quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Puer aeternus II


Aos poucos se escuta
No silêncio do ar
Um piado de ave,
Um frêmito suave,
Uma voz cristalina,
Duas vozes, violino,
Pianissimo, piano,
Forte, fortissimo,
Coral numa nave
A entoar sinfonia
E aos poucos se amplia
Cantando poesia
Que o tempo compôs.
Tudo, então, canta.
O mundo é a garganta.

Quem rege a orquestra
Que cala o silêncio,
Unindo fragmentos
Num círculo imenso,
Que doma o ruído
A torná-lo harmonia?

Quem sonha o sonho
Que a letra relata,
Ou é a sarça ardente
No som que arrebata?

Quem traz a magia
Inocente da arte,
Partindo do Nada
A nada buscando,
Sem nada querer,
Pelo puro prazer
De quem ama,
Ou brinca, ou dança?

Quem seria, senão
A interna criança?



Nenhum comentário:

Postar um comentário