sábado, 20 de setembro de 2025

Outono 2025

 


O outono, feito a primavera, aflora

Outras flores, outros frutos, outra hora.

O olhar, de tanto sol, repousa agora.

Noutra luz, neutra luz.

Outras aves canoras

Dançam no fundo azul 

Prateado e rosa,

A enriquecer-me com poesia 

A prosa.








segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Imigrantes

 Fora de Portugal negros, brasileiros e paquistaneses!

Frase escrita numa parede da Covilhã



Escrevo este texto porque nossa família é um delicioso fruto da imigração europeia ao Brasil. Uma mescla de italianos da Lombardia, com ramificação pela vizinha Áustria, e de portugueses algarvios e transmontanos. Foram todos ao Brasil em busca de melhores condições de vida, lá pelo século XIX e início do XX.

Minha avó paterna, Maria Rosa Januário dos Santos, portuguesa, era analfabeta, como uma boa parte dos imigrantes de Portugal. Perdeu seu marido, meu avô António dos Santos, dez anos mais jovem que ela, quando tinha 4 filhos pequenos a criar. Lavou roupas no rio Guaíba para obter sustento, conseguindo levar adiante, sozinha, sua família. Meu pai, Waldomiro, e meu tio Manoel, este nascido em Portugal, tornaram-se marceneiros e criaram pequenas indústrias de móveis. Com talento sustentaram seus filhos, alguns dos quais, incluindo eu mesmo, tornaram-se profissionais liberais, com curso universitário, graças ao sistema de ensino público do Brasil (qualificado, pelo menos, naqueles tempos). Meu pai era um homem brilhante e talentoso, que nunca conseguiu realizar seu sonho de tornar-se médico. De algum modo, eu cumpri sua vontade. Na sua pequena indústria, situada na rua Rodolfo Gomes, bairro Menino Deus, recebia seus amigos, incluindo pessoas de elevada cultura, que iam à nossa casa não apenas para comprar móveis, mas também para discutir temas de política e história. 

Meu pai casou-se com a linda Rosa Carminatti Miz, minha mãe, filha de Luiz Miz e Lucrécia Carminatti, esta última nascida no Vêneto, mas filha de cidadãos bargamascos. Do lado materno, outra tragédia: a pequena Rosa ficou órfã de mãe aos 3 anos. Meu avô casou em segundas núpcias com uma senhora napolitana, e minha mãe, como minha tia Iolanda, construíram suas histórias familiares de modo isolado, com grande bravura e capacidade. 

Por que recordo isto? Porque me impressiona a ignorância de uma boa parte dos portugueses, relativamente à realidade brasileira, limitando-se a identificar somente os clichês da TV Globo, no “oba-oba tropicalista” das regiões praieiras desde o tempo do Brasil-Colônia, como Rio de Janeiro, Nordeste, especialmente Bahia. Compram – e vendem- a narrativa fácil de um brasileiro malandro, safado, preguiçoso, quando não perigoso. Gente a ser evitada, enfim. 

Enquanto isto, o Brasil jamais negou-se a receber os irmãos portugueses, muitos deles analfabetos como meus avós. Para ter-se uma ideia, apenas entre os séculos XVI e XVIII cerca de 700 mil portugueses chegaram ao Brasil e, do final do século XIX até 1903, entraram no país uns 390 mil portugueses. A imigração portuguesa alcançou seu auge entre 1904 e 1930, com a chegada de cerca de 800 mil portugueses. Entre 1820 e 1963, foram os portugueses o povo que mais imigrou para o Brasil, com mais de 1 milhão e 700 mil pessoas, mesmo à frente dos italianos, que incluíram em torno de 1 milhão e 600 mil imigrantes. Além deles, entre 1820 e 1963, foram construir suas vidas no Brasil, mais de 700 mil espanhóis, 260 mil alemães, 250 mil japoneses, além um milhão de pessoas de outras origens.

No caso dos alemães e italianos, o que houve foi mais que imigração, constituindo um processo de colonização massiva. 

