terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Sofisma

 Quando o Dr. Albert Moll, neurologista e psiquiatra precursor da Bioética, em 1902 no seu livro Arzliche Ethik, referindo-se às centenas de experimentos eticamente questionáveis na Alemanha pré-nazista, trouxe à tona que a relação médico-paciente deveria ser um contrato voluntário entre iguais onde o critério fosse a autonomia, o que propunha era que o médico não poderia fazer com o seu paciente o que bem quisesse, necessitando da aprovação autônoma e bem informada do mesmo. Isto é autonomia. 

Porém, um mórbido jogo de palavras, distorção conceitual, transformou este contrato autônomo em alguns países num dever do médico de acabar com a vida de seu paciente caso este último assim o deseje. Contorcionismo pseudo-filosófico, sofisma destruidor da essência da Medicina que é o cuidado do ser humano doente até o fim de sua vida. 

O suicídio é voluntário e cada qual é responsável por uma escolha destas. Se há alguma coragem em dar cabo à própria vida diante das dores que a compõem, que seja então o suicida o responsável único por isto. 

Jamais submeter a Medicina, e a autonomia de um cuidador aos desejos auto-destrutivos de outra pessoa. 

Jamais tornar o médico aquele que empurra pessoas do alto da ponte. O médico deve ser, isto sim, o profissional gabaritado e competente para sedar a dor física e emocional. Tarefa da dimensão que a Medicina merece.


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