Crianças esmolam nas esquinas,
Ainda, como aqui nos é fadado.
O povaréu desvaira em orgias
De coca, ruído, fumo e álcool,
E há o pivete que nos sequestraria.

Mas cá, aromas de café e pão na mesa,
Um coro entoa Bach para eu ouvir
Falo com Borges, Goethe e Pessoa,
Ou, se quiser, eu sonho Debussy.

Aqui, tomo o Caminho dos Guermantes,
Vou com Marcel redescobrir o Tempo,
Ou eu me lanço em precipício simbolista,
A decifrar, extasiado, a Mallarmé.

Aqui, ouso correr o risco imenso
De amar a vida assim como eu a queria
Posso dizer que te amo, ou o que penso:
Que o Homem é bom, que em tudo há Poesia.









Nenhum comentário:

Postar um comentário