domingo, 7 de julho de 2024

Allons, enfants…

A política francesa me parece demodée. Uma senhora que já em 1968 era uma balzaquiana com historial psiquiátrico de momentos de loucura libertária, pacifismo colaboracionista com as invasões nazistas, seu colaboracionismo declarado posterior com Hitler, seus namoros com os totalitarismos soviético e chinês. Lembro de um intelectual chinês que viveu os maiores sofrimentos durante a Revolução Cultural maoísta, conseguiu sobreviver a uma execução em praça pública, fugir para a França e, ao contar a seus colegas, as torturas que viveu, ficou pasmo de ouvir dos intelectuais franceses que ele não sabia o que dizia! Pegou um avião para os Estados Unidos, como fizeram tantos intelectuais e cientistas judeus que haviam buscado a França nos tristes tempos da Segunda Grande Guerra.

Pois esta senhora idosa continua fazendo suas ladainhas para o mundo sobre um “outro mundo possível”, mesmo com sua extrema-direita perigosa, sua extrema esquerda dada a vandalismos e violência, seu colaboracionismo agora com terroristas islâmicos, creio que mais uma vez seu (incurável)  anti-semitismo…

Esta senhora rica com empregados estrangeiros pobres, com sei lá quantas cirurgias plásticas, quantos milhões de abortos anti-conceptivos, vai para a rua com uns bandos de jovens aos berros, com seus clichês, sua tentativa ridícula de “salvar o mundo”, apesar das  greves sucessivas em que vivem, e as multidões de “imigrantes” atirados nas ruas…

E hoje, vemos estes vergonhosos momentos de tensão de algum conflito com cara de guerra-civil por causa de ideologias defuntas. Por um conflito insolúvel que ela mesma inventou para classificar as pessoas durante a Revolução Francesa: esquerda versus direita. O oposto da convivência civil respeitosa das diferenças, tão desejada pela União Europeia. 

Acho que tudo representa um idealismo feito de futilidade e arrogância pseudo-intelectual. E, como a madame é endinheirada, talvez falta do que fazer.

Eu me pergunto como os trabalhadores franceses lúcidos e esclarecidos conseguem ter algum instante de tranquilidade?

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Gracias a la vida

Sabe quando a vida te concede um presente? Neste 5 de julho de 2024, estou relendo um artigo produzido por colegas investigadores chineses, intitulado "Inhibition of Notch3/Hey1 ameliorates peribiliary hypoxia by preventing hypertrophic hepatic arteriopathy in biliary atresia progression", publicado em março de 2024. 

Neste estudo, os pesquisadores chineses confirmam tudo, ponto a ponto, que temos observado e descrito em relação à presença e caracterização de um distúrbio vascular na atresia biliar. E vão além, identificando um possível método de terapêutica molecular desta arteriopatia que, para nós, é evidente desde 2005.

Ontem, li dois outros artigos que comprovam os mecanismos envolvidos nesta arteriopatia, incluindo mutações em genes específicos e apenas agora identificados, e os efeitos da hipóxia sobre o programa fetal de resposta à hipóxia.

Isto me traz aquela sensação deliciosa de que os sonhos que tive quando jovem sobre o que queria fazer nesta vida, pelo menos em parte, se cumpriram.

Gracias a la vida que me ha dado tanto...

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Uma foto estranha


 Uma foto estranha da avenida Europa, onde moramos, numa pequena cidade universitária quase na fronteira com Espanha chamada Covilhã (do Latim, Cava Iuliana), nas encostas da belíssima Serra da Estrela (os Montes Hermínios, para os antigos romanos).

O que é estranhável na foto? Em primeiro lugar, a fiação urbana totalmente no subsolo. Para quê? Nestes 9 anos em que moramos aqui, houve apenas uns dois instantes de falta de luz, que duraram segundos. Além da fiação subterrânea, onde há fios e árvores a poda da vegetação é intensiva, impossibilitando o drama da falta de luz durante ventanias.

O que além disso pode-se estranhar é a quantidade de obras na nossa pequena Covilhã: novos grandes hoteis, novo shopping center desta vez aberto, contando com FNAC, Primark e o cobiçado super(!)mercado espanhol Mercadona (que eu adoro), e outros empreendimentos para citar apenas a nossa avenida. Além dos demais shoppings, hoteis e supermercados internacionais e portugueses pelas redondezas. Eu confesso que fico impressionado. 

A verdade é que nestes últimos anos a Covilhã, e todo Portugal, recebe uma quantidade imensa de novos moradores, sejam europeus (principalmente ingleses, alemães, franceses, e refugiados ucranianos, entre outros), latino-americanos (brasileiros como nós, argentinos, venezuelanos), asiáticos (uma imensa imigração de indianos). Os indianos vêm também com seus investimentos: uma cobiçada indústria de diamantes sintéticos. 

Além dos milhares de alunos universitários de todo Portugal e outros países que enchem as ruas da Covilhã com um agito juvenil. 

E eu rio que, no meio disto tudo, a Covilhã mantém as marcas de cidade pequena. Quando vou ao Serra Shopping, comprar alimentos no Supermercado Continente, de bermuda, camiseta e tênis, como hoje, no elevador percebo os olhares de um grupo de jovens, sorrindo entre si, olhando-me e cochichando: “olhem, é o nosso professor”…o que não deixa de ser delicioso, ao significar que “eu existo, eu faço parte, e eu compartilho o meu melhor” (sentimento que faz falta nas grandes metrópoles).


segunda-feira, 1 de julho de 2024

Revendo a vida

Há algumas coisas que apenas ao morar na península ibérica eu fui perceber concretamente. Fatos que talvez, pelo menos para mim, pareciam fruto da imaginação de poetas e pintores, e que se mostraram reais na sua beleza. Um deles são as papoulas nos campos, que os franceses chamam de coqlicot, crista de galo, e milhares de outras florezinhas silvestres, bordando os caminhos. Eu admirava as pinturas de Monet e me dizia: ele escolheu algum lugar especial para pintar esta beleza, com pontilhados de vermelho alaranjado e verdes. Ou era parte da sua imaginação artística. Pois são assim os campos destas nossas regiões na primavera e verão: mares de papoulas sobre os campos verdes. 

O mesmo são as incontáveis cegonhas, com suas famílias, a cuidar seus bebês: estão espalhadas pelos caminhos e cidades, com seus enormes ninhos feitos nas copas das árvores mais altas, nas torres das igrejas e castelos, e mesmo em postes. São milhares e, já na aurora, saem de seu conforto para buscar alimento para os filhotes. 

Outra experiência que me revelou o sentido do dito popular “uma andorinha só não faz verão” é admirar esta imensa revoada de andorinhas, quando o clima aquece. Milhares, dançando pelo céu, como a festejar a luz do sol nas manhãs e ao entardecer…”las golondrinas” amadas.

Sou muito sensível a esta festa maravilhosa de cores, seres e sensações. Graças a Deus. 

Linda península Ibérica que me revela encantos que eu desconhecia na vida e me possibilita rever o que eu sei dela.