domingo, 22 de março de 2015

ecce homo

(lembrando o filme A Liberdade é Azul, de Krzysztof Kieslowski)


Ouço o coração a dizer

 “É tempo!“

E os músculos, e as tensões, os intentos
Já, ou não, vividos,
Os olhos, os ouvidos, sussurrando
A todo momento 

“É o tempo!“

E os sonhos, as idéias, pirações e inspirações,
Os ritmos de fora coincidindo com os do centro,
As memórias e recordações brotando de dentro

“É chegado o tempo!“

E as emoções profundas, as sensações mais fundas,
O sentimento de amor que conheci na vida,
E os pressentimentos de um futuro,

Um futuro a sorrir, dizendo “Olha!

São chegados os tempos!“

Olho, e vejo, a imensa fauna humana
(Que conheço bem na sua competência
de criar miséria e guerra)
Agora a produzir com a Ciência a cura
Da peste e da alma perdida na insciência.

Não mais bicho apenas. Homem!

Vejo um Anjo que nasce do coração do Homem
Cantando a sinfonia com palavras de Paulo,
Em adoração ao que criou as cordas geradoras
Das múltiplas dimensões do espaço-tempo.
Vejo a Mente despertando de um sono
Profundo que era gritos, pesadelo,
E esta mente silenciada enfim descobre
A voz da vida no que pensava ser 
O silêncio do Nada.

Vejo os Estados-nação desfeitos
E os povos, então, irmanados agora, 
Entoando juntos neste cântico, o poema:

“Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino,
discorria como menino,
mas, logo que cheguei a ser homem,
acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos por espelho em enigma,
mas então veremos face a face;
agora conheço em parte,
mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, 
estes três, mas o maior destes é o amor.“ *

Hoje vejo mais claro a face do Homem,
Livre de dogmas e atavismos de credo e raça,
E das ideologias...

O tempo, 

O mundo novo,
É chegado:

Eis o Homem!


* Paulo, Carta aos Coríntios 13 

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