Os primeiros a chegar no sul do Brasil foram os alemães, graças à atuação da Princesa Leopoldina, da Áustria, e seu esposo D. Pedro I (Dom Pedro IV para os portugueses).  Em julho de 1824, os primeiros 39 alemães chegaram ao Sul, sendo assentados em São Leopoldo, no vale do Rio dos Sinos, e iniciando a chamada “Colônia Alemã”. Recebiam um lote de terras e subsídios para viver e produzir, sendo então “naturalizados”, tornando-se cidadãos brasileiros. Foram, desde então, conforme já descrito, 260 mil alemães a optarem pelo Brasil. Desde o início, seu luteranismo foi respeitado, apesar da religião católica ser a oficial no país. Quanto ao critério de seleção de “falar a língua do país ao qual se imigra”, os alemães mantiveram e falaram seus idiomas e dialetos próprios, embora lentamente fossem aprendendo a comunicar-se em português, o que se tornou uma realidade ampla apenas no século XX, durante a segunda grande guerra. Mas com muito sotaque, e mantendo o alemão no reduto dos lares. Em 1986, cerca de 3 milhões e 700 mil pessoas eram descendentes de alemães no Brasil, especialmente no Sul do país. Em 2004, a Deutsche Welle descreveu que em torno de 5 milhões de brasileiros descendem de alemães. 

Quanto aos Italianos, vale lembrar a Canção dos imigrantes, criada no final do século XIX:

"América América

lá se vive que

é uma maravilha

vamos ao Brasil

com toda a família

América América

se ouve cantar

vamos ao Brasil

Brasil a povoar"


Entre 1820 e 1963, entraram no Brasil mais de 1 milhão e 600 mil imigrantes italianos, os quais geraram, lá por 1999, uns 30 milhões de descendentes, segundo a Embaixada Italiana no Brasil, metade dos quais apenas em São Paulo. No Rio Grande do Sul, a colonização pelas comunidades originadas de todas as regiões do Norte da Itália, foi marcada pelo estabelecimento de um sem número de cidades rurais, que deram origem às metrópoles da “Colônia Italiana” onde, com o desenvolvimento do Cooperativismo e da Agricultura familiar, concretizaram indústrias poderosas e comércio internacional, incluindo marcas como a Tramontina e a Marcopolo entre tantas outras. Além de uma Língua original, mesclando os dialetos do norte italiano com português, o "Talian".

Um dado extremamente relevante para o desenvolvimento atual do Brasil foi a migração interna dos descendentes destas Colônias Italiana e Alemã desde o Rio Grande do Sul para o Centro-Oeste brasileiro, passando pelo oeste de Santa Catarina e Paraná, aonde levaram sua tecnologia na agro-indústria, sua cultura e religiosidade, de modo que o Cerrado Brasileiro, o qual o antropólogo francês Claude Levi-Strauss denominou de “Tristes trópicos”, prevendo, de modo completamente equivocado, que aquele deserto humano e cultural passaria da “selvageria à decadência, sem atingir a civilização”, tornou-se um dos maiores pólos agro-industriais do mundo, isto sem destruir matas por tratar-se de um bioma de savana, sem floresta.  E lá estão os descendentes do imigrante, esta joia que produziu milagres em pleno deserto, que fundiu continentes com cultura, talentos e inteligência, levando ao florescimento dos potenciais de pessoas de todos os tipos, cores, línguas e níveis educacionais. 

E a produzir profissionais qualificados a partir das humildes famílias de imigrantes, muitos destes analfabetos, mas com grandiosidade cultural viva nas almas.

Há, sim, que planear quem entra, selecionar quem chega em termos de honestidade e capacitação; regular claramente o processo de imigração e cumprir as leis de forma estrita, de modo a evitar sofrimento tanto para os portugueses quanto para os próprios imigrantes. 

Mas, os vândalos, ou "ativistas", que escrevem estas e outras  frases estúpidas nos muros das cidades portuguesas ignoram que negligenciar por preconceito o potencial humano que busca - e traz - qualidade ao país é desprezar um futuro melhor.



terça-feira, 19 de agosto de 2025

Carta, por estos días, a una amiga de España

C, como andas? Por acá se quemó mucho campo (esta porquera de los eucaliptos, que solo empobrecen la tierra e, debido a su aceite, agrandan los fuegos). Son los “desiertos verdes”… Portugal tiene bien más del 30% de sus matas cubierto por esta basura importada para vender madera. El eucalipto se comporta como plaga porque sobrevive a los incendios y se propaga en detrimento de otras especies. Me acuerdo del incendio de Pedrogão, donde murieron muchas personas. Sin hablar de los animales. Un drama enorme, acusaciones entre partidos, pero… Siguieron plantando eucaliptos en la región y Pedrogão volvió a convertirse en un inmenso eucaliptal. De todos modos, nada cambia y nada se hará…  En España pasa lo mismo, ¿no?

Ha llegado la hora de que los políticos se acusen entre sí para no cambiar nada. Esto me asombra.

Besote...

Jorge


Uma das muitas referências sobre esta praga incendiária, que só tende a agravar seus efeitos com o câmbio climático:

https://www.europeandatajournalism.eu/cp_data_news/portugal-wildfires-and-the-eucalyptus-curse/

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Sobre a Inspiração (em sentido fisiológico ou poético)

Libera-se um suave sussurro do silêncio, 

Negror estremecido por vaga-lume sonoro,

A voz primeira de uma estrela na aurora,

E o coro inicial da sinfonia, enfim.


Este balido de ovelha em parto do universo,

A cada vez que a vida anseia por catarse,

Inala na fonte dos ventos e dos versos,

Para que o deus-criança 

Renasça em mim.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

A ilusão das Ideologias e o universalismo da Ciência

Eu dei-me ao trabalho de traduzir um texto do livro SCIENTIFIC INTEGRITY AND RESEARCH ETHICS - An Approach to the Ethos of Science, relativamente à necessidade de ser íntegro na Pesquisa e na Divulgação dos dados científicos, e do Conhecimento. Toda vez que eu leio na media (digital, escrita ou televisiva) que "os cientistas descobriram que...", sinceramente eu tremo. Os absurdos divulgados pelos meios de comunicação em nome da Ciência, e popularizados nas conversas de "vizinhas, ou terapeutas" e nos reels de influencers, são altamente destrutivos, incluindo o abandono à vacinação, a liberação do uso de drogas (estupefacientes), uso de dietas absurdas, medicamentos "naturais" e suplementos alimentares, hormônios, hemeopatia, práticas obstétricas irresponsáveis, etc., etc., etc.,  em nome de posturas ideológicas, sejam naturistas, libertárias, democráticas, religiosas, políticas, entre outras. O texto abaixo envolve um caso histórico em que uma ideologia levou à Fome e à Morte na URSS. Aliás, o mesmo que se vê relativamente às ciências da Economia e Sociais, em países latino-americanos, nestes dias.
Eis o texto:


"Universalismo na Ciência

Na Ciência, Universalismo significa que a Ciência é a mesma onde quer que vamos. Não existem verdades locais, mas sim um mundo natural que só pode ser compreendido ao considerarmos as suas leis como universais. Existem verdades que podem ser descobertas independentemente das nossas crenças particulares, e é o projeto da ciência descobri-las independentemente dos nossos preconceitos locais. Os objetos da ciência não são afetados pela cultura ou pela história. As instituições científicas devem, portanto, estar engajadas no mesmo trabalho em todos os lugares e aceitar como algo natural que, onde quer que vamos no mundo, outros cientistas buscam as mesmas verdades subjacentes de maneiras semelhantes, e que os resultados desses estudos nos levarão a todos, conjunta ou separadamente, aos mesmos fatos básicos sobre o Universo. 

A falha em seguir essa noção básica pode ser desastrosa. Um exemplo claro disso é o Lysenkoísmo, a “ciência soviética” fracassada, baseada no Lamarckismo, o qual mais se aproximava da ortodoxia comunista, mas cuja busca levou à morte de talvez centenas de milhares de pessoas devido à fome na União Soviética estalinista.

A teoria de Darwin da seleção natural não se conformava às noções comunistas de perfetibilidade e cooperação. A noção de que as populações se fortalecem por meio da competição e da eliminação lenta dos menos aptos por forças naturais, da competição por recursos escassos e do progresso lento e hesitante da evolução contraria muitos dos preceitos do Marxismo, expressos em vários escritos que baseiam as políticas comunistas. A evolução darwiniana, por meio da seleção natural, não pretende ter implicações políticas, mas sim descrever o funcionamento da Natureza. Contudo, devido ao que os soviéticos viam como implicações imperialistas e anticomunistas, potencialmente perigosas para a revolução em curso, uma visão diferente da natureza foi adotada como ortodoxia estatal na União Soviética, com consequências desastrosas.

Trofim Lysenko adotou a teoria da evolução de Jean-Bapstiste Lamarck por meio da transmissão não de características genéticas, mas de características adotadas. Em outras palavras, a evolução poderia ser direcionada pelo aperfeiçoamento dos indivíduos e das suas características, em vez de depender da natureza para eliminar características genéticas desadaptadas diante de um ambiente em mudança. Essa teoria se adequava melhor à noção Hegeliana de Materialismo Dialético que sustenta a teoria comunista e, portanto, foi considerada correta, independentemente do que a observação realmente confirmasse sobre o darwinismo.

A teoria, no entanto, estava lamentavelmente equivocada. As visões lamarckistas sobre mudanças nas espécies ao longo do tempo não são corroboradas pela observação, enquanto a teoria darwiniana da seleção natural, continuou a ser confirmada pela observação por mais de cem anos. Mas devido à maior afinidade entre Lamarck e a visão soviética da perfetibilidade dos humanos e da necessidade de cooperação em vez de competição na sociedade comunista, Lysenko ascendeu dentro do aparato do Partido Comunista na URSS e a teoria da herança genética foi vista como subversiva.

As ideias de Lysenko sobre a manipulação de espécies forçando mudanças nos seus fenótipos foram adotadas contra todas as evidências em contrário devido à Ideologia. Esta era a “ciência soviética”, em oposição à “ciência ocidental”, decadente e capitalista. Lysenko foi apoiado por Stalin devido à sua ideologia, mesmo diante de repetidos fracassos em campo para aplicar com sucesso as suas visões às plantações. 

Milhares de geneticistas que se opuseram à ciência de Lysenko foram presos e até mesmo executados, e a Academia Lenin de Ciências Agrícolas decretou que apenas o lysenkoísmo seria ensinado e não a teoria da herança genética. O resultado líquido foi que a produtividade agrícola na URSS caiu devido às tentativas de aplicar as teorias de Lysenko, mesmo em uma época de escassez de alimentos e quebras generalizadas de safra. Isso pode muito bem ter contribuído para o flagelo da fome que afligiu a URSS sob Stalin. Além disso, a ciência feita na União Soviética sofreu um retrocesso de décadas.

Não existe ciência "soviética". As verdades universais reveladas pela descoberta da herança genética e pela contínua confirmação da teoria darwiniana da seleção natural como mecanismo de mudança e especiação não dependem de condições locais, muito menos de opiniões políticas. A noção de que uma teoria científica deva ser priorizada devido à sua relação mais próxima com uma ideologia política favorecida vai diretamente contra o universalismo da ciência. Adotar o lysenkoísmo prejudicou a sociedade e atrasou a ciência soviética. Os cientistas soviéticos que corajosamente se opuseram a ele estavam fazendo justiça ao valor maior do universalismo na ciência e, literalmente, arriscaram as suas vidas em defesa de princípios científicos sólidos. Universalismo significa que não podemos escolher entre hipóteses ou teorias científicas conflituantes baseados em meios “democráticos (opiniões maioritárias)” ou ideologias políticas dominantes. Em vez disso, todos os pesquisadores que trabalham numa área, independentemente de onde estejam, dos seus pontos de vista, preferências ou crenças, devem aceitar as evidências como elas chegam e segui-las para onde elas nos levarem. As leis da natureza são as mesmas em todos os lugares.

Isso significa que, mesmo quando alguma observação científica leva a uma hipótese que não se adequa às nossas visões atuais, seja sobre ciência ou sociedade, somos obrigados a testar a hipótese em outro lugar, buscar confirmação ou refutação e, se a confirmação persistir, revisar as nossas visões. Posições individuais, locais, nacionais ou ideológicas não podem influenciar a nossa busca pela verdade. Quando uma verdade torna-se muito "inconveniente" para um ponto de vista ideológico específico, ou mesmo uma hipótese, ou teoria científica previamente acreditada que se torna falsificada diante de novas evidências, devemos adota-la mesmo assim e mudar o nosso ponto de vista.

A sociedade será prejudicada de outra forma. Seja por algum dano físico, como fome ou mudança climática, a falha em alterar os nossos comportamentos devido a crenças ou ideologias locais, mesmo diante de evidências conflitantes, prejudica a sociedade. Em primeiro lugar, coloca a ideologia acima dos fatos, acima da observação. A sociedade confia a busca pelas leis da natureza aos cientistas e tem o direito de conhecer os frutos dessa busca, independentemente de política ou crença."

In: David Koepsell. SCIENTIFIC INTEGRITY AND RESEARCH ETHICS - An Approach to the Ethos of Science. 2015; chapter 8. ISBN 978-3-319-51276-1 ISBN 978-3-319-51277-8 (eBook) DOI 10.1007/978-3-319-51277-8



quinta-feira, 3 de julho de 2025

Respondendo a um amigo

Um dos autores na área psicanalitica que mais li e com o qual aprendi, ao longo de muitos anos de estudo, foi Carl Gustav Jung. 

Num dia destes ouvi alguém dizer: a realidade da vida é que no adoecimento e no envelhecimento, a Persona que cuidadosamente construímos é desfeita, às vezes aos poucos, em outras de forma imediata, e somos obrigados e encontrar o nosso Self, o nosso Si Mesmo. Acho que é isto mesmo.

Persona é a "máscara" que criamos na vida para poder atuar e nos fazermos respeitar (a mãe, o pai, o médico, o padre, o bom profissional, etc...). É um instrumento precioso para cumprir as experiências no mundo, e para o amadurecimento da personalidade. Por outro lado, o Si Mesmo (Self) é este fundo de nós mesmos, fonte do que a gente realmente é, que segue vivo e atuante dentro de nós, sempre. Ao longo do tempo, o Self vai integrando os nossos opostos, nossos sofrimentos, derrotas e vitórias, nossas boas obras, e as fragilidades e os medos, num processo que lembra a Alquimia. A maioria das pessoas confunde-se com a Persona, e desconhece que o Self,  esta fonte simbolizada nas religiões como Deus, é um componente de cada um de nós, manifestando-se sempre, mas sendo especialmente evidente em situações de doença, perda, na velhice, e no fim-de-vida.

Não precisa ser santo, nem herói, ou gênio. A questão crucial é aprender a viver também com o coração, com a profundidade da alma, e com sensibilidade para perceber, aos poucos, no silêncio, este grande Mistério, que Jung denominou Individuação.


domingo, 8 de junho de 2025

As questões e as palavras recorrentes

 As palavras repetidas são ideias recorrentes

Não só para ti e para mim, mas, sim, a toda gente.


Quando se for o tempo, cansado de ser hoje,

Serei de mim momentos que ainda se escondem,

Serei o que eu sou com mistérios desvendados

E partes que hoje são uns rumos não traçados.


Quando vier o tempo, que há tanto é esperado,

Terei cumprido a vida que agora é horizonte

E assim tudo o que sou será o tempo passado.

Serei, então, memórias fluindo a não sei onde,


Um átomo da História como a tudo corresponde.


segunda-feira, 2 de junho de 2025

O espírito de um perdedor (ou a estupidez da inveja)

 A Rússia é um país perdedor. 

Partiu de uma Idade Média tardia que durou até o início do século XX, a qual foi substituída por um Regime Totalitário, fruto-podre do Idealismo alemão aplicado à Economia. O comunismo soviético, além de causar milhões de mortos, incluindo uma parte do povo ucraniano através da “Grande Fome” (Holodomor), afogou-se no esgoto da sua incapacidade, ao fim pedindo ajuda ao Ocidente.

 
A Rússia jamais teve a competência de viver e conviver em Democracia. Manteve o espírito belicista de um império sem alma, tentando aprisionar países que se haviam liberado do seu jugo. Achou que seria fácil retomar a  Ucrânia e imaginou que em “uma semana conquistaria Kiev”. Tenta ainda hoje, há três anos, conquistá-la, matando covardemente milhares de civis, raptando crianças, assassinando dissidentes. Chantageando o mundo livre com seu arsenal nuclear. A velha URSS, demonstrando que segue sendo o que há de pior…

A Europa, incluindo a Alemanha, tem sua parcela de responsabilidade, por ter acreditado que a ex-união soviética, comandada por um ex-diretor da KGB, poderia ser um confiável parceiro comercial…a resposta é a cara real deste monstro que assalta a casa do vizinho, mente sem qualquer noção de ética, e discursa sorrindo.

E pior, o governo do meu país, Brasil, está envolvido com os criminosos…


terça-feira, 29 de abril de 2025

histórias de uma vida (aos pediatras)

Era uma velha casa de madeira com parreiras no pátio,

Onde o menino cuidava das galinhas, dos cães e dos gatos,

Na rua onde se ouviam português, alemão, russo, italiano,

E os vizinhos, à noitinha, mateavam, confraternizando.


Ali descobriu o que era amar e ser amado, o piá criado

Pelos melhores que havia neste mundo para criá-lo...

E da casa no subúrbio foi às ruas, à escola, à academia,

E do mundo livresco ideal ao voluntariado nas favelas,


A atender as dores das gentes em corredores de hospital, 

As crianças doentes, e os bebés violentados pelo mal.

Dor pela dor alheia, luta pela alheia luta, a usar a Ciência. 


E, na lide, percebeu o Sentido que o viver se nos revela:

Mais que a humilde casa de madeira, muito além dela,

Lar e Obra foram o Mundo e as riquezas da Consciência. 





quinta-feira, 10 de abril de 2025

É primavera

Lambe-se o gato ao sol na varanda,

Fiel cumpridor do seu banho ritual,


E as andorinhas são as peças na banda

A compor com seu canto a voz do arraial.


Na tarde pacata também sou instrumento

Cumprindo o dever que, para mim, é direito:


Ser a voz que ressoa nos versos que invento. 


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Tristes tempos

Nestes estranhos dias, renasce o passado.

Veste-se de novidade ao vender a esperança

E confessa traição ao sonho mais sagrado

Que a Humanidade sonhou desde criança.


Ri-se a escumalha, ralé a antegozar vitória,

Predadores degradados, abutres, devorando 

Num banquete dos necrófagos da História,

A Vida e a Obra humanas, os reféns do bando.


Tristes tempos em que a ascese civilizatória,

Pela ação de milhões de heróis desconhecidos

De Sagrado Valor, com o tempo enriquecida,


É traída por gênios bufos da TV, sumo da escória.

Saibam, porém, tiranos: não seremos corrompidos,

Enquanto em nós houver Vontade e Memória!


domingo, 16 de fevereiro de 2025

Psicosfera do gaúcho

Nestes dias estou só. O gato e eu,

Como deserto, em jejum de gente.

Eu e o gato, sempre a ver em frente

As altas montanhas que pedi a Deus.


Tive, ao princípio, um estranhamento,

O descampado engendra desafios,

Ter-me em quietude trouxe um arrepio:

Como entreter-me só de pensamentos?


Então, eu percebi que existo em silêncio

Na psicosfera que exalo e me alimenta,

Lide, ideias, poesia e consciência.


E assim tem sido sempre, a sós comigo

Ao estar contigo, e ainda, em multidão,

Poeta eu sou, colho o maná da solidão